Covid-19
Publicado em
1/7/22

Síndrome pós-COVID: o que é, principais sintomas e como manejar

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Síndrome pós-COVID: o que é, principais sintomas e como manejar

A Síndrome Pós-Covid é formada por diversas manifestações. Assim, considera-se que  sequelas da Covid-19 são muitas. 

Por ser uma doença nova, muitas são as descobertas feitas a todo tempo sobre o comportamento do organismo durante e após a infecção causada pelo SARS-COV-2.

Sendo ela mais incidente em pacientes que manifestaram a COVID-19 grave. No entanto, pode estar presente em indivíduos que manifestaram poucos sintomas, em quadros mais leves ou em quadros assintomáticos.

Portanto, não perca mais um post do EMR para contribuir com a sua formação!

O que é a Síndrome Pós-Covid?

A Síndrome Pós-Covid é definida como uma ampla gama de sintomas que persistem após pelo menos 3 meses do quadro agudo de pacientes infectados pela COVID-19

Além disso, esses sintomas devem impactar a qualidade de vida do indivíduo, e não podem ser justificados por nenhum outro diagnóstico.

A intensidade deles, bem como sua persistência, foi significativamente menos comum em indivíduos vacinados do que em não vacinados

E mais, aqueles que estão vacinados, normalmente, são mais assintomáticos em comparação com os não imunizados.

A vacinação é uma importante medida profilática. Fonte: Prefeitura de Cotia
A vacinação é uma importante medida profilática. Fonte: Prefeitura de Cotia

 Dessa forma, apesar da principal medida de prevenção da Síndrome Pós-Covid-19 ser os cuidados para evitar a infecção pelo vírus, a vacinação é também considerada uma medida profilática.

Tipos de sequelas da Covid-19

Principais sintomas da síndrome Pós-Covid. Fonte: Fleury (https://www.fleury.com.br/medico/artigos-cientificos/sindromepos-covid-19)
Principais sintomas da síndrome Pós-Covid. Fonte: Fleury

De acordo com uma pesquisa publicada na revista Nature, no último dia 9 de agosto de 2021, já podem ser contabilizadas mais de 50 sequelas que fazem parte da Síndrome Pós-Covid-19. Outras pesquisas já mostram que elas são mais de 250!

Os sintomas mais comumente reportados após a doença são a fadiga (13% a 87%), a dispneia (10% a 71%), dores torácicas (12% a 44%) e a tosse (13% a 34%). 

E mais, pacientes recuperando-se do processo infeccioso também podem apresentar sintomas psicológicos, como ansiedade, depressão e estresse pós-traumático. 

E ainda, sintomas cognitivos, como dificuldades de memorização e concentração. Eles são comuns a pacientes recuperando-se da síndrome pós-terapia intensiva

Essa síndrome é caracterizada por incapacidades funcionais, cognitivas e psicossociais adquiridas ou agravadas após cuidados na unidade de terapia intensiva.

Assim, entre aqueles que sobreviveram após os cuidados na terapia intensiva, ¾ apresentam a síndrome pós-terapia intensiva. 

As manifestações clínicas mais reportadas por esses pacientes são a astenia (39%), rigidez ou dores articulares (26%), disfunções mentais ou cognitivas (26%) e mialgias (21%).

Manifestações pulmonares

Uma pesquisa estadunidense com 1.250 pacientes que haviam recebido alta hospitalar há 60 dias trouxe relatos de sequelas componentes da Síndrome Pós-Covid respiratórias, dermatológicas, psiquiátricas e cardiológicas.

Em relação às sequelas respiratórias a população de estudo falou sobre a persistência da dispneia quando faziam algum esforço.

Sendo ela acompanhada ou não de hipoxemia crônica com redução das capacidades pulmonares e de difusão. Apresentação semelhante à doença pulmonar restritiva.

Os pesquisadores alertam que os achados de imagem podem perdurar por semanas depois da alta e precisam ser acompanhados de perto

Para isso, é preciso avaliar os indivíduos através da oximetria de pulso e da tomografia de tórax.

E mais, também precisam ser avaliados funcionalmente, com o Peak Flow Test (teste do pico de fluxo expiratório) em conjunto com o teste de caminhada de 6 minutos.

A perda da função respiratória se dá pela perda muscular ao longo da fase aguda, por isso é preciso a fisioterapia respiratória e motora. Muitos relatam dificuldade para respirar até mesmo ao subir uma escada.

A fibrose pulmonar, enrijecimento progressivo do pulmão, também é um outro efeito da Síndrome Pós-Covid bem característico.

Ela é capaz de ocasionar falta de ar e má circulação sanguínea, podendo ser tratada com algumas medicações, mas ainda assim, o pulmão não se recupera totalmente.

Manifestações cardiológicas

A pesquisa dos Estados Unidos também apontou os distúrbios cardiológicos como um dos possíveis componentes da Síndrome Pós-Covid. Sendo assim, a dispneia e a dor torácica foram os sintomas mais relatados.

Pesquisas já comprovam que existe um aumento progressivo da demanda metabólica na Covid-19 pós-aguda

Além da predisposição para arritmias, devido a presença de cicatrizes no miocárdio (fibrose miocárdica).

Nesses casos, os cientistas recomendam a avaliação constante através de ecocardiografia, eletrocardiografia e de avaliações seriadas por um cardiologista.

Como o SARS-COV-2 afeta a integridade estrutural do miocárdio, pericárdio e sistema de condução, outras sequelas persistentes também podem ser: taquicardia e disfunção autonômica.

Manifestações dermatológicas

A queda de cabelo é uma das muitas sequelas ocasionadas pela Síndrome Pós-Covid. Foto: Reprodução/Unplash
A queda de cabelo é uma das muitas sequelas ocasionadas pela Síndrome Pós-Covid. Foto: Reprodução/Unplash

Como sequela dermatológica mais comum da Síndrome Pós-Covid foi apontada pelo trabalho estadunidense citado anteriormente a significativa perda de cabelo. Sendo apontada por 20% da população de estudo.

Também foram relatadas alterações cutâneas, como a presença de reações urticariformes.

Além disso, de maneira geral, também são relatados pelos pacientes: rash cutâneo, coceira e inchaço na pele, formação de bolhas e alopecia.

Assim, conforme o estudo, pacientes com diagnóstico de ordem dermatológica devem ser supervisionados por um Dermatologista e precisam de avaliação nutricional, para saber se há alguma carência vitamínica ou deficiência de oligoelementos.

A sintomatologia apresentada após a eliminação do coronavírus é bem diversa, mas a orientação médica após a alta pode ajudar na escolha da terapêutica adequada.

Manifestações psiquiátricas

Os transtornos psiquiátricos falam de condições que afetam diretamente o humor, o raciocínio e o comportamento.

Isso porque, o coronavírus causa lesões indiretas ao cérebro, já que tem o sistema nervoso como alvo principal.

Desse modo, esses transtornos podem desencadear sequelas neurológicas ou vice-versa, mas isso não significa dizer, necessariamente, que estão interligados.

Nesse mesmo estudo estadunidense, 40% dos pacientes relataram ter desenvolvido depressão e transtorno de ansiedade após a alta da doença.

Por isso, os cuidados devem começar já no internamento, com a presença de um familiar importante ou até mesmo com a presença de relógios nos leitos. Depois da alta, a assistência neuropsiquiátrica é essencial.

Outras pesquisas mostram que indivíduos com a Síndrome Pós-Covid também podem ser acometidos por outros transtornos psiquiátricos como fobias, síndrome do pânico e sintomas obsessivos compulsivos.

E ainda, transtorno de estresse pós-traumático - sendo relatado por alguns por causa do tempo de isolamento – e transtorno bipolar.

Manifestações neurológicas

Cefaleia, tontura e dores no corpo são típicas das manifestações neurológicas da Síndrome Pós-Covid. Foto: Reprodução/Unplash
Cefaleia, tontura e dores no corpo são típicas das manifestações neurológicas da Síndrome Pós-Covid. Foto: Reprodução/Unplash

Dentre as principais sequelas cognitivas que fazem parte da Síndrome Pós-Covid estão os lapsos de memória e linguagem, dificuldade de manter a atenção e de executar atividades cotidianas, problemas de compreensão e déficits no raciocínio.

Também são relatadas dificuldades para lembrar das coisas, mudanças nas emoções e no comportamento, além da confusão mental.

Isso tudo de acordo com um estudo feito pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (InCor) da Universidade de São Paulo.

Ele contou com a participação de 430 indivíduos e apontou que 80% dos deles foram acometidos por essas sequelas da Covid.

O trabalho também mostra que uma outra consequência foi a diminuição da capacidade visuoperceptiva.  Sendo assim, houve muitos relatos de queda, por causa da perda da coordenação motora

Utilizando a ressonância magnética funcional, os pesquisadores descobriram que isso acontece porque o coronavírus afeta a função executiva, responsável pelo planejamento do dia e pela busca por resoluções dos problemas.

O estudo concluiu que esses problemas acontecem devido a dessaturação, causada pelo comprometimento pulmonar.

Para solucionar estas disfunções devem ser utilizados exercícios cognitivos específicos, pois irão exercitar o cérebro, estimulando a atividade cerebral.

Um outro estudo publicado pela revista científica Annals of Clinical and Translational Neurology, em março de 2021, apontou quais os sintomas neurológicos mais comuns entre os indivíduos que sofrem com a Covid persistente.

Além da disfunção cognitiva e da visão turva, o artigo aponta outros sintomas são: cefaleia, tontura, zumbido nos ouvidos, perda do olfato (anosmia), perda do paladar (ageusia) e dormência ou formigamento.

E mais, dor muscular e dores no corpo também são sequelas neurológicas que fazem parte da Síndrome Pós-Covid.

Outros estudos mostram que o vírus causa lesões diretas ao córtex cerebral, e por isso pode ser associado a casos de demência.

Manifestações hematológicas

Alguns pacientes também apresentam consequências hematológicas, mas ainda não é possível determinar quanto tempo dura o estado hiperinflamatório e de hipercoagulabilidade.

No entanto, alguns estudos mostram que cerca de 5% dos pacientes apresentam episódios tromboembólicos, com até 3 meses de evolução.

Isso porque a infecção causada pelo coronavírus interfere na coagulação, antes e depois da fase aguda. Sendo assim, essa interferência pode causar um pequeno entupimento das artérias, ou pode até mesmo causar um AVC

Desse modo, pacientes com histórico prévio de doença trombótica, portadores de d-dímero persistentemente elevado e com doença oncológica de base precisam de uma maior atenção.

Agravamento de doenças preexistentes

Alguns indivíduos que já tinham alguma doença preexistente podem ter os seus sintomas agravados.

Dessa maneira, pacientes que já tinham diabetes, por exemplo, após eliminarem o vírus tendem a passar por períodos de descontrole da glicemia, sendo difícil também tratar.

Além disso, algumas pessoas chegam até a desenvolver o diabetes como consequência da infecção pelo patógeno.

Para mais, o tempo de recuperação dos pacientes com a Síndrome Pós-Covid é maior naqueles que necessitaram de hospitalização. 

Assim, ela acomete mais frequentemente pacientes mais velhos, com comorbidades pré-existentes e outras complicações médicas, como infecções bacterianas e tromboembolismo. 

Da mesma forma, pacientes com a forma mais leve da doença apresentaram tempo de recuperação menor para os sintomas da Síndrome Pós-Covid.

Nesses, a fadiga é o sintoma mais comum, podendo ser intensa e durar por três meses ou mais. 

na pediatria, a síndrome parece ser menos comum. Nesse público, são mais frequentes os sintomas de astenia e dificuldades de concentração.

Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica pós-covid

A Síndrome é incomum no público pediátrico, mas quando ocorre pode causar miocardite e rash cutâneo. Fonte: Drauzio Varella (https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/sindrome-inflamatoria-multissistemica-pediatrica/)
A Síndrome é incomum no público pediátrico, mas quando ocorre pode causar miocardite e rash cutâneo. Fonte: Drauzio Varella

A síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIMP) é incomum nesses pacientes. A maioria das crianças apresenta a forma assintomática, leve e moderada da doença, com resolução do quadro entre uma e duas semanas.

Entretanto, quando presente, os sintomas podem incluir febre, hipotensão e sintomas gastrointestinais

E ainda, o rash cutâneo, miocardite, e achados laboratoriais compatíveis com quadros inflamatórios. 

Na pediatria, sintomas respiratórios podem não estar presentes, ou não serem tão evidentes.

A maioria das crianças acometidas pela síndrome inflamatória multissistêmica têm entre 6 e 12 anos

Para mais, são fatores de risco para a forma grave da doença a predisposição genética, doenças neurológicas e metabólicas. 

E mais, cardiopatias congênitas, diabetes mellitus e obesidade. Bem como doenças pulmonares crônicas, imunossupressão e idade < 1 ano.

Diagnóstico

Para diagnosticar corretamente o paciente com Síndrome Pós-Covid, é necessária história clínica completa do paciente. 

Assim, questiona-se a duração e severidade dos sintomas, bem como a linha do tempo da doença, tipos e severidade de complicações.

E ainda, se houve lesão renal ou necessidade de oxigenoterapia. Questiona-se também se foram realizados testes para diagnóstico de COVID-19 e qual o tratamento utilizado.

Dessa forma, para a maioria dos indivíduos com a Síndrome Pós-Covid, não é necessário realizar nenhum teste laboratorial.

Entretanto, para aqueles com sintomas mais graves da doença, solicita-se hemograma completo, eletrólitos, uréia e creatinina sérica, bem como enzimas hepáticas e albumina.

Além disso, para pacientes com complicações como insuficiência cardíaca, pode-se pedir o peptídeo natriurético cerebral (BNP)

O D-dímero também pode ser solicitado se houver persistência inexplicada de dispneia e suspeita de doenças trombóticas. 

Últimas informações sobre o tratamento

Não existe um padrão de conduta para tratar, para reabilitar os pacientes que sofrem com os efeitos da Covid longa. Eles são tratados a partir dos sintomas que manifestam, pelo especialista da área.

Os profissionais devem ter um olhar biopsicossocial, devem olhar para os pacientes como um todo, pois é rara a manifestação dos efeitos pós-Covid isoladamente.

Isso porque precisam ser acompanhadas por um bom tempo, precisam de um atendimento multidisciplinar e individualizado, por um tempo indeterminado.

Esses cuidados devem envolver, dentre outras áreas, a Fisioterapia, Psicologia, Nutrição, Neurologia e Pneumologia, já que as sequelas da Covid podem ser observadas em boa parte do organismo humano.

Listamos aqui tratamentos específicos para alguns sintomas, recomendados pela plataforma UpToDate!

Tratamento da dispneia

O tratamento deve ser feito com base na queixa atual do paciente, que são comumente multifatoriais. 

Dessa forma, recomenda-se para todos a otimização da farmacoterapia para qualquer causa cardíaca ou pulmonar identificada.

Para pacientes com sintomas leves, em que não há terapia com oxigênio não é necessária, ou quando não há uma alteração cardíaca que justifique o sintoma, recomenda-se exercícios de respiração.

Já para pacientes com sintomas moderados a severos de dispneia, com saturação ≤ 92%, ou que necessitem de oxigenioterapia, recomenda-se avaliação pelo pneumologista.

Por fim, em alguns casos, a corticoterapia pode ser necessária para o paciente recuperando-se da pneumonia.

Tratamento para tosse

O manejo da tosse no paciente com Síndrome Pós-Covid é feito para diminuir a sua exacerbação, assim como para evitar o surgimento de outros quadros subjacentes à tosse, como a asma e o refluxo gastrointestinal.

Nesses casos, são comumente utilizados supressores da tosse, como o benzonatato e a guaifenesina.

Tratamento para desconforto/dor torácica

Essa condição normalmente não necessita de intervenção. Entretanto, o desconforto ou a dor prejudicam a qualidade de vida, e o indivíduo pode se beneficiar do tratamento.

Assim, indica-se o uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), na menor dose possível pelo período mais curto possível, como o ibuprofeno, na dose 400 a 600 mg a cada 8 horas, por 1 a 2 semanas.

Conclusão

Diante disso, podemos ver que a infecção causada pelo coronavírus não só é bastante complexa na sua fase aguda, como também na fase pós-aguda e crônica.

As sequelas pós-Covid podem chegar às centenas e raramente se manifestam sozinhas.

Por ela ser uma doença nova, as causas para os sintomas persistentes ainda não são totalmente conhecidas, e, talvez, nem cheguem a ser.

Mesmo assim, saber as manifestações da Síndrome Pós-Covid é muito importante para direcionar o paciente para uma conduta terapêutica adequada às suas necessidades, com o auxílio de uma equipe multidisciplinar.   

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