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8/4/22

Entenda o que é Cardiopatia Congênita, os tipos, causas e possíveis tratamentos

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Entenda o que é Cardiopatia Congênita, os tipos, causas e possíveis tratamentos

De acordo com a OMS, estima-se que cerca de 130 milhões de crianças no mundo tenham algum tipo de cardiopatia congênita. Portanto, precisamos aprender a identificá-las e tratá-las para melhorar o prognóstico e o estilo de vida desses pacientes.

O que é cardiopatia congênita? 

Cardiopatia congênita é um termo geral usado para designar as anormalidades do coração ou dos grandes vasos, que estão presentes no nascimento do bebê

Tipos de cardiopatia congênita

Cardiopatia congênita cianótica 

A cianose ocorre em algumas anormalidades como resultado de um shunt direita -> esquerda. Isso ocorre porque o sangue pouco oxigenado, que estava ao lado direito do coração, acaba fluindo para o lado esquerdo, se misturando com o sangue bem oxigenado. 

Isso implica numa redução da saturação de O2 no sangue, que irá seguir para o suprimento arterial sistêmico. Em exemplo bastante conhecido é a Tetralogia de Fallot, que recebe esse nome devido a 4 anormalidades (comunicação interventricular - CIV, hipertrofia de VD, estenose da valva pulmonar e dextroposição da aorta). 

A imagem demonstra as 4 alterações clássicas da tetralogia de fallot: comunicação interventricular - CIV, hipertrofia de VD, estenose da valva pulmonar e dextroposição da aorta.Fonte: Patologia Robbins & Cotran
A imagem demonstra as 4 alterações clássicas da tetralogia de fallot. Fonte: Patologia Robbins & Cotran

Cardiopatia congênita acianótica 

Em geral, disfunções com shunt esquerda -> direita, que aumentam o fluxo sanguíneo pulmonar, mas não causam cianose. A comunicação interventricular (CIV) e a comunicação interatrial (CIA) se iniciam com shunts esquerda -> direita, pois a pressão sanguínea é maior no ventrículo esquerdo. 

Porém, a longo prazo, com a musculatura do VD se fortalecendo, a resistência vascular pulmonar atinge níveis sistêmicos, podendo ultrapassar a pressão sistêmica e inverter o shunt, introduzindo sangue pouco oxigenado à circulação sistêmica, condição essa conhecida como síndrome de Eisenmenger

Principais sinais e sintomas da cardiopatia congênita

As apresentações clínicas da anormalidade são múltiplas, e dependem da condição e da gravidade do quadro. Dessa maneira, trago aqui os sinais e sintomas das principais cardiopatias congênitas

Tetralogia de Fallot

Sua apresentação clínica depende principalmente da gravidade da estenose subpulmonar, uma vez que isso determina a direção do fluxo sanguíneo.

Caso seja uma estenose leve, haverá mínima passagem de sangue VD -> VE, até incapaz de causar cianose. Quanto maior essa obstrução, maior a tendência de criar cianoses acentuadas. 

Comunicação interatrial

Pacientes com CIA costumam ser assintomáticos até a idade adulta (em média, 30 anos). Devido ao fluxo sanguíneo excessivo através da valva pulmonar e/ou da comunicação interatrial, podemos auscultar sopros durante o exame cardiológico. 

Comunicação interventricular

O aparecimento de sintomas depende do tamanho do defeito do septo e da magnitude do shunt. Defeitos moderados a graves podem apresentar sinais e sintomas desde a infância, enquanto defeitos mais leves podem ter quadro clínico apenas na fase adulta.  Observamos também presença de sopros. 

Coarctação de aorta

A maioria das crianças é assintomática e passa a vida toda com a doença. Sopros são encontrados durante toda a sístole, podendo ser acompanhados de frêmitos.

Como a localização mais comum da coarctação é após a aorta emitir a artéria subclávia esquerda, muitos pacientes desenvolvem hipertensão de extremidades superiores acompanhada de hipotensão de extremidades inferiores.

O que causa a cardiopatia congênita? 

A maioria das alterações cardíacas ocorre quando o bebê ainda está no útero, mas ainda não se sabe ao certo o que as causa. 

Fatores de risco 

Mesmo ainda não tendo uma causa específica conhecida, a cardiopatia congênita possui os seguintes fatores de risco: 

  • Doenças na gestante, a exemplo do diabetes mellitus;
  • Histórico da doença em gestações anteriores;
  • Uso de drogas ilícitas: maconha, crack, cocaína;
  • Herança genética.

Como diagnosticar?

Na fase intrauterina

Podemos encontrar anormalidades no coração do feto através do exame de ultrassom morfológico, realizado de rotina no primeiro e no segundo trimestres. Caso haja suspeita, devemos progredir a investigação com um ecocardiograma fetal

No nascimento ou infância

Dependendo da gravidade dessa condição, o bebê pode nascer cianótico e/ou com falta de ar. O neonato com dificuldade respiratória costuma apresentar baixo escore na escala de Apgar (ausência de estímulo, tônus muscular ausente, choro ausente). Isso requer continuação da investigação com ecocardiograma

Na fase adulta

Boa parte das disfunções serão descobertas apenas na fase adulta, devido à ausência de sintomas precocemente. Isso normalmente se dá com a investigação através de exames de imagem, após o achado de sopros e frêmitos

Condutas de tratamento para os diferentes tipos de cardiopatias congênitas

O tratamento vai depender de qual anormalidade no coração o paciente possui. Trago aqui os métodos terapêuticos adotados diante das principais.

Tetralogia de Fallot

É realizado o tratamento cirúrgico. Sem tratamento cirúrgico, os pacientes podem sobreviver até a vida adulta, com queda substancial de sua oxigenação tecidual corporal e de funções vitais.

Comunicação interatrial e interventricular

Caso seja uma abertura mínima, ela tende a se fechar espontaneamente, sem ser necessário realizar um tratamento específico.

Caso esse fechamento não seja espontâneo, dispomos das intervenções cirúrgicas para fechar a comunicação. A cirurgia proporciona baixos índices de mortalidade e sobrevida em longo prazo semelhante à população normal. 

Coarctação de aorta

Dispomos de cirurgia para aumentar o lúmen da aorta e desobstruí-la. Caso o paciente viva com a doença, outra opção são as medicações anti-hipertensivas, seguindo protocolo adequado para selecionar a classe medicamentosa mais apropriada para cada caso. 

Dúvidas frequentes

Cardiopatia congênita tem cura? 

Sim. Quase todas conseguem ser resolvidas através de cirurgias, e essas cirurgias são disponibilizadas pelo SUS. 

Quanto tempo vive um cardiopata congênito? 

Isso depende da anormalidade e de sua gravidade, bem como se foram adotados métodos terapêuticos. CIV e CIA costumam cursar com benignidade na maioria dos casos.

Pacientes com Tetralogia de Fallot, devido ao maior número de alterações da estrutura cardíaca, dificilmente sobreviverão até os 40 anos sem passar por nenhum procedimento cirúrgico. 

Qual a cardiopatia congênita mais grave? 

As cianóticas são as mais graves, pois elas podem reduzir a saturação de O2 do sangue do indivíduo. 

Conclusão

Realizar as consultas pré-natais preconizadas pelo Ministério da Saúde é de fundamental importância, incluindo a ultrassonografia morfológica, pois esse exame pode identificar anormalidades no coração e nos grandes vasos do bebê.

Isso possibilita o diagnóstico adequado e precoce, e a tomada de intervenções terapêuticas, a fim de preservar a vida do bebê. 

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