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Publicado em
4/2/23

O Que É Sofrimento Fetal, Como Diagnosticar e a Conduta Recomendada

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O Que É Sofrimento Fetal, Como Diagnosticar e a Conduta Recomendada

A gravidez é um momento ímpar na vida de uma mulher. Mas, também, significa ter mais cuidados com a saúde, já que para o bem-estar da mãe e do bebê é preciso ter algumas restrições

Um dos maiores motivos de insegurança e ansiedade de quem está esperando um bebê é a possibilidade do sofrimento fetal – condição que pode acabar prejudicando tanto o feto quanto a gestante. Essa é mais uma das razões pelas quais é tão importante falar mais sobre esse tema. Mas antes de chegar em como identificar essa condição, precisamos saber o que é e o que caracteriza essa situação.

O Que É Sofrimento Fetal?

O Que É Sofrimento Fetal

É caracterizado pela falta de oxigênio para o feto. É a situação em que o bebê não recebe a quantidade suficiente de oxigênio no útero durante a gestação ou parto, o que pode interferir diretamente no seu crescimento e desenvolvimento
Falando mais tecnicamente, a disfunção é caracterizada pelo comprometimento do aporte sanguíneo para o feto, levando à hipóxia e hipercapnia, até uma progressão para o estado de cetoacidose diabética. Ela pode ser dividida em dois tipos: Sofrimento Fetal Agudo e Sofrimento Fetal Crônico.

O Sofrimento Fetal Agudo é aquele que acontece no nascimento. Durante o trabalho de parto vaginal, as contrações uterinas causam uma diminuição transitória da vascularização pela placenta e cordão umbilical. Essa redução acaba após o fim de cada contração por mecanismos fisiológicos compensatórios que permitem a recuperação fetal. Caso esses mecanismos não ajam como deveriam, estabelece-se a hipóxia, que se não for controlada, causa graves sequelas nos bebês que venham a sobreviver.

Já o Sofrimento Fetal Crônico é uma condição que ocorre gradativamente durante a gestação, caracterizada pela mesma hipóxia e hipercapnia do quadro Agudo, porém em menor intensidade e em maior espaço de tempo. O mecanismo fisiológico é variável, podendo ser decorrente de problemas placentários, genéticos, do cordão umbilical ou ser consequência de alguma doença materna (Diabetes, Pré-eclampsia). Além do problema no aporte de O2 e excreção de CO2, a insuficiência de nutrientes também pode estar presente.

Qual a Etiologia do Sofrimento Fetal?

Por possuírem cursos e mecanismos de instalação diferentes, os dois tipos dessa condição também irão ter etiologias bem distintas. Vamos compreendê-las:

Insuficiência Uteroplacentária Aguda

Hipersistolia Uterina

Em cada contração o valor da pressão exercida pelo útero é muito maior do que a pressão esperada e, por consequência, a pressão materna. Isso impossibilita um gradiente pressórico que viabilize o afluxo de sangue da mãe para o feto pela placenta.

Taquissistolia Uterina 

A frequência aumentada entre as contrações reduz o tempo de intervalo entre elas. Esse tempo diminuído reduz consigo a perfusão fetal, visto que é nele que o sangue tem melhores condições de chegar até o bebê.

Hipertonia Uterina

Essa pressão contínua acaba por comprimir os vasos, que são capazes de levar menos sangue à placenta.

Hipotensão Materna

A redução da pressão sistólica materna diminui a força que esse sangue possui de vencer a resistência vascular e passar do sistema materno para a placenta e, consequentemente, o para o feto. Porém, há alguns casos em que a hipotensão da mulher acontece por vasodilatação arteriolar, em que os vasos uteroplacentários também diminuem sua resistência e permitem a passagem do sangue, resultando em um mecanismo compensatório que não causa prejuízos ao feto.

Insuficiência Fetoplacentária Aguda

Compressão umbilical 

A chegada de sangue e oxigênio é dependente de um cordão umbilical pérvio. Caso esse sofra qualquer distorção, suas artérias e/ou veia poderão ser comprimidas e, consequentemente, o fluxo sanguíneo interrompido. Essas distorções podem ser do tipo: circulares, prolapsos, procidências, nós e compressão por oligodrâmnio.

Vasos do Cordão Umbilical: duas artérias e uma veia. Foto: Reprodução/ Shutterstock
Vasos do Cordão Umbilical: duas artérias e uma veia. Foto: Reprodução/Shutterstock

Quais as Causas do Sofrimento Fetal?

Quais as Causas do Sofrimento Fetal

A quantidade de oxigênio que chega até ao feto pode estar diminuída devido a algumas situações, sendo as principais:

Além disso, o sofrimento fetal pode acontecer em mulheres que apresentam alterações no útero que podem interferir no desenvolvimento do bebê no período gestacional. 

Quais os Sinais de Sofrimento Fetal?

Esse tipo de acometimento pode ter vários sinais. Vamos listar os principais deles: 

Diminuição dos Movimentos Fetais

Os movimentos do bebê no útero são um importante indicador de sua saúde e, por isso, uma diminuição na frequência ou intensidade dos movimentos pode ser um sinal de falta de oxigênio. Dessa forma, é importante acompanhar atenciosamente a movimentação do bebê e em caso de aumento ou diminuição da sua frequência de movimentos procurar sentidamente um obstetra. 

Sangramento Vaginal

Pequenos sangramentos ao longo da gestação  em quadro estável são considerados  normais. No entanto, se existir um sangramento abundante pode significar que existe alguma alteração na placenta e, por isso, pode acontecer uma diminuição dos níveis de oxigênio para o bebê. Nestes casos, deve-se ir imediatamente ao hospital porque o sangramento também pode ser sinal de um aborto, especialmente se acontecer nas primeiras 25 semanas.

Presença de Mecônio na Bolsa de Água

A presença de mecônio na água quando a bolsa estoura é um sinal comum de sofrimento fetal durante o trabalho de parto. Geralmente, o líquido amniótico é transparente com uma coloração amarelada ou rosada, mas se estiver marrom ou esverdeado, pode indicar a liberação de mecônio. Isso tende a ocorrer principalmente em fetos à termo e pós-termo.  

Caso presente em condições de alterações patológicas de FCF (Frequência Cardíaca Fetal)  e apresentação cefálica já é determinante de Sofrimento Fetal. Atente-se sempre à Síndrome de Aspiração do Mecônio (SAM), que causa complicações respiratórias em neonatos. 

Cãibras Abdominais Fortes

Embora sejam um sintoma muito frequente durante a gravidez, principalmente porque o útero está alterando e os músculos se adaptando, quando surge uma câimbra muito intensa que provoca também dor nas costas, isso pode indicar a existência de algum problema, por isso, o bebê pode estar recebendo menos oxigênio.

Alteração do Crescimento do Feto 

É importante avaliar nos exames solicitados as alterações de crescimento do feto. Existem padrões de crescimento que quando elevados podem ser uma característica da condição.

Ausculta

É o principal parâmetro a ser avaliado durante o parto. Em mulheres com gestação de risco habitual, deve ser feita a cada 30 min. na fase de dilatação e a cada 15 min. no período expulsivo. Já nas gestações de alto risco, a ausculta deve ser feita a cada 15 min. na fase de dilatação e a cada 5 min. no período expulsivo. Os sinais de alarme serão Bradicardia Persistente (FCF < 110 bpm durante no mínimo 10 min.) e Taquicardia (FCF > 160 bpm durante no mínimo 10 min.).

Como Fazer o Diagnóstico Antecipado de Sofrimento Fetal?

A realização de exames e etapas como o pré-natal são indispensáveis durante a gestação, já que esses irão indicar a saúde do bebê e da mãe até o parto. A seguir, veja como funciona o diagnóstico desta privação de oxigênio para o feto.

Cardiotocografia 

A cardiotocografia ou CTG, tem por finalidade fazer um registro da atividade cardíaca fetal. O registro é feito em papel, na forma de traçado, e também observa as contrações uterinas e os movimentos fetais.

O exame é responsável pela demonstração do estado acidobásico fetal. As alterações da FCF podem ser descritas entre basais, periódicas e episódicas. Quando completa, a CTG deverá possuir parâmetros de contrações uterinas, FCF basal e sua variabilidade, acelerações e desacelerações.

Exames realizados no primeiro trimestre 

Devem ser realizados entre a 7ª e 8ª semana de gestação para determinar a idade gestacional, se ele é tópica (acontece naturalmente no útero) ou ectópica (quando o embrião se implanta em uma das tubas uterinas), detectar os batimentos cardíacos do embrião e a medida dele.  

Morfológico do primeiro trimestre 

É o mais importante para o rastreamento de alterações cromossômicas (problemas genéticos). Deve ser realizado entre a 11ª e 14ª semanas de gestação e resulta nos estudos da anatomia fetal, a medida da translucência nucal e a avaliação da presença do osso nasal.  

Morfológico do segundo trimestre 

Deve ser realizado entre a 20ª e 24ª semana e é a melhor fase para visualizar as alterações anatômicas, confirmar e acompanhar a evolução das malformações detectadas pelo exame realizado no primeiro trimestre

Avaliação do crescimento fetal 

É uma ultrassonografia realizada entre a 28ª e 32ª semana de gravidez e tem como objetivo avaliar o crescimento fetal, posição fetal, líquido amniótico, as condições da placenta e do cordão umbilical. É um indicativo importante, pois lembre-se que no tipo crônico a escassez não é apenas de oxigênio, mas também de nutrientes para o feto.

Qual a Conduta Mais Recomendada Para Sofrimento Fetal?

Se existir suspeita da disfunção, devido à presença de um ou mais sinais, é importante ir imediatamente ao pronto-socorro ou ao obstetra para avaliação de qual o problema que pode estar causando a diminuição de oxigênio e iniciar o tratamento adequado.

Na maioria dos casos a gestante fica internada para ficar sob cuidados médicos, enquanto são realizados processos para acompanhar a saúde dela e do bebê.

Conclusão 

O diagnóstico do sofrimento fetal pode ser feito durante o pré-natal, com exames como a ultrassonografia, que avalia o bem-estar fetal, isso deve ser feito desde os primeiros meses de gravidez.

Ao flagrar o quadro precocemente, o feto pode se recuperar e evoluir sem sequelas. Porém, se a falta de oxigênio e nutrientes for prolongada, isso pode levar a problemas logo após o nascimento e também ao longo da vida adulta. Acompanhamento médico, atenção aos sinais durante a gestação e autocuidado são determinantes. 

Leia Mais:

FONTES:

  • Montenegro, Carlos Antonio, B. e Jorge de Rezende Filho. Rezende Obstetrícia Fundamental, 14ª edição. Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2017.
  • Martins-Costa, Sérgio. Rotinas em Obstetrícia. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo A, [Inserir ano de publicação].