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Publicado em
6/4/22

Vulvovaginites: o que é, sintomas, causas e tratamentos

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Vulvovaginites: o que é, sintomas, causas e tratamentos

As vulvovaginites são afecções bastante comuns na prática médica, com um grande impacto na vida das mulheres acometidas. 

Nesse post, iremos ensinar o que são as vulvovaginites, quais são as principais, suas causas e tratamentos!

O que é vulvovaginite?

É uma processo inflamatório na região da vulva e vagina da mulher, muito caracterizada por um corrimento anormal.

São frequentes, desconfortáveis, com repercussões psicológicas e na sexualidade. Além de possíveis complicações e sequelas e facilitadoras de transmissão do HIV. Podendo ser de etiologia infecciosa ou não.

O que causa? Conheça os principais motivos

A microbiota vaginal é um ecossistema dinâmico, estrogênio-dependente, onde há predomínio das bactérias lactobacillus. E mais, o pH normal é o  ácido, em torno de 4,5.

Porém, essa microbiota pode sofrer alterações de acordo com as condições, como a gravidez, a fase do ciclo menstrual, o uso de anticoncepcionais, a imunossupressão e menopausa.

Essas alterações podem ser patológicas, que é o que chamamos de vulvovaginites.

Menopausa

Devido a dependência da microbiota vaginal de estrogênio, mulheres menopausadas têm maior risco de desenvolver a doença.

Isso se deve ao fato que o pH vaginal se eleva, diminuindo a presença dos lactobacillus. 

Uso de anticoncepcionais

Numerosos estudos mostraram aumento no risco da infecção ocorrer em usuárias de contraceptivos orais combinados contendo doses de etinilestradiol acima de 35 mcg.

O estrogênio possui proteína de ligação (EBP – estrogen binding protein) em agentes fúngicos, particularmente na candida albicans, podendo ser responsável pelo ambiente favorável ao crescimento do fungo.

Gravidez

Se deve também às mudanças hormonais e de flora vaginal, tornando o ambiente mais suscetível aos agentes infecciosos.

As infecções se tornam bastante perigosas nesse grupo de mulheres devido ao aumento no risco de complicações, como parto prematuro, amniorrexe, entre outras.

Quais são os tipos de vulvovaginites ?

Vaginose Bacteriana

A vaginose bacteriana é a mais frequente. Sendo a Gardnerella vaginallis a espécie de agente etiológico mais comum.

É causada por um desequilíbrio entre as bactérias anaeróbias e aeróbias e facultativas.

Tem como fatores de risco a raça negra, uso de duchas, tabagismo, menstruação prolongada, estresse e comportamentos sexuais de risco.

Se caracteriza por um corrimento vaginal homogêneo e esbranquiçado ou amarelado, com odor fétido.

Pode ser diagnosticada por meio dos critérios de Amstel.

Critérios diagnósticos de Amstel para vulvovaginites
1. Corrimento homogêneo e fino
2. Teste de aminas (teste do KOH 10%) positivo
3. Bacilos supracitoplasmáticos sugestivos de Gardnerella vaginalis/Mobiluncus sp na microscopia
4. pH vaginal >4,5
Ocorrendo três de quatro critérios observados, pode-se estabalecer o diagnóstico da infecção em 90% das mulheres acometidas. Fonte: Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia

Candidíase 

A candidíase é um tipo de infecção bastante comum também. Sendo assim, 75% das mulheres em idade reprodutiva terão pelo menos 1 episódio de candidíase na vida.

É causada pelo fungo Candida, principalmente a albicans.

O gênero Candida são leveduras saprófitas, que podem ser encontradas na microbiota vaginal. Porém, podem passar a ser patogênicas em algumas situações.

Essas situações de risco são: imunossupressão, diabetes mellitus descompensada, tabagismo, umidade e falta de higiene.

Além do uso de sabonetes acidificante e/ou bactericida, gravidez e uso de anticoncepcionais.

A colonização parece ser hormônio-dependente, por isso é incomum na infância e pós-menopausa.

O quadro clínico é prurido, corrimento branco aderente e dor (disúria e dispareunia). No exame especular pode ser visto fissuras e hiperemia.

O pH vaginal  é menor que 4,5 e o teste das aminas é negativo.Pode ser classificada em complicada e não complicada

A candidíase complicada é recorrente e severa, sendo definida como 4 ou mais episódios ao ano. Costuma afetar mulheres com fatores de risco, como as imunocomprometidas, gestantes, diabetes descompensada, entre outros.

A não complicada é aquela esporádica, sem relação com imunossupressão e com boa resposta ao tratamento.

Exame especular para diagnóstico de candidíase. Fonte: Tratado de Ginecologia FEBRASGO
Exame especular para diagnóstico de candidíase. Fonte: Tratado de Ginecologia FEBRASGO

Tricomoníase

A tricomoníase é, além de uma vulvovaginite, uma infecção sexualmente transmissível (IST). Sendo a IST não viral mais comum do mundo.

Costuma ser assintomática em 1/3 das mulheres infectadas. A porcentagem de homens infectados assintomáticos é maior ainda, o que contribui para que eles sejam vetores.

O agente etiológico é a Trichomonas vaginalis, um parasita capaz de viver no meio vaginal ácido, hostil, durante longos períodos. 

Quando aparecem, os sintomas são corrimento profuso, amarelado e que se exterioriza, ardor vaginal, disúria, dispareunia e hiperemia.

No exame endoscópico, pode ainda ser visto sufusões hemorrágicas (em aspecto de morango) e bolhas.

O pH da vagina se eleva acima de 4,5 e o teste de aminas é positivo. O diagnóstico deve ser feito pela bacteriscopia a fresco.

Vaginose citolítica

A vaginose citolítica é caracterizada por uma proliferação excessiva de Lactobacillus, por uma razão desconhecida.

Essa proliferação causa uma queda no pH normal da vagina, se tornando menor que 4.

Os sintomas incluem corrimento abundante, prurido, queimação, desconforto, disparuenia e sinais inflamatórios.

O diagnóstico é feito por meio da bacterioscopia a fresco.

Vaginite inflamatória descamativa

A vaginite inflamatória descamativa é pouco frequente, porém severa e crônica. É mais comum na perimenopausa e pós-menopausa.

Tem seu fator desencadeante ainda desconhecido. E o quadro clínico é caracterizado por inflamação, eritema, corrimento purulento, desconforto e dispareunia.

Para mais, o diagnóstico é feito por microscopia, onde é visto células polimorfonucleares, células parabasais e perda da flora de lactobacillus.

Vaginite aeróbia

A vaginite aeróbia se caracteriza pela presença de bactérias aeróbias entéricas na flora vaginal.

O quadro clínico inclui: corrimento profuso, sinais de inflamação, aumento do pH, ausência do aspecto microgranular da parede vaginal, irritação e dispareunia.

Além disso, pela microscopia, há presença de leucócitos e de células epiteliais imaturas. O teste de aminas é negativo.

Possíveis sintomas de vulvovaginite

Ardor vaginal, desconforto, inflamação e queimação são alguns dos sintomas causados pelas vulvovaginites. Fonte: Shuttestock
Ardor vaginal, desconforto, inflamação e queimação são alguns dos sintomas causados pelas vulvovaginites. Fonte: Shuttestock

Os sintomas variam de tipo para tipo, como já foi abordado. 

Porém, predomina-se a presença de um corrimento anormal, por vezes acompanhado de odor, prurido e desconforto

Outros sintomas comuns são: dispareunia, disúria e hiperemia vaginal.

Possíveis tratamentos para vulvovaginite

O tratamento varia de acordo com o tipo da infecção.

Vaginose bacteriana

A vaginose bacteriana pode ser tratada com metronidazol 500mg por via oral (2x/dia por 7 dias), metronidazol gel 0,75% 5g intravaginal (por 5 dias) ou clindamicina creme 2% 5g intravaginal (5 dias).

Candidíase complicada e não complicada

A candidíase não complicada pode ser tratada por antifúngico por via oral ou tópica.

Os agentes tópicos são: fenticonazol (0,02mg/g ao deitar por 7 dias), miconazol (20mg/g por 14 dias), terconazol (8mg/g por 5 dias), tioconazol (2omg/g por 7 dias) ou nistatina (25.000UI/g por 14 dias).

Os agentes sistêmicos são fluconazol 150mg (dose única), cetoconazol 200mg (2 comprimidos/dia por 5 dias) e itraconazol 100mg (2 cápsulas, uma pela manhã e uma a noite).

A candidíase complicada requer a confirmação de que a cepa não é albicans para iniciar tratamento.

O tratamento é feito com agentes tópicos por 7 a 14 dias ou orais em 3 ciclos, com intervalo de 3 dias entre eles, sendo preferível o tratamento via oral nesses casos.

Após remissão do episódio agudo, manter fluconazol 150mg por 6 meses (1 comprimido/semana).

Tricomoníase

A tricomoníase deve ser tratada com metronidazol ou tinidazol, ambos com posologia de 2g, dose única, administrados por via oral. 

Vale salientar, que o parceiro desta mulher também precisa ser tratado.

Vaginose citolítica

A vaginose citolítica é tratada apenas por meio de medidas alcalinizantes, como o uso de duchas vaginais com bicarbonato de sódio.

Vaginite inflamatório descamativa

A vaginite inflamatória descamativa tem como opções de tratamento: creme vaginal de clindamicina 2% (5g por 14 dias), creme intravaginal de hidrocortisona 10% (por 2 a 4 semanas) ou um creme combinado.

Vaginite aeróbia

Já para o tratamento para a vaginite aeróbia foi pouco estudado. Se houver predomínio de inflamação, pode-se usar hidrocortisona ou clindamicina.

Se houver predomínio de atrofia vaginal, pode-se usar cremes com estrogênios.

Tratamento para vulvovaginite na gestação

No caso das grávidas, deve-se evitar o uso de metronidazol. Isso se deve ao risco aumentado de parto prematuro.

Diante disso, é melhor optar por outras opções terapêuticas. 

Dúvidas frequentes (guia rápido)

Como identificar a Vulvovaginite?

A infecção pode ser identificada por meio de seus sintomas, sendo o corrimento anormal o principal. 

O tratamento pode ser começado de forma empírica, porém existem métodos diagnósticos para a confirmação.

A vulvovaginite é transmissível?

A única transmissível é a tricomoníase. Por isso, deve-se tratar o parceiro da mulher também.

Porém, recomenda-se interrupção de relações sexuais durante o tratamento de todas as vulvovaginites. 

A vulvovaginite tem cura?

A infecção tem cura sim, desde que tratadas de acordo com agente etiológico correto.

Conclusão

As vulvovaginites são afecções comuns e de extremo impacto na vida das mulheres acometidas. 

Podem ser prevenidas e tratadas, melhorando a qualidade de vida das pacientes e evitando complicações futuras.

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