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Publicado em
23/8/23

Pneumonia infantil: causas, sintomas e como tratar

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Pneumonia infantil: causas, sintomas e como tratar

A pneumonia infantil é uma das principais causas de morbidade e mortalidade em crianças ao redor do mundo, inclusive no Brasil. A epidemiologia dessa doença é de grande relevância para a saúde pública, tendo a UNICEF lançado o dado de que a pneumonia é responsável pela morte de 802 mil crianças de até 5 anos no mundo a cada ano.

Essa é uma infecção respiratória aguda de via aérea baixa que afeta os pulmões, podendo ser causada por diferentes agentes, como vírus, bactérias e fungos. Em crianças, especialmente as menores de cinco anos, assume um caráter preocupante devido à sua capacidade de se disseminar rapidamente e provocar complicações graves, como insuficiência respiratória e óbito.

O que causa a pneumonia infantil?

Vírus respiratórios

Os vírus são alguns dos principais microrganismos causadores de pneumonia infantil. Alguns dos principais agentes etiológicos virais são: Vírus Sincicial Respiratório (VSR), o Influenza (Vírus da gripe), o adenovírus, o coronavírus, entre outros. Esses vírus causam inflamação a nível alveolar, além da produção exsudativa, que prejudicam a capacidade respiratória.

Bactérias

Várias espécies de bactérias podem servir de agente etiológico para essa infecção de VA baixa. O Streptococcus pneumoniae, também conhecido como Pneumococo, é uma das principais bactérias que infectam o pulmão dessa faixa etária pediátrica. Além dele, há o Haemophilus influenzae tipo B (Hib), Mycoplasma pneumoniae, Staphylococcus aureus (mais comumente associada à pneumonia nosocomial) e Chlamydia pneumoniae.

Fungos

Os fungos são microrganismos muito menos propensos a causar pneumonia infantil do que os anteriormente citados. Essa é uma infecção mais típica das crianças já imunocomprometidas. Um agente etiológico comum para a epidemiologia da imunossupressão na infância é o Pneumocystis jirovecii.

AGENTES ETIOLÓGICOS MAIS COMUM POR FAIXA ETÁRIA
Até 2 meses S agalactiae, Enterobactérias, Listeria monocytogenes, Chlamydia trachomatis, S aureus e vírus respiratório
2 a 6 meses Chlamydia trachomatis, vírus respiratórios, Pneumococo, S aureus e Bordetella pertussis
7 meses a 5 anos vírus, principalmente o VSR e o Haemophilus influenzae
Acima dos 5 anos agentes de pneumonia atípica e o Pneumococo
Agentes etiológicos mais comuns causadores de Pneumonia em cada faixa etária da infância. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos

Quais são os tipos?

Apesar de não haver um consenso ou critério de definição bem estabelecido, as pneumonias infantis podem ser divididas em dois grandes grupos baseados no agente etiológico, curso clínico, sinais e sintomas e achados em exames complementares. Esses dois grupos são: Pneumonia Típica e Pneumonia Atípica. 

Pneumonia típica

A Pneumonia típica é aquela que possui como agente etiológico o S. pneumoniae (Pneumococo), Haemophilus influenzae e S. aureus. Esse tipo tende a abrir um quadro de infecção respiratória agudo e de rápida evolução, comprometendo globalmente o estado de saúde da criança. Os achados clínicos são bem perceptíveis à ausculta pulmonar e, apesar de não ser mandatória sua realização, o Raio-X apresenta os achados clássicos de adensamento de parênquima.

Pneumonia atípica

Já a Pneumonia Atípica tem como patógenos causadores o Mycoplasma pneumoniae, Chlamydophila pneumoniae, C. trachomatis e Mycobacterium e acomete mais crianças > 5 anos. O seu surgimento e evolução tendem a ser mais "arrastados", com quadros mais inespecíficos (como pela ausência de febre). O exame físico é marcado pela ausculta com alterações difusas, além do padrão de acometimento infiltrativo intersticial visto ao Raio-X.

Sintomas da pneumonia infantil

A tríade clássica da pneumonia infantil é a tosse, a taquipneia e a febre. Outros sintomas adjacentes podem estar presentes, mas não são tão característicos como os três anteriormente citados, sendo eles a dor torácica, e dispneia visível pela retração dos músculos intercostais e uso de musculatura acessória para a respiração. Além de estertores finos à ausculta, hipoxemia e dor abdominal (principalmente quando acomete bases pulmonares).

DICA DE PROVA 

Não se esqueça do quadro clínico da pneumonia infantil, ela é a Doença dos 3Ts: Tosse + Taquipneia + Temperatura alta.

Retração costal em lactente com dispneia (foto à direita). Fonte: Research Gate; link da fonte: https://www.researchgate.net/figure/Chest-indrawing-Inward-movement-of-the-lower-chest-wall-ie-ribs-when-the-child_fig1_13779446
Retração costal em lactente com dispneia (foto à direita). Fonte: Research Gate

Diagnóstico

Apesar de muito se falar sobre o radiografia simples (Raio-X) para o diagnóstico da pneumonia em crianças, esse exame é completamente dispensável, sendo o quadro clínico fechado apenas com a anamnese e exame físico. Os sintomas típicos já foram descritos anteriormente. Ademais, fique atento para os sinais de gravidade, com os achados abaixo:

Sinais de gravidade na pneumonia
Estridor em repouso Convulsões Desnutrição
Letargia Cianose SatO2 < 90%
Desconforto respiratório Sonolência excessiva Taquicardia
Sinais de gravidade na pneumonia infantil. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos

Outros dois pontos da identificação da pneumonia nas crianças são: presença de taquipneia ou retração intercostal e aumento da frequência respiratória sem achado de sibilância. Lembrando que os valores de definição de taquipneia variam por idade: menor que 2 meses ≥ 60 ipm, entre 2 meses e 11 meses ≥ 50 ipm, de 1 a 4 anos ≥ 40 ipm e acima de 5 anos ≥ 30 ipm.

Raio-X de Pneumonia lobar em criança. Fonte: Pneumonia | PediatriaVirtual.com; link da fonte: https://pediatriavirtual.com/pneumonia/#jp-carousel-2203
Raio-X de Pneumonia lobar em criança. Fonte: Pediatria Virtual

Apesar de não fazer parte da rotina diagnóstica, o Raio-X pode ser uma ferramenta de auxílio para guiar o manejo em alguns casos, como em falha terapêutica após 48h de tratamento sem alteração clínica, caso haja sinais de gravidade (citados anteriormente) e pacientes em tratamento a nível hospitalar. Além disso, indivíduos internados ainda podem se beneficiar de: hemograma e hemocultura, marcadores inflamatórios, testes rápidos e pesquisas virais.

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Como tratar a pneumonia infantil?

No tratamento ambulatorial, a Pneumonia Típica deve fazer uso de Amoxicilina 50 mg/kg/dia por 7 dias. Nos casos em que se desconfia de uma Pneumonia Atípica, opta-se pelo uso de macrolídeos. A reavaliação com exame físico e anamnese deve ser feita com no máximo 72h após o início do tratamento, para optar por exames complementares caso o quadro não obtenha nenhuma melhora. 

O tratamento a nível hospitalar deve ser feito caso a criança se encaixe em um ou mais dos seguintes critérios

  • Menos de 2 meses de vida;
  • Saturação de O2 < 92%;
  • Desconforto respiratório;
  • Aumento de frequência respiratória;
  • Rebaixamento do nível de consciência;
  • Convulsões, desnutrição grave ou complicações secundárias à pneumonia (como um derrame pleural evidenciado em Raio X)

DICA DE PROVA 

De olho nas divergências de literatura! De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a tiragem subcostal INDICA o internamento do paciente. Já de acordo com a OMS, desde 2014 a tiragem intercostal sozinha NÃO é critério de hospitalização da criança, apenas se acompanha desconforto respiratório grave.

Derrame pleural em paciente pediátrico. Fonte: Leituras de radiografias de tórax em crianças suspeitas de possuir tuberculose pulmonar; link da fonte: http://www.residenciapediatrica.com.br/detalhes/285/leituras-de-radiografias-de-torax-em-criancas-suspeitas-de-possuir-tuberculose-pulmonar
Derrame pleural em paciente pediátrico. Fonte: Residência pediátrica

Nos casos em que opta-se pelo internamento, o tratamento deve se dividir por idade. Em bebês < 2 anos, faz-se uso de Ampicilina ou Penicilina, associada a um aminoglicosídeo ou uma cefalosporina de 3ª geração. Já nos pacientes > 2 meses, trata-se com Ampicilina ou Penicilina cristalina. Caso haja suspeita de S. aureus como agente etiológico, adiciona-se ao esquema a Oxacilina. 

Conclusão

A pneumonia infantil representa um desafio para a saúde pública no Brasil, com significativa mortalidade de crianças menores de cinco anos. A compreensão de seus agentes etiológicos, fatores de risco e padrões epidemiológicos é essencial para o bom manejo clínico, principalmente na Atenção Básica. A conscientização sobre a imunização, cuidados preventivos e acesso adequado aos serviços de saúde são fundamentais para reduzir o impacto dessa condição.

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