Todo mundo fala sobre o primeiro plantão do internato. Alguns com empolgação, outros com histórias quase traumáticas, mas todos concordam: ele marca. É uma mistura de ansiedade, insegurança, e uma vontade enorme de mostrar que está pronto, mesmo sem saber exatamente para quê.
Neste texto, compartilho o que vivi no meu primeiro plantão e, mais importante, o que aprendi com ele. São lições que eu já gostaria de ter bem consolidadas no meu primeiro plantão e lições que apliquei lá e me ajudaram a sobreviver naquela noite, e com certeza irão me fazer crescer como futuro médico.
Véspera do primeiro plantão: quando o medo bate
Como estudante da Universidade de Pernambuco (UPE), meu primeiro plantão como estudante foi já no quinto período, na sala vermelha do trauma no Hospital da Restauração (HR), referência quando se trata de trauma em Pernambuco.
É a partir deste período, na minha faculdade, que definitivamente deixamos de nos limitar à atenção primária ou atividades muito supervisionadas por professores. Práticas em unidade de trauma no HR, no Instituto Medicina Legal (IML), responsável pelas necropsias e laudos cadavéricos para polícias ou departamentos científicos e na Clínica Especializada em Oncologia (CEON), fizeram com que eu passasse a lidar com a finitude da vida e a morte, e como é difícil, rápido e, algumas vezes, imprevisível.
A gente acha que vai dormir cedo, revisar condutas e acordar pronto. Mas, na prática, a véspera do primeiro plantão é um turbilhão mental. “E se eu travar?”, “e se me perguntarem algo e eu não souber?”, “e se acontecer uma emergência e não conseguir ajudar?”, o medo bate forte, principalmente porque, no fundo, a gente sabe que agora o jogo é diferente: o que antes era aprendizado teórico, agora envolve pessoas de verdade, diagnóstico reais, sofrimento, e muitas vezes risco de vida. E mesmo sabendo que somos apenas internos, o peso da responsabilidade parece se materializar já na noite anterior.
Crie revisões rápidas para o plantão
Diante de tanta ansiedade, eu sempre tento parar tudo e pensar com lucidez, me questiono: o que posso fazer de racional que vai me acrescentar positivamente?. Primeiramente, entrei em contato com amigos nos períodos mais adiantados que já tiveram a vivência no HR e pedi dicas e conselhos.
Isso foi muito positivo, pois muitos, inclusive, me encaminharam “colinhas”, como perguntas que não podem deixar de ser feitas, que ajudaram na admissão do serviço. Por isso, em cada serviço novo em que você for entrar, sempre peça ajuda para estudantes que já passaram por aquela vivência, um dia será você que poderá estar no papel de ajudar, e essa comunidade é muito positiva na medicina pois todos saem ganhando.
Na véspera do plantão , você também pode construir suas próprias “colas”, para consultar rápido durante o plantão. Por exemplo, vamos supor que seu primeiro plantão será em uma maternidade no rodízio de saúde da mulher, o ideal é que você tenha de fácil acesso pontos básicos, como a faixa normal esperada de um BCF, os principais parâmetros do trabalho de parto, indicações formais da realização de cardiotocografia, entre outros.
Além disso, às vezes o básico também deve ser dito: plantão não é momento para passar aperto com o básico. Você deve estar minimamente preparado mostra que você respeita a rotina do serviço e está disposto a somar com a equipe, então não esqueça de ter o necessário na sua bolsa. No meu plantão do HR, por exemplo, eu não poderia deixar de levar meu estetoscópio, oxímetro, se eu quisesse me propor a admitir e evoluir pacientes.
Primeiras horas: o choque de realidade
O Hospital da Restauração possui um dos centros de trauma mais importantes do nordeste, grande parte dos casos de traumas e acidentes da região metropolitana do Recife são encaminhados para lá, o que faz com que o serviço seja superlotado e o fluxo de pacientes seja intenso.
Por mais que te avisem, você nunca está preparado para o cenário caótico: vários pacientes nos corredores, gritos de ajuda, sangue, paradas cardíacas… São muitas informações ao mesmo tempo e, diante de tantas demandas naquele serviço, você pode paralisar.
Diante disso, algo que um monitor me falou e que marcou foi: ainda que você sempre deva estar atento ao seu redor, o foco principal deve ser no que você se propõe ou foi encarregado de fazer. Se eu me encarrego de admitir um paciente no serviço, tenho que focar em coletar a sua história adequadamente. Ficar querendo prestar atenção em tudo que esteja acontecendo no local, por mais turbulento que ele possa estar, irá prejudicar sua anamnese e, consequentemente, aquele paciente.

Primeira admissão
No meu primeiro plantão, como estava no quinto período e tinha acabado de aprender semiologia, também foi a primeira vez em que eu tive que passar um caso que tinha admitido para um staff ou residente, o que foi motivo de muito nervosismo. Na maioria das vezes, aquele profissional está com várias demandas, então você deve estar preparado e saber quais pontos daquela história de fato são importantes e relevantes de serem ditas.
Isso significa treinar a objetividade: foco na queixa principal, antecedentes que realmente mudam a conduta e dados do exame físico bem descritos. Ficar divagando ou relatar a anamnese como se estivesse fazendo uma prova oral só atrasa o atendimento. Aprendi lá que clareza e concisão valem mais do que decorar um roteiro.
Entre agir e atrapalhar, escolha aprender primeiro
Um erro comum no início do internado é confundir iniciativa com precipitação. É natural querer mostrar disposição, mas a linha entre ajudar e atrapalhar pode ser tênue e perigosa. Muitos ainda querem fazer procedimentos a qualquer custo para se gabar para amigos e familiares, mas o plantão não é o melhor momento para testar algo que você nunca viu na prática.
No meu primeiro plantão com interno, eu tive a oportunidade de poder ter feito uma gasometria arterial, algo que nunca tinha feito. Porém, apesar de ter lido por cima, não me lembrava o passo a passo do procedimento, e optei por estudar melhor para fazer no outro plantão, o que aconteceu, sob supervisão e orientação do monitor que nos acompanhava naquele dia.
Assumir algo que não domina ainda, principalmente em um cenário de emergência ou sob pressão, pode não só prejudicar o paciente, mas também gerar desgaste com a equipe. O interno que força uma situação sem preparo não parece corajoso, mas sim imprudente, o que na medicina é chamado de iatrogenia. Por isso, tudo o que você se propõe a fazer, se questione se você sabe da teoria, e não deixe de pedir ajuda e orientação dos médicos no plantão.
Nem todo mundo vai te explicar as coisas (e isso faz parte do jogo)
Uma das primeiras frustrações do internato é perceber que o aprendizado nem sempre vem mastigado. Você chega no plantão esperando que alguém te oriente, te corrija, explique cada conduta, mas a verdade é que, muitas vezes, isso não vai acontecer. Não necessariamente será por maldade ou descaso, mas muitas vezes o médico daquele hospital é apenas um contratado para o serviço, ou, ainda, os preceptores e residentes podem estar sobrecarregados e exaustos, o fluxo do serviço nem sempre permite pausas pedagógicas.
Se liga! O ambiente do seu primeiro plantão poderá ser um pouco hostil e você poderá levar algum fora ou receber uma resposta atravessada dos profissionais de lá, mas não se esqueça que você está aprendendo, busque melhorar e internalize que a grosseria sofrida diz mais sofre quem cometeu do que sobre você.
Além disso, não se esqueça que você deverá sempre ter uma postura ativa. Aprender, muitas vezes, vai depender da sua capacidade de observar, anotar, pesquisar depois, e principalmente se colocar à disposição. Ouvir discussões de caso, acompanhar prescrições, rever condutas, isso tudo é aprendizado, mesmo que silencioso. Internato também é momento de desenvolver sua autonomia.
As pequenas tarefas também são parte do plantão
Não espere que já no primeiro plantão você vai salvar o dia como um grande herói, foque no básico, mas essencial. Preencher evoluções, acompanhar exames, buscar um prontuário, correr atrás da vaga de imagem: tudo isso pode parecer pequeno, mas faz parte da engrenagem do plantão. Essas tarefas, além de essenciais para o funcionamento da equipe, ajudam o interno a se familiarizar com o fluxo real do hospital, algo que nenhuma apostila ensina.
Fazer o básico abre espaço para que, aos poucos, te deem mais responsabilidade. Ninguém vai confiar em um paciente grave nas suas mãos se você não consegue realizar uma boa evolução ou acompanhar uma gasometria sem se perder nos valores.
Algo que eu nunca esqueci no meu primeiro plantão foi um momento em que me vi sem saber o que fazer ao me deparar com um paciente apenas de fralda geriátria na maca e se tremendo de frio. Perguntei se queria uma coberta e ele respondeu que gostaria muito, mas a enfermeira o informou que não tinham mais lençóis.
Naquele momento, resolvi improvisar e peguei uns dois campos cirúrgicos estéreis para ele se cobrir, o que o ajudou, na medida do possível. Ele agradeceu bastante, e depois disso percebi que, ainda que não tenha feito muita coisa, tornei o plantão um pouco melhor.
Você vai dar conta (mesmo que não acredite de primeira)
É normal se sentir pequeno, achar que não está pronto, ou até cogitar que não nasceu para isso. Mas a verdade é que, aos poucos, a rotina te molda; você aprende, se adapta, ganha segurança. Um dia você não entende nada de prescrição, mas pouco tempo depois, está revisando antibiótico e checando interações medicamentosas. Um dia você apenas observa uma punção, logo depois estará com a luva calçada, pronto para tentar com supervisão.
O processo é gradual, mas real, e quando chegar o dia da prova de residência, vai perceber que muito do que aprendeu veio desses momentos brutos, intensos e silenciosos de plantão. Mesmo com medo, você deu conta.
Dúvidas comuns sobre o primeiro plantão
1. O que levar para o primeiro plantão?
Caneta, bloco de anotações, lanches leves, água, estetoscópio e oxímetro são essenciais para a maioria dos plantões. Porém, dependendo do quê você esteja rodando, outros itens não podem ser esquecidos. Por exemplo, em unidades de trauma, ter em mãos uma lanterninha é importante para avaliar o reflexo pupilar!
2. É normal se sentir inseguro?
Totalmente! A insegurança faz parte do processo de aprendizado e vai diminuindo conforme você ganha experiência.
3. Preciso saber de todos os protocolos antes do primeiro plantão?
Não. Tenha uma noção geral e leve materiais de apoio, mas o mais importante é saber onde e como buscar informações.
4. Vou ter que prescrever sozinho?
Não. Na maioria dos lugares, as prescrições são feitas pelo residente ou staff, mas isso não significa que você não deva prestar atenção e aprender com a prescrição, pois chegará um momento que esse papel será seu.
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