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Publicado em
31/3/22

O Que é Perioperatório, Quais as Suas Fases e Tratamentos

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O Que é Perioperatório, Quais as Suas Fases e Tratamentos

O termo perioperatório é empregado para descrever um período no tempo extremamente importante para a Cirurgia. Nesse post, vamos falar sobre o que é, suas fases e seus tratamentos!

O que é perioperatório?

O perioperatório é o período que envolve o ato cirúrgico, desde a preparação prévia até a recuperação e alta

Se inicia no momento em que o cirurgião indica a operação e até o retorno do paciente às suas atividades normais.

Qual a importância?

A importância do período e de sua compreensão se deve ao fato de que ele tem como objetivo melhorar a vida dos pacientes, atuando de forma terapêutica.

Porém, apresenta riscos e potencial de complicações se  cada passo não for bem realizado.

Quais as fases do perioperatório?

O perioperatório é subdivido em 3 fases, tendo o ato cirúrgico como referência: a fase pré-operatória, a fase operatória e o pós-operatório.

Fase pré-operatória 

A fase pré-operatória é aquela que vai desde a indicação cirúrgica até o momento anterior ao ato cirúrgico

Ela é dividida em dois momentos: a internação hospitalar e o controle de estudos pré-operatórios.

Internação hospitalar 

A internação ou admissão hospitalar é a entrada do paciente no hospital e no leito correspondente ao seu procedimento. 

Nela, deve ser feita a identificação e o direcionamento a unidade correta, geralmente feito pela administração do local.

Controle de estudos pré-operatórios

O controle de estudos pré-operatórios é o momento de resgate dos exames realizados anteriormente ao procedimento, buscando avaliar as condições e riscos do paciente. Deve ser realizado por médicos envolvidos no caso do paciente.

Resgata-se, então, exames laboratoriais, exames de imagem, ECG, entre outros. Com isso, é possível classificar o grau de risco operatório, realizar a escolha do melhor anestésico e identificar possíveis complicações.

Fase operativa 

A fase operativa é aquela que vai desde a assepsia do paciente até a finalização do ato cirúrgico

É dividida em 3 fases: indução anestésica, procedimento cirúrgico e recuperação anestésica.

Indução anestésica

A indução anestésica deve ser realizada pelo anestesista, de acordo com a avaliação pré-anestésica realizada por ele, que indicará o método e a droga a ser utilizada.

Procedimento cirúrgico

O procedimento cirúrgico propriamente dito inicia-se após confirmação de uma indução anestésica bem sucedida. 

Além do procedimento em si, inclui a transfusão sanguínea perioperatória, a ventilação protetora e a monitorização dos sinais vitais do paciente.

Recuperação anestésica

A recuperação anestésica é o período no qual, após o fim do procedimento, o indivíduo se recupera com reversão da anestesia

É um período que necessita de intensa vigilância, devido à possibilidade de surgimento de complicações.

Estágio pós-operatório

O estágio pós-operatório é a terceira e última fase do perioperatório

É caracterizado por intenso acompanhamento e controle, para certificar que a operação foi bem  sucedida.  É dividida em controle hospitalar e controle ambulatorial.

Controle durante a hospitalização

É o controle realizado ainda em ambiente hospitalar, para detectar qualquer sinal ou de complicação pós-operatória imediata. 

Realiza-se acompanhamento mais intenso da ferida operatória, dieta, repouso, queixas, medicações administradas.

Controle Ambulatorial

Após um período de estabilidade, o paciente passa a ser acompanhado ambulatorialmente

Nesta fase, ele é cuidado em consultas anteriormente agendadas para investigar possíveis complicações que possam surgir de forma não imediata.

Quais os tratamentos?

Cerca de 50% dos indivíduos que  são submetidos a cirurgias tomam alguma medicação de forma contínua, porém, nem todas podem ser continuadas durante o período perioperatório, variando de acordo com o caso de cada paciente.

Anteriormente à cirurgia, um histórico de medicamentos deve ser obtido, com as indicações e doses, além do uso de substâncias que devem ser questionadas. 

Aqueles que aumentem risco anestésico devem ser retirados ou diminuídos. Além disso, algumas drogas podem ser usadas em determinadas complicações.

Anticoagulantes e antiplaquetários

Os anticoagulantes ainda tem abordagem bastante discutida quanto a interrupção ou não do uso contínuo no perioperatório

A interrupção aumenta temporariamente o risco tromboembólico, porém a continuação aumenta o risco de sangramento.

Para isso, deve-se fazer uma análise individualizada, estimando risco tromboembólico de cada pessoa e o risco de sangramento do procedimento invasivo, para determinar qual teria maior impacto, já que ambos podem aumentar as taxas de mortalidade

Os antiplaquetários vão seguir a mesma estratégia de análise de risco individualizada, já que atuam de forma análoga aos anticoagulantes. 

Sendo assim, aumentam o risco de trombose se não interrompidos e elevam o risco de sangramento se o uso for continuado.

Caso a opção seja pela interrupção, essa deve ser feita de 5 a 7 dias antes do procedimento.

Corticoides

A abordagem em relação ao uso contínuo de corticóides também é individualizada, a depender da indicação, dose e tipo de cirurgia.

Pode ser usado no pós-operatório para prevenção e tratamento de insuficiência adrenal aguda, em casos de estresse pós-operatório, infecção, IAM, sangramento e outras complicações. 

Vale salientar que eles suprimem a resposta febril, por isso é preciso ficar atento ao seu uso. 

Diabetes

A anestesia pode causar resistência insulínica. Para isso, em pacientes diabéticos, as medicações devem ser ajustadas para prevenção de hipoglicemia e hiperglicemia.

Inibidores do GLT2 devem ser interrompidos 3 dias antes da internação, devido ao risco de infecção urinária e hipovolemia. 

Agonistas do GLP-1 e outros hipoglicemiantes podem ser usados até a manhã da cirurgia.

Os pacientes insulinodependentes devem continuar a medicação, mesmo que interrompam os hipoglicemiantes orais. 

A dose deve ser ajustada de forma individualizada e a glicemia constantemente monitorada.

Hiperglicemia Hipoglicemia
Inibição do sistema imunológico e aumento de infecção no local da cirurgia Prejuízo nas funções autonômicas
Cicatrização prejudicada Alteração da circulação e composiçao sanguínea
Aumento de infarto miocárdico periopératório Ativação das células sanguíneas brancas
Piores desfechos neurológicos Vasoconstrição
Aumento da duração de dependência de ventiladores Liberação de mediadores inflamatórios e citocinas
Aumento do risco de morte perioperatória Prolongação do intervalo QT, risco de arritmias fatais
Aumento da mortalidade

Efeitos adversos associados à hiperglicemia e hipoglicemia no perioperatório. Fonte: Federação Mundial das Sociedades de Anestesiologistas 

Dependência de drogas

Pacientes etilistas devem ser encorajados a suspender o uso de álcool para cirurgia, devido ao aumento do risco perioperatório

Eles devem ser monitorados de perto, pois podem desenvolver uma síndrome por abstinência de álcool.

Para indivíduos em uso crônico de opióides, administra-se gabapentina antes da cirurgia. Ela pode facilitar a descontinuação de opióides após a cirurgia.

Além disso, os opioide-dependentes requerem um plano individualizado para o controle da dor pós-operatória. 

A necessidade de opioides para esse grupo pode ser alta e imprevisível devido à tolerância.

Doença cardíaca

Os pacientes cardiopatas devem realizar os exames cardiovasculares para levantamento de risco. 

Os betabloqueadores podem ser continuados neste período da cirurgia, assim como os bloqueadores de canal de cálcio, agonistas alfa-2 e estatinas.

No caso dos inibidores da ECA e dos bloqueadores dos receptores da angiotensina, devem ser continuados se a indicação for hipertensão arterial mal controlada ou insuficiência cardíaca. 

Caso contrário, indica-se interromper na manhã da cirurgia pelo risco de hipotensão.

Já os diuréticos também devem ser mantidos até a manhã do procedimento, com exceção da indicação por insuficiência cardíaca, que não devem ser interrompidos.

Os agentes hipolipemiantes não estatinas devem ser interrompidos no dia anterior ao procedimento cirúrgico.

Doença pulmonar 

As drogas para doenças pulmonares variam de indicação. Recomenda-se continuar beta-agonistas e anticolinérgicos e interromper teofilinas

Já os inibidores de leucotrienos devem ser administrados na manhã do procedimento e retomados quando o paciente estiver tolerando medicamentos orais.

Outros fármacos para o controle de doenças crônicas

Os bloqueadores de H2, usados para DRGE, úlcera e outras doenças gastrointestinais, devem ser continuados. Assim como os medicamentos para doenças de tireoide.

Além disso, em geral, também se mantém os agentes psicotrópicos, como antidepressivos e antipsicóticos, para as doenças psiquiátricas crônicas.

Tabagismo

A cessação do tabagismo o quanto antes obtém melhores resultados pós-cirúrgicos. Pode-se utilizar vareniclina para redução dos sintomas de abstinência da nicotina.

Vias respiratórias superiores

Antes da anestesia, deve-se verificar se as vias aéreas são pérvias, com retirada de dentadura, ou se apresentam alguma alteração anatômica que possa dificultar intubação.

Dúvidas Frequentes (Guia Rápido)

Como é classificado o período perioperatório?

Ele é classificado em 3 etapas: pré-operatório, fase operativa e pós operatório.

Quando começa e quando termina o período perioperatório?

Este período se inicia a partir da indicação da cirurgia, com realização dos exames, até o momento após a alta, em que o paciente retorna a sua vida normal.

Conclusão

Entender o passo a passo e os tratamentos disponíveis e quais aqueles devem ser interrompidos durante o perioperatório é de extrema importância para diminuir complicações e mortalidade pós-operatória.

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