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Publicado em
9/3/23

Residência em Anestesiologia: como é, salário e mercado de trabalho

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Residência em Anestesiologia: como é, salário e mercado de trabalho

A Anestesiologia é a quinta especialidade mais concorrida, de acordo com a pesquisa Demografia Médica Brasil 2023. O perfil da residência médica em Anestesiologia é masculino. Dos 29.358 profissionais, quase 61% deles são homens. A média de idade é de 49 anos, e como de costume, a concentração é maior na região sudeste. 

Juntamente à Radiologia, à Oftalmologia e à Dermatologia, a residência médica em anestesiologia faz parte das especialidades “ROAD” (em português, “caminho” ou "estrada"). 

Este foi um acrônimo criado nos Estados Unidos para indicar especialidades que conferem a seus praticantes uma boa compensação financeira associada a um estilo de vida que, comparado aos demais, oferece um excelente balanço entre trabalho e lazer.

O que é a Anestesiologia?

Ao contrário do que diz a piada comum no meio médico, ser anestesiologista envolve muito mais do que colocar pacientes para dormir durante uma cirurgia e, enquanto ela ocorre, resolver palavras cruzadas – ou, numa versão mais atual, rolar as timelines das redes sociais num iPad.

O anestesista é o principal responsável pela manutenção vital do paciente que está em cirurgia, agindo no controle de sua dor, mobilidade, hemodinâmica, oxigenação e nível de consciência. Em resumo, é isso que ele vai aprender a fazer na residência.

Quais as características de um anestesiologista?

  • Capacidade de decisão e espírito de liderança: Saber trabalhar sob pressão é um pré-requisito para quem pensa em Anestesiologia. Embora cirurgias transcorram com tranquilidade em sua maioria, principalmente quando eletivas, sempre haverá pacientes e procedimentos com maior risco. Saber manejar pacientes difíceis, uma parada cardiorrespiratória e outras emergências com segurança e agilidade é imprescindível para o anestesista, bem como liderar o time de forma responsável.
  • Calma: Como citado acima, situações de emergência são parte do dia a dia do anestesista. Manter a calma nelas é essencial, pois, sem calma, a segurança e a capacidade de decisão deixam de existir.
  • Atenção aos detalhes: Uma especialidade “hands on” é aquela em que o médico literalmente precisa colocar a mão na massa. A anestesiologia é uma delas.
  • Estar familiarizado com procedimentos delicados e detalhistas como intubação rotraqueal, punções, bloqueios periféricos, anestesia peridural e epidural, coleta de líquor e outros será vital ao médico, bem como a titulação exata de drogas.
  • Raciocínio sobre algoritmos: Pacientes críticos muitas vezes não lhe deixam tempo para recorrer ao conhecimento teórico extenso que aprendemos na faculdade. O uso de algoritmos é importante para a sistematização do manejo do indivíduo em quase todas as situações, sejam elas emergenciais ou não.
  • Outras três afinidades, essas mais acadêmicas, também são bem importantes. Anestesiologia é fundamentada em duas grandes áreas da medicina: fisiologia e farmacologia

Ela também usa muito do conteúdo ensinado em Neurologia. Se o aluno ou o médico não se interessa naturalmente por elas, é melhor que fique longe da anestesiologia.

Como é a residência médica em Anestesiologia?

A residência médica em Anestesiologia dura no mínimo 3 anos. Isso se o profissional não quiser fazer uma sub-especialização depois – a sub em medicina da dor, por exemplo, é uma das que anda crescendo na área.

Trata-se de uma especialidade de acesso direto, ou seja, sem pré-requisitos. Ela tem se tornado mais concorrida ao longo dos últimos anos, pois cada vez mais médicos estão procurando um bom balanço entre vida pessoal e profissional.

O que estudar para ser um residente em Anestesiologia?

Para se tornar um residente em Anestesiologia se faz necessário primeiro a formação em medicina, e, posteriormente, é preciso fazer a prova de residência médica de acesso direto, que exige conhecimento de conteúdos das seguintes áreas: Ginecologia e Obstetrícia, Clínica Médica, Cirurgia Geral, Pediatria e Medicina Preventiva e Social (Medicina da Família e Comunidade e Saúde Coletiva).

Seja qual for a prova que você irá fazer pelo Brasil, nós temos um preparatório para você. Se o processo seletivo para a residência médica for em São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, na Paraíba, Bahia ou no Ceará, cada um deles tem um semi-extensivo próprio.

Se o exame for em outros estados diferentes dos citados anteriormente, temos um preparatório que também vai abordá-los, o R1 Nacional 2023. Todos eles contam com uma Inteligência Artificial exclusiva que aponta o seu desempenho dentro da nossa plataforma, resultando em simulados e revisões personalizadas. Além, dentre outros benefícios, do acompanhamento psicológico e de um banco de questões com mais de 35 mil questões comentadas em vídeo e texto

Qual a grade de estudo de um residente médico em Anestesiologia?

Procedimentos como a anestesia peridural é de responsabilidade do anestesista. Foto: Reprodução/AdobeStock
Procedimentos como a anestesia peridural é de responsabilidade do anestesista. Foto: Reprodução/AdobeStock

A Sociedade Brasileira de Anestesiologia define quais competências os residentes em Anestesiologia devem ter. Veja nos tópicos a seguir algumas delas.

Primeiro ano

  • Interpretar a anatomia vascular e realizar venóclises periférica e central;
  • Analisar e utilizar materiais, equipamentos e fármacos da prática da anestesia;
  • Identificar e tratar as causas de sangramento e de outras complicações anestésicas intra e pós operatório (sala de recuperação pós anestésica);
  • Diagnosticar, avaliar e tratar os diversos tipos de choque; 
  • Avaliar e realizar a intubação e extubação traqueal; e
  • Dominar o tratamento das arritmias cardíacas mais prevalentes no intra-operatório e no pós-operatório imediato.

Segundo ano

  • Avaliar e planejar a anestesia para cirurgia de pequeno e médio porte;
  • Dominar as diversas técnicas de anestesia geral e bloqueio de neuroeixo; 
  • Avaliar a via aérea difícil e dominar o algoritmo de controle; 
  • Dominar o manuseio dos monitores básicos e avançados;
  • Avaliar e realizar bloqueios anestésicos e acessos vasculares guiados por ultrassonografia; 
  • Dominar a montagem das bombas de infusão e as linhas de perfusão; e
  • Dominar o manuseio do aparelho de anestesia micro-processado.

Terceiro ano

  • Dominar a avaliação pré-anestésica, com orientações ao paciente e elaboração do relatório final do atendimento;
  • Comunicar-se efetivamente com médicos, outros profissionais de saúde e serviços de saúde relacionados, notadamente com o cirurgião durante ato operatório quanto às variações dos parâmetros fisiológicos capazes de interferir desfavoravelmente no resultado imediato da anestesia ou da cirurgia;
  • Dominar a escolha de fármacos anestésicos, os adjuvantes e outros de uso na anestesia; 
  • Julgar e otimizar a hemodinâmica pré-operatória do paciente com cristalóides, colóides ou transfusão sanguínea/autotransfusão, observando as medidas dos parâmetros fisiológicos e o comportamento cardiovascular; e
  • Avaliar arritmias pelo ECG, instituindo o tratamento. 

Como funciona a rotina profissional de um anestesiologista?

Pelo menos durante a residência médica de Anestesiologia, conte com muito tempo dentro do centro cirúrgico. É imprescindível que o estudante de medicina ou médico que esteja considerando essa especialidade leve em conta sua afinidade pelo local.

O anestesista está presente no pré, intra e pós-operatório do paciente, mas a maior parte do seu trabalho acontece no intra — ou seja, numa sala de cirurgia. Sendo assim, normalmente a rotina é dentro de um hospital. O profissional pode escolher ser plantonista, parte de um grupo de anestesistas ou trabalhar com um cirurgião específico.

Porém, se para você é imprescindível manter algum contato clínico com os pacientes, uma ótima escolha é a subespecialização em dor. A medicina da dor é uma das áreas que mais cresce no Brasil e no mundo atualmente, graças a fatores como o envelhecimento da população e a maior atenção médica voltada ao conforto e funcionalidade de seus pacientes.

O anestesista com especialização em dor terá seus pacientes e seu consultório, sozinho ou com colegas em um centro maior de dor, que poderá inclusive contar com profissionais de outras áreas da saúde. Ele fará intervenções medicamentosas e procedimentos minimamente invasivos em seus pacientes, com quem normalmente terá contato por um longo tempo. Se você gosta de anestesiologia e também de contato longitudinal com os pacientes, este pode ser o caminho.

Mercado de trabalho e salário

O mercado da Anestesiologia é um em crescimento. Como mencionado acima, o anestesista que trabalha em hospitais poderá escolher entre um caminho de plantões (que normalmente são muito bem pagos), participar de um grupo só de anestesistas ou a parceria com um ou mais cirurgiões.

Se escolher se enveredar pela medicina da dor, tudo indica que o momento também é de crescimento. A dor crônica é o principal motivo de afastamento do trabalho no mundo todo e nós, médicos, começamos a voltar nosso olhar para o tamanho do problema.

As clínicas de dor têm se popularizado bastante durante os últimos dez anos, principalmente nos grandes centros, e a especialidade não dá sinais de saturação. Aos poucos elas começam a surgir em cidades menores, uma vez que a demanda existe.

Quanto ganha um anestesiologista?

O salário do anestesiologista varia muito de acordo com a carga horária, o tipo de trabalho – consultório, hospital, ambos – e a região em que o profissional trabalha.

Os dados a respeito do salário médio de um anestesiologista no Brasil variam de acordo com local e fonte da pesquisa, mas, a fim de fornecer uma base aos leitores, chegamos a uma média de R$ 7.315,59 por uma jornada de trabalho de 23 horas semanais. O teto salarial pode chegar a cerca de 15 mil reais.

Qual a diferença entre anestesista e anestesiologista?

A qualidade de vida proporcionada pela Anestesiologia torna essa área bastante atraente. Foto: Reprodução/ShutterStock
A qualidade de vida proporcionada pela Anestesiologia torna essa área bastante atraente. Foto: Reprodução/ShutterStock

Nenhuma. “Anestesista” é só um termo mais informal, que usamos na prática. “Anestesiologista” é o termo mais acadêmico.

Qual a melhor residência de anestesiologia no Brasil?

A Sociedade Brasileira de Anestesiologia possui 110 serviços credenciados em sua base. Definir quais são os melhores é sempre uma tarefa complexa, pois depende muito do objetivo do médico e de seu aproveitamento durante esse período.

De qualquer forma, temos como um bom guia o relatório de 2020 dos CET da própria SBA, ranqueando as instituições por percentil. Aqui constam as 26 mais bem colocadas: 

Matrícula Centro de ensino e treinamento Quartil
9102 CET HOSP.G.DO INAMPS FORTALEZA 4º quartil
9103 CET CENTRO ANESTESIOL.UNIV.DE BRASILIA 4º quartil
9104 CET DO HOSPITAL DE BASE DO DISTRITO FEDERAL 4º quartil
9106 CET S.A.HOSP.CLIN.FAC.MED.UFMG 4º quartil
9112 CET HOSP.DAS CLÍNICAS DA UFPE 4º quartil
9114 CET S.ANEST.E MED.PERIOP.DO HCPA - SAMPE 4º quartil
9115 CET DO SANE 4º quartil
9133 CET DO CENTRO MÉDICO DE CAMPINAS 4º quartil
9135 CET S.A.HOSP.SERVID.PUBL.DE SP 4º quartil
9138 CET DA DISCIPLINA DE ANESTESIOL.DA FMUSP 4º quartil
9139 CET CLÍNICA DE ANEST.RIBEIRÃO PRETO-CARP 4º quartil
9143 CET DISC.ANEST.DOR E TER.INT.UNIFESP/EPM 4º quartil
9144 CET STA.CASA MISER.DE S.PAULO 4º quartil
9148 CET DEP.ANEST.DA F.M.BOTUCATU 4º quartil
9151 CET INTEGRADO DA FAC. DE MEDICINA DO ABC 4º quartil
9156 CET PROF SILVIO RAMOS LINS 4º quartil
9159 CET S.A.INST.DR.JOSÉ FROTA 4º quartil
9176 CET INT. DO INST. DE ANESTESIOLOGIA DO AM 4º quartil
9179 CET SERV. ANEST. JUIZ DE FORA 4º quartil
9182 CET S.A.HOSPITAL SÃO RAFAEL 4º quartil
9184 CET CET DO INST. MATERNO INFANTIL PE - IMIP 4º quartil
9186 CET SÃO PAULO-SERV.MÉD.DE ANEST.S/C LTDA 4º quartil
9189 CET DA ASSOC.OBRAS SOCIAIS IRMÃ DULCE 4º quartil
9220 CET SIANEST/HOSPITAL FLORIANÓPOLIS-CEPON 4º quartil
9222 CET MENINO JESUS DE PRAGA 4º quartil
9233 CET HOSP.STA.GENOVEVA DE UBERLÂNDIA - MG 4º quartil

Para entender melhor como funciona a residência médica e a rotina profissional, assista a nossa entrevista no EMR Cast com o médico Anestesiologista, Juliano Cordeiro:

Conclusão

Infelizmente, algo que poucos consideram na hora de escolher a residência médica em anestesiologia é o famigerado reconhecimento — mais precisamente, a falta dele. Existe um ditado comum nas cirurgias: “se o anestesista fizer seu trabalho direito, o paciente não se lembrará dele”.

O ditado é uma hipérbole, claro, mas a realidade acaba não sendo tão distante. O centro cirúrgico é, por definição, o domínio do cirurgião. Para ser anestesista, você precisa estar confortável com o fato de trabalhar nas sombras. Você terá menos contato com o paciente do que seu cirurgião, o verá menos e muitas vezes não será lembrado na hora dos agradecimentos, embora seu trabalho tenha sido essencial. 

Assim, o médico que procura um contato mais profundo e reconhecimento por parte de seu paciente, raramente se sentirá satisfeito no papel de anestesista. A não ser, claro, que ele escolha clinicar e se enveredar pela área da dor.

O médico, porém, que procura um estilo de vida menos workaholic mas ainda quer ser bem recompensado financeiramente; que gosta de fisiologia, farmacologia e tem interesse por neuro; que gosta do centro cirúrgico e de realizar procedimentos; que sabe manter a calma quando as coisas dão errado e trabalha bem sob pressão; que não se importa em não ter contato longitudinal com seus pacientes nem receber os holofotes pelo trabalho que faz… será um anestesiologista muito satisfeito com sua escolha de profissão.

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