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Publicado em
28/2/23

Neurocirurgia: O que é, rotina, residência médica e mercado de trabalho

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Neurocirurgia: O que é, rotina, residência médica e mercado de trabalho

A Neurocirurgia, dentre todas as especialidades médicas, talvez seja a que carrega consigo o maior prestígio.

Entre outros fatores, isso se dá tanto pelo tempo que sua formação exige – são 6 anos de faculdade e no mínimo 5 de residência médica (podendo se estender), isso se não contarmos o tempo gasto para conseguir entrar na faculdade e entrar na residência – que possui uma das taxas de concorrência entre todas as especialidades.

Graças a esses fatores, temos um número relativamente pequeno de neurocirurgiões no país: segundo a Demografia Médica 2023, contamos com 4.145 neurocirurgiões titulados, o que constitui apenas 0,8% dos médicos brasileiros.

Neste texto, pretendemos dar ao médico ou estudante de medicina uma visão global a respeito da residência médica em Neurocirurgia, sua rotina, as áreas de atuação do profissional e o mercado que encontrará. Vem conferir!

O que é a Neurocirurgia?

A Neurocirurgia é a especialidade clínico-cirúrgica que trata a população – tanto infantil quanto adulta – portadora de doenças ligadas ao sistema nervoso central e periférico. Dessa forma, ela é a especialidade médica responsável por estudar, diagnosticar e tratar doenças relacionadas a essa área. Muito parecida com a Neurologia, sua principal diferença é que os neurocirurgiões são aptos a realizar cirurgias - fator que acaba alterando a rotina e o mercado de trabalho desses profissionais.

Quais as características de um neurocirurgião?

Para ser um bom neurocirurgião além de gostar muito da área (afinal você irá dedicar muitos anos da sua vida ao seu estudo e atualização como profissional), é preciso ser capaz de lidar com a falta de rotina e de conviver com situações de alta pressão. De todas as especialidades, a Neurocirurgia talvez seja a que tenha maior demanda envolvida.

Se quiser conhecer mais do dia a dia do profissional e como é para quem atua veja mais abaixo nossa entrevista com Arthur Lopes, neurocirurgião pelo Hospital das Clínicas da USP.

Como é a residência médica em Neurocirurgia?

A residência médica em Neurocirurgia é de acesso direto e uma das mais longas, com 5 anos de duração podendo se estender por dois anos caso o profissional queira se subespecializar.

Antes de tudo, é importante ressaltar que cada programa varia de acordo com a instituição que a oferece, embora o MEC, em parceria com a AMB e a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, tenha desenvolvido um programa oficial com número de horas a serem cumpridas em cada estágio.

As atividades do residente em Neurocirurgia, de forma geral, se distribuem entre visitas a enfermarias, visitas aos leitos da unidade de terapia intensiva, atendimentos no ambulatório, na emergência, avaliações de pós-operatórios, interconsultas e, principalmente, tempo dentro do centro cirúrgico.

Durante a residência Médica em Neurocirurgia há também discussões semanais de casos operados e artigos científicos publicados na área. Quanto mais se avança na residência, mais tempo cirúrgico o residente vai ganhando a depender do ano que cursa, sendo o R4 e o R5 praticamente apenas voltados a isso.

A Neurocirurgia se divide em muitas áreas de atuação, e o profissional é apto a atuar em qualquer uma delas quando termina sua residência.  Apesar disso, fazer uma subespecialização é um caminho muito procurado já que esses profissionais costumam ganhar mais e ter uma melhor qualificação profissional.

Algumas das áreas de atuação mais populares são: 

  • Neurocirurgia vascular;
  • Neurocirurgia funcional / medicina da dor;
  • Neurocirurgia oncológica;
  •  Neurocirurgia do trauma;
  • Neurocirurgia pediátrica;
  • Neurointensivismo;
  • Coluna;
  • Base do crânio;
  • Nervos periféricos.

O que estudar para ser um residente em Neurocirurgia?

A prova de residência médica em Neurocirurgia não difere de outras provas de residência de acesso direto, o que muda é apenas a concorrência (que costuma ser bem alta). Como todas as provas de residência do mesmo tipo, ela conta com prova objetiva acerca das cinco grandes áreas da medicina, além de análise e arguição de currículo.

Qual a grade de estudo de um residente médico em Neurocirurgia?

O Ministério da Educação, responsável pela fiscalização dos programas de residência médica, divulgou a matriz curricular da residência médica em Neurocirurgia. Vem conferir o que um residente da área deve aprender ao fim de cada ano:

O que devo saber ao fim do primeiro ano em Neurocirurgia segundo o MEC?

Ser capaz de dominar as bases da morfologia, função e principais processos patológicos que envolvem o sistema nervoso. Alguma das competências do R1 em Neurocirurgia:

  • Identificar o nível de consciência do paciente pela Escala de Coma de Glasgow (ECGla), determinar as condições de risco iminente de morte e adotar as medidas adequadas de reanimação e apoio;
  • Reconhecer e analisar os aspectos biológicos e identificar e analisar as manifestações clínicas das neoplasias do sistema nervoso.;
  • Avaliar os limites e riscos envolvidos em procedimentos como: Punção Lombar para obtenção de líquido cefalorraquidiano, eletroencefalograma, radiografias simples do crânio e coluna vertebral, tomografia computadorizada do crânio e coluna vertebral (sem e com contraste);
  • Analisar as radiografias simples, tomografia computadorizada do crânio e da coluna vertebral nas doenças traumáticas.
  • Dominar a técnica de punção liquórica para obtenção de liquido céfalo-raquidiano;
A Neurocirurgia é a especialidade médica que trata a população – tanto infantil quanto adulta – portadora de doenças ligadas ao sistema nervoso central e periférico. Foto: Reprodução/AdobeStock
A Neurocirurgia é a especialidade médica que trata a população – tanto infantil quanto adulta – portadora de doenças ligadas ao sistema nervoso central e periférico. Foto: Reprodução/AdobeStock

O que devo saber ao fim do segundo ano em Neurocirurgia segundo o MEC?

Estar apto a realizar o diagnóstico clínico, estabelecer as linhas de investigação a serem realizadas e iniciar os procedimentos clínicos e cirúrgicos estabelecidos cientificamente. Capacidade para leitura e interpretação dos principais exames de neuroimagem e de orientar o pré e o pós-operatório das principais doenças neurocirúrgicas. Ter adquirido noções básicas de Neurointensivismo. 

Alguma das competências do R2 em Neurocirurgia:

  • Interpretar e avaliar as principais linhas, planos e projeções utilizados em radiografias simples de crânio e coluna vertebral;
  • Conhecer e analisar os princípios gerais da cirurgia intracraniana;
  • Ser o cirurgião auxiliar, sempre sob supervisão de um preceptor, em cirurgias de: Lesões congênitas do encéfalo e da medula espinhal, Hidrocefalias, Traumatismo craneoencefálico, Traumatismo raquimedular, Traumatismo de plexos e nervos periféricos;
  • Dominar o tratamento cirúrgico dos afundamentos cranianos simples e hematomas intracranianos traumáticos;
  • Identificar, analisar, avaliar e diagnosticar as lesões traumáticas do plexo braquial e dos principais nervos periféricos.

O que devo saber ao fim do terceiro ano em Neurocirurgia segundo o MEC?

Estar apto a realizar o diagnóstico neurocirúrgico, estabelecer, interpretar e avaliar os exames complementares relevantes e executar atos neurocirúrgicos sob supervisão de neurocirurgião da Unidade ou preceptor designado pelo mesmo.

Alguma das competências do R3 em Neurocirurgia:

  • Avaliar as manifestações clínicas e efetuar o diagnóstico, analisar os mecanismos de regeneração e indicação dos exames eletrofisiológicos e saber indicar o tratamento cirúrgico das lesões traumáticas de plexos e nervos periféricos;
  • Aplicar os princípios básicos do atendimento ao politraumatizado (ATLS);
  • Dominar o conhecimento sobre do microscópio cirúrgico quanto ao manuseio e cuidados na preservação do equipamento;

O que devo saber ao fim do quatro ano em Neurocirurgia segundo o MEC?

Desenvolver o diagnóstico neurocirúrgico, estabelecer e interpretar os exames complementares relevantes e executar atos neurocirúrgicos sob supervisão de neurocirurgião da Unidade ou preceptor designado de treinamento e em continuidade com o Programa de Formação do Neurocirurgião.

Alguma das competências do R4 em Neurocirurgia:

  • Habilitar-se a utilizar o microscópio cirúrgico, o instrumental microcirúrgico, as técnicas microcirúrgicas de dissecação e a executar exercícios complexos de microcirurgia em animais de laboratório, efetuar dissecações microcirúrgicas em espécimes humanos;
  • Indicar a eletrofisiologia intraoperatória, reconhecendo as limitações da técnica e interpretar os principais achados, em cirurgias dos nervos periféricos, da coluna vertebral e intra-raquidianas, dos tumores intracranianos;
  • Avaliar as indicações do tratamento cirúrgico e as técnicas cirúrgicas empregadas no tratamento cirúrgico dos tumores da hipófise, bem como da terapêutica complementar
  • Dominar os princípios e as principais indicações de diagnóstico e do tratamento por neuroendoscopia e avaliar as indicações e as abordagens e técnicas cirúrgicas empregadas do tratamento cirúrgico da epilepsia

O que devo saber ao fim do quinto ano em Neurocirurgia segundo o MEC?

Realizar o diagnóstico neurocirúrgico, estabelecer e interpretar os exames complementares relevantes e executar atos neurocirúrgicos.

Alguma das competências do R5 em Neurocirurgia:

  • Coordenar as Unidades de internação do serviço de Neurocirurgia, as atividades de pré e pós-operatório nas Unidades de internação e supervisionar as atividades dos residentes menos graduados;
  • Ser capaz de conduzir atos cirúrgicos complexos sob supervisão;
  • Saber indicar a eletrofisiologia intraoperatória, reconhecendo as principais limitações da técnica e interpretar os principais achados, em cirurgias vasculares intracranianas e intra raquidianas, nos tumores intracranianos profundos e da base do crânio e em procedimentos funcionais.

Como funciona a rotina profissional na neurocirurgia?

A rotina do neurocirurgião varia a depender do lugar onde trabalha. Em serviços públicos o profissional costuma passar mais horas na emergência e centro cirúrgico, além de atuar também fazendo atendimento ambulatorial. Já na rede privada o profissional pode cumprir mais horas clinicando, atendendo pacientes pré e pós cirúrgico e tendo uma rotina um pouco mais pré-estabelecida com menos horas de sobreaviso.

Mercado de trabalho e salário

A neurocirurgia ainda é uma área predominantemente masculina, com mais de 90% dos seus profissionais sendo homens, como revela a demografia médica 2023. Foto: Reprodução/Adobe Stock
A neurocirurgia ainda é uma área predominantemente masculina, com mais de 90% dos seus profissionais sendo homens, como revela a demografia médica 2023. Foto: Reprodução/Adobe Stock

Como comentamos na introdução, há escassez de neurocirurgiões no Brasil. Portanto, o mercado para a Neurocirurgia é altamente promissor, uma vez que a oferta de profissionais não supre sua demanda. Além disso, a distribuição de neurocirurgiões pelo território nacional é altamente desigual, se concentrando quase toda nas regiões Sudeste e Sul.

O estado de São Paulo concentra o maior número de profissionais na área, por ofertar o maior número de vagas do país. Enquanto isso, a região Norte enfrenta a maior escassez: todos os seus estados somados possuem pouco mais de 5% do número de profissionais do país, segundo a Demografia Médica 2023.

Tratando da remuneração, o neurocirurgião é a especialidade médica com a mais alta remuneração no Brasil. Sua média salarial para uma jornada de apenas 20 horas trabalhadas segundo a plataforma Salario.com é de R$ 7.513,52. No entanto, é importante ressaltar que esses profissionais costumam fazer uma jornada bem maior, com muitas horas de cirurgia. Dessa forma o salário final real pode ser de pelo menos o dobro desse valor.

Conclusão

A residência médica em Neurocirurgia costuma se concentrar em grandes centros, pois requer hospitais de alta complexidade e boas instalações, e só assim pode fornecer um programa que possa capacitar adequadamente seus residentes.

Graças a esse dado, além de termos poucos programas, estes programas disponibilizam poucas vagas anualmente. Some isto ao fato da Neurocirurgia ser uma especialidade muito procurada e chegar à conclusão de que entrar em um programa desses é para poucos. Se você já decidiu que quer ser neurocirurgião, o momento para estudar é agora e é sempre. Conheça nossos cursos para ser aprovado na residência médica dos seus sonhos.

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