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Publicado em
19/8/21

Celulite e erisipela: dominando o quadro clínico

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Celulite e erisipela: dominando o quadro clínico

A celulite é uma das doenças que mais comumente afetam tecidos moles. Acometendo mais frequentemente indivíduos adultos e com uma incidência de 200/100.000 habitantes. Ademais, quando é causada por estreptococos, a celulite pode ser classificada como erisipela.

Assim, os estreptococos beta-hemolíticos são os principais agentes etiológicos que provocam a celulite. Sendo o estreptococo beta-hemolítico do grupo A (EBGA) o mais comum. Além desse, outros agentes que podem provocar a doença são o estreptococo-beta hemolítico do grupo B, C e G. 

E ainda, o S. aureus e estafilococos. A celulite surge a partir da entrada de bactérias pela barreira da pele. Isso é facilitado pela ocorrência de lesões traumáticas, que danificam a barreira protetora da epiderme e facilitam a disseminação de microrganismos. 

Fatores de risco

Em decorrência da infecção se dá por meio da pele, os principais fatores são: para a ocorrência da doença são:

  • Abrasão da pele;
  • Úlceras de pressão e úlceras vasculares; 
  • Inflamações prévias na pele;
  • Edema por diminuição da drenagem linfática;
  • Obesidade;
  • Imunodepressão; e
  • Retirada da veia safena para enxerto de artéria coronária.

Como diferenciar a celulite da erisipela?

Diferenciação entre a celulite e a erisipela. Perceba que, na celulite, os limites da lesão são mais imprecisos e a lesão é menos eritematosa. Fonte: MD.Saúde
Diferenciação entre a celulite e a erisipela. Perceba que, na celulite, os limites da lesão são mais imprecisos e a lesão é menos eritematosa. Fonte: MD.Saúde

Ambas, a celulite e a erisipela, se manifestam com eritema, edema e calor à palpação. Petéquias, hemorragias e bolhas superficiais também podem estar presentes

Além disso, na maioria das vezes, as lesões acometem os membros inferiores e são unilaterais. Portanto, caso seja encontrada uma lesão bilateral, deve-se pensar na possibilidade de outros diagnósticos.

Celulite

Imagem mostrando celulite em membro inferior. Fonte: UpToDate
Imagem mostrando celulite em membro inferior. Fonte: UpToDate

Apesar de atingirem com maior frequência os membros inferiores, a celulite não ocorre com exclusividade neste local. Há também a celulite periorbital, perianal e bucal. E ainda, a celulite de parede abdominal, que afeta mais comumente indivíduos obesos.

E mais, é importante reconhecer que a celulite acomete a derme profunda e a gordura subcutânea. Diferentemente da erisipela, em que são acometidos planos mais superficiais da derme e do sistema linfático. Observe a imagem abaixo.

Ilustração dos planos acometidos na celulite, erisipela e abscesso. Perceba como a erisipela permanece nos planos mais superficiais, enquanto a celulite atinge os planos mais profundos da pele. Fonte: UpToDate
Ilustração dos planos acometidos na celulite, erisipela e abscesso. Perceba como a erisipela permanece nos planos mais superficiais, enquanto a celulite atinge os planos mais profundos da pele. Fonte: UpToDate

acometido e, consequentemente, é possível fazer uma distinção com facilidade entre o tecido normal e o tecido patológico. Assim, torna-se mais fácil a distinção desta com a celulite que, como visto anteriormente, possui limites imprecisos em suas lesões.

Erisipela

A lesão da erisipela pode ser sensível ao toque, tem aspecto “brilhoso” e tumefeito. Para mais, por acometer o sistema linfático superficial, com isso a lesão pode apresentar aspecto de “casca de laranja”.

É importante ter em mente que suas lesões têm evolução rápida, e o paciente apresenta sintomas sistêmicos como febre, calafrios e dor de cabeça.

Lesão em “borboleta” na região malar. Fonte: Plastic Surgery Key (https://plasticsurgerykey.com/cellulitis-and-erysipelas/)
Lesão em “borboleta” na região malar. Fonte: Plastic Surgery Key

A descrição clássica da doença é o acometimento em “borboleta” da região malar e dos membros inferiores, como enfatizado anteriormente. E ainda, o envolvimento da orelha, caracterizando o sinal de Millan, que auxilia na diferenciação da celulite com a erisipela.

 Paciente com sinal de Millan, que atinge a orelha. Com esse sinal, é possível distinguir a erisipela da celulite, porque não há na orelha a derme profunda e tecido subcutâneo. Assim, esse achado indica que o paciente apresenta erisipela. Fonte: Postgraduate Medical Journal (https://pmj.bmj.com/content/96/1137/446)
Paciente com sinal de Millan, que atinge a orelha. Com esse sinal, é possível distinguir a erisipela da celulite, porque não há na orelha a derme profunda e tecido subcutâneo. Assim, esse achado indica que o paciente apresenta erisipela. Fonte: Postgraduate Medical Journal

Leia mais:

Como diagnosticar a celulite e a celulite estreptocócica?

O diagnóstico é clínico. Não é preciso utilizar exames laboratoriais em pacientes com infecções não complicadas. Entretanto, para indivíduos com celulite recorrente, testes sorológicos para o estreptococo beta-hemolítico podem ser úteis para o diagnóstico.

O diagnóstico diferencial deve ser feito com a herpes-zóster, a artrite séptica e a bursite séptica. E, também, com a dermatite de contato, vasculites e mordeduras de inseto. Para realizar o diagnóstico diferencial com a osteomielite, a ressonância magnética pode ser utilizada.

Quais os tratamentos indicados para a erisipela e para a celulite?

Erisipela leve a moderada

Utiliza-se a penicilina procaína na dose 1,2 mU, intramuscular, duas vezes ao dia. 

Erisipela grave

O tratamento é feito com a penicilina G. Utilizada na dose de 1 a 2 mU, via intravenosa, a cada 4 horas.

Celulite

Para tratar a celulite pode-se utilizar a nafcilina ou a oxacilina. A dose é de 2g, via intravenosa, a cada 4 a 6 horas.

Fontes:

  • SPELMAN, Denis. BADDOUR, Larry M. Cellulitis and skin abscess: Epidemiology, microbiology, clinical manifestation, and diagnosis. UpToDate. 2021. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/cellulitis-and-skin-abscess-epidemiology-microbiology-clinical-manifestations-and-diagnosis. Acesso em: 17/08/2021.
  • FAUCI, Jameson. et al. Medicina Interna de Harrison. Porto Alegre: AMGH, 2020.