As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil e no mundo. Segundo o Ministério da Saúde, 300 mil pessoas por ano sofrem infarto agudo do Miocárdio (IAM) e 30% delas vão a óbito. Estima-se ainda que, até 2040, os casos de IAM aumentarão em 250% no país. Por isso, compreender a aterosclerose é fundamental, já que essa é uma doença de base para diversos eventos cardiovasculares que põem em risco a vida do paciente.
A prevalência e gravidade da aterosclerose está intimamente relacionada ao número de fatores de risco que o paciente apresenta. Vários fatores de risco vão contribuir, sendo as anormalidades genéticas a característica mais importante para o desenvolvimento da doença. Além disso, hiperlipidemia, tabagismo, diabetes, inflamação e ser do sexo masculino também são considerados fatores de risco.
O que é a aterosclerose?
A aterosclerose é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo de placas de gordura, colesterol e outras substâncias nas paredes das artérias. Esse acúmulo, chamado de ateroma, pode endurecer e estreitar as artérias, reduzindo o fluxo sanguíneo.
Inicialmente assintomática, pode levar a sintomas graves como angina, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e claudicação intermitente, quando as artérias são significativamente obstruídas. Placas instáveis podem romper-se, causando oclusões agudas. O problema também pode causar aneurismas e dissecções arteriais. É uma das principais causas de morte súbita.
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Fatores de risco e fisiopatologia da aterosclerose?
A idade avançada eleva o risco de acometimento pela doença em 5 vezes, e a hipertensão aumenta esse risco em 60%, quando se compara os hipertensos com a população normotensa. Ademais, em mulheres pré-menopausadas, há o fator protetor de estrogênio, tornando complicações da aterosclerose eventos incomuns neste grupo.
![Imagem ilustrativa mostrando as camadas das artérias](https://cdn.prod.website-files.com/5f7c5ad0f02de81be2e6417c/665dbf44b8eea40041ba8adb_AD_4nXfgN_02VJV7D5YrR7MYgEM2vqwy4ZPrrqKIuoByzfkRqx-PsXiZgymFkkJ_8AiKeakocje6tw0ACt3AZW33MJpTzCOVLIJVdw3p9ea0WZtNZ1DQrEIV9aeNzHXJRQwNyK3Qiw5CPJSkzp7O39E6oVrmrYiD.webp)
Esses fatores de risco contribuem para a formação da doença através de microlesões na camada íntima do vaso. Devido a elas, inicia-se uma resposta crônica inflamatória, cursando com espessamento da camada íntima, aumentando a permeabilidade do vaso e promovendo adesão de leucócitos. Além disso, há um acúmulo de lipoproteínas na camada íntima, decorrente de fatores como a hiperlipidemia crônica.
![Lâmina histológica, com setas apontando para macrófagos espumosos](https://cdn.prod.website-files.com/5f7c5ad0f02de81be2e6417c/665dbf448494beb97a360e9c_AD_4nXffogjMYIsbrf_kjHTSkoLDjiNHauTfoK1jm1N-Hu5A9ujHjrqqADwTe51sujdJIm6r05GZ5JQ-Z5p3lFfOMKaMpofCXwt52tV6vzF3qO6w1uvC_ASu3oST1YrnieNKQdTQIkq6MDUxERN7YU5MDPxonBcW.webp)
O recrutamento de monócitos (um tipo de leucócito) e sua consequente maturação em macrófagos são imprescindíveis para a formação da placa de ateroma, componente principal da aterosclerose. Os macrófagos irão fagocitar os lipídeos na camada íntima e, agora, são denominadas células espumosas. O acúmulo dessas células formará as estrias gordurosas, lesões precursoras da aterosclerose.
![Lâmina histológica de uma artéria com placa de ateroma estável](https://cdn.prod.website-files.com/5f7c5ad0f02de81be2e6417c/665dbf440e5983af26e4d385_AD_4nXcL382oSti9bEZPMNMZyyhhHX3WBP1quSBLA2hVkol6HHC-ZoUFM_WDjZqNLSU6dKZKfOhjQ46mpTD2G7d24x8RoVVteug-GJLJsag08E-wJ6yJv7JQ6wS1YXg8YkWknIE4aqNuSsAnDks63XUavQrGkC10.webp)
Sendo assim, haverá proliferação de células musculares lisas, que também englobam esses lipídios, mas terão outra função importante para formar as placas de ateroma: a produção de colágeno. O colágeno estabiliza a placa e transforma as estrias gordurosas em ateromas maduros.
![Esquema representando as consequências clínicas da aterosclerose](https://cdn.prod.website-files.com/5f7c5ad0f02de81be2e6417c/665dbf44479aba92a13fdfe7_AD_4nXfN90IIfGPZL7-40MIkkOKzIyPZlSKFEiUlADbuVbQE7sLjX7BlBfZy3NwxS2X4CfhOvAK0B2Vg9hUvKDKFqgu1m_9MBnOliyN0MCzGnZButRamgvT4sL_SF-fQ4c2Mr382ODcypXimBrtCl_zd45HCeVw.webp)
No entanto, a inflamação crônica (provocada pelo acúmulo de colesterol e pelas microlesões na íntima) resulta em recrutamento de células imunológicas. Essas degradam o colágeno produzido, tornando as placas de ateroma instáveis. As placas instáveis representam riscos à vida do paciente, devido a maior chance de rompimento e, consequentemente, formação de trombos e aneurismas.
Para mais, o crescimento progressivo da placa, devido ao acúmulo de gordura, pode levar a estenose do vaso, provocando congestão do fluxo e aumentando o risco para isquemias.
![Imagem de uma tomografia computadorizada mostrando uma calcificação nas periferias das artérias](https://cdn.prod.website-files.com/5f7c5ad0f02de81be2e6417c/665dbf4670146c262ddd90fd_AD_4nXcC-s4v8ohbyqxAyGBuS9Iqj44AgFfCL4EyefxxLJkg_Wz3cvu3k917lnksHjibZu2sNKupYzzcxaevWqUZlvLetepSHxgPVuFdlhVYlkU_ss3oD4k7SpJ79Iw2UER3aTBlwfcWzIOzcS4SafzqUQbe6-wQ.webp)
Diante disso, as principais diretrizes atuais classificam os seguintes pacientes com risco aumentado para doença aterosclerotica:
- Homens ≥ 40 anos
- Mulheres ≥ 40 anos e mulheres na pós-menopausa
- História familiar de hipercolesterolemia familiar ou doença cardiovascular precoce
- Diabetes tipo 2
- Hipertensão
- Síndrome metabólica
- Doença renal crônica
- Tabagismo atual
- Doenças inflamatórias crônicas
- Infecção pelo HIV
- História doenças hipertensivas da gestação (pré-eclâmpsia e eclâmpsia)
Sinais e sintomas da aterosclerose
No início, a aterosclerose é assintomática por décadas. Quando sintomática, pode ocorrer sintomas isquêmicos transitórios, como a angina estável, episódios isquêmicos transitórios e claudicação intermitente. Os sintomas desenvolvem-se quando as lesões impedem o fluxo sanguíneo, principalmente quando as placas crescem e ocupam mais de 70% do lúmen arterial.
Quadros como angina instável ou IAM, AVE ou dor em repouso dos membros inferiores podem ser ocasionadas quando as placas instáveis se rompem e causam oclusão arterial aguda. O envolvimento da placa aterosclerótica, leva a disfunção endotelial e enfraquece a parede arterial, podendo levar a aneurisma e dissecções arterias.
Como realizar o diagnóstico?
O diagnóstico da aterosclerose é baseado na presença ou não de sintomas.
Nos paciente sintomáticos, com sinais e sintomas de isquemia, deve-se determinar a magnitude e a localização da oclusão vascular. Para isso, lançamos mão de exames de imagem, desde os não invasivos, como a angiotomografia, a exames invasivos por cateterismo. Além disso, deve ser realizado o perfil lipídico e metabólico do paciente.
Nos pacientes assintomáticos, é realizada a triagem pelo perfil lipídico e metabólico em pacientes com fatores de risco presentes. Exames de imagem como a TC para calcular o escore de cálcio podem ser utilizados para refinar classificação de risco do paciente.
Tratamento para a aterosclerose
O tratamento da doença aterosclerótica é baseado em tratamento não medicamentoso e tratamento medicamentoso.
O tratamento não medicamentoso é realizado através das MEV com mudança dos hábitos dietéticos e realização de atividade física, com a recomendação de 30 a 45 minutos de atividade aeróbica de 3 a 5 vezes por semana, sempre respeitando as limitações dos pacientes.
Já o tratamento medicamentoso é baseado na utilização de estatinas para reduzir o colesterol LDL, com metas variáveis a depender dos fatores de risco do paciente. Podemos calcular essas metas e a escolha da potência da estatina por meio da calculadora de risco cardiovascular da SBC. Outra medicação utilizada são os antiagregantes plaquetários, como o AAS, para a prevenção secundária de eventos cardiovasculares.
Conclusão
A aterosclerose é uma condição crônica e progressiva que afeta as artérias, podendo levar a complicações cardiovasculares graves como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral. Inicialmente assintomática, torna-se perigosa à medida que as placas de ateroma crescem e obstruem o fluxo sanguíneo. A prevenção e o tratamento eficazes são essenciais para reduzir a morbidade e mortalidade associadas à doença.
Medidas preventivas incluem mudanças no estilo de vida, como uma dieta saudável, prática regular de exercícios físicos e controle rigoroso de fatores de risco como hipertensão, diabetes e tabagismo. Medicamentos como estatinas e antiagregantes plaquetários desempenham um papel crucial na gestão da doença. Compreender a aterosclerose e adotar uma abordagem preventiva e terapêutica integrada é fundamental para melhorar a saúde cardiovascular e a qualidade de vida dos pacientes.
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FONTES:
- KUMAR, V. et al. Bases Patológicas das Doenças. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016
- FILHO, G. B. Bogliolo Patologia. 9 ed. Minas Gerais: Guanabara Koogan, 2016
- ATUALIZAÇÃO DA DIRETRIZ BRASILEIRA DE DISLIPIDEMIAS E PREVENÇÃO DA ATEROSCLEROSE. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, [s. l.], 2017
- 2019 ACC/AHA Guideline on the Primary Prevention of Cardiovascular Disease: Executive Summary. Journal American College of Cardiology, [s. l.], 2019