Carreira
Publicado em
20/4/23

Cardiologia: residência médica, mercado de trabalho e remuneração

Escrito por:
Cardiologia: residência médica, mercado de trabalho e remuneração

Se você está pensando em ingressar na residência de Cardiologia, encontrou o seu guia. Aqui falaremos a respeito do dia a dia de um residente da área, suas subespecialidades mais importantes, as habilidades necessárias para se tornar um bom cardiologista e, não menos importante, como anda seu mercado de trabalho.

Os cardiologistas compõe 4,1% do total de médicos especialistas – ou seja, com título e RQE registrados – em atividade no Brasil, o que corresponde a cerca de 20.400 profissionais trabalhando na área segundo o Demografia Médica de 2023.

É a especialidade sem acesso direto mais procurada da medicina. Não é à toa que tantos médicos procuram essa área médica. Como veremos adiante, a Cardiologia, além de ser uma área intrinsecamente interessante, vem abrindo vários novos ramos nas últimas décadas graças ao avanço da pesquisa científica e da tecnologia.

O que é Cardiologia?

A Cardiologia é responsável por estudar o sistema cardiovascular, diagnosticando, prevenindo e tratando as doenças relacionadas a esse sistema. Sendo assim, ela pode ser curativa ou preventiva. Esta área é de extrema importância, visto que a Organização Mundial de Saúde estima que cerca de um terço das mortes no mundo sejam causadas por doenças cardiovasculares.

Quais as características de um cardiologista?

Versatilidade

A Cardiologia possui uma área de campo muito ampla. Mesmo que você vá se especializar em um dos braços desse campo, precisa conhecer todos, tanto para passar pela residência quanto para ser um bom profissional – e isso requer versatilidade da sua parte. Você será clínico, mas também intervencionista, diagnóstico etc.

Boa comunicação

Todo clínico precisa ter essa habilidade muito afiada. Como cardiologista você é um clínico. Seu trabalho, mesmo que você parta para a área diagnóstica, contém muita relação médico-paciente. Para o bem de seus pacientes em tratamento e o seu próprio bem – falo aqui da formação de uma clientela – boa comunicação é essencial.

Resiliência

A maior parte dos tratamentos dentro da Cardiologia é conservador. Tratar pacientes com doenças cardiovasculares crônicas ainda é um grande desafio. Você precisará testar remédios novos, encontrar tratamentos eficazes, garantir que seus pacientes seguirão com estes, convencê-los a mudar seus estilos de vida. Sem um pouco de persistência, essa parte pode se tornar muito difícil.

Atenção às minúcias

Aqui me refiro principalmente à área diagnóstica. Diagnosticar uma doença cardiovascular pode ser um desafio – uma leitura equivocada de um eletrocardiograma, por exemplo, pode ter consequências muito sérias. Com tantas ferramentas diagnósticas em mãos, o cardiologista precisa desenvolver ao máximo sua atenção aos detalhes.

Como é a rotina de um cardiologista?

A rotina de um cardiologista depende da sua área de atuação. Sendo assim, ele pode ter um contato muito próximo com os pacientes se tiver uma prática clínica, ou quase nenhum se optar trabalhar somente com métodos diagnósticos. Sendo cardiologistas clínicos lidam com pacientes estáveis e com menos gravidade, ao contrário de quem trabalha na unidade coronariana e no pós-operatório de cirurgias cardíacas.

Os profissionais destas áreas de atuação lidam com pacientes graves. Além disso, nessas unidades eles também podem trabalhar em plantões e em escalas de sobreaviso.

Como é a residência médica em Cardiologia?

A residência médica em Cardiologia tem duração de dois anos. Foto: Reprodução/AdobeStock

A Cardiologia não é uma área de acesso direto. Ela possui pré-requisito em Clínica Médica. Com duração mínima de dois anos – e contando os dois prévios de Clínica – é uma residência que dura, ao todo, quatro anos. Raramente, porém, um cardiologista para nesse quarto ano. As subespecialidades, que são muitas, oferecem diversas vantagens acadêmicas e financeiras aos profissionais.

Além disso, falamos um pouco mais no nosso quadro do Instagram chamado 'Perfil da Residência' sobre o dia a dia do residente em Cardiologia: plantões, rodízios, carga horária teórica. O residente de cardiologia terá sua carga horária dividida entre ambulatório, consultas, cardiologia diagnóstica, unidades coronarianas e visitas rotativas a pacientes em pós-operatório de cirurgias cardíacas.

Esses ambientes se alternarão entre regimes de plantão e ambulatorial; os plantões podendo ser diurnos ou noturnos. Como dito anteriormente, a formação do cardiologista é muito ampla; logo, a atuação do residente em cardiologia também precisa ser. Por isso ele estará presente em UTIs, Prontos-Socorros, unidades cardiológicas de internação, na Clínica Médica e em unidades de exames complementares.

O que estudar para ser um residente em Cardiologia? 

Para mais, é preciso estudar de maneira direcionada ao que a sua banca vai cobrar. Pensando nisso, o Eu Médico Residente tem um curso preparatório para residência médica para quem vai cursar a Cardiologia, o R+ em Clínica Médica. No curso você tem acesso a nossa plataforma de métricas exclusiva, o EMR métricas, que conta com a nossa Inteligência artificial para mostrar o seu desempenho e a partir disso criar simulados e revisões personalizadas, adequadas às suas necessidades. Além disso, as aulas são divididas em blocos de aproximadamente 10 minutos e você pode baixá-la apenas em formato de áudio.

O contato exclusivo com os nossos professores, o banco com mais de 37 mil questões e o acompanhamento psicológico também fazem parte do pacote. Tudo isso e muito mais você encontra nos preparatórios EMR. As novas turmas para os  semi extensivos começam dia 24 de abril. 

Qual a grade de estudo de um residente médico em cardiologia?

O  Ministério da Saúde aponta uma lista de competências que o médico residente em Cardiologia deve adquirir em cada ano. Veja a seguir algumas delas:

Primeiro ano

  • Dominar conhecimentos sobre conceitos básicos, fisiopatologia, determinantes sociais do processo de saúde e doença, critérios diagnósticos e manejo terapêutico das síndromes e doenças cardiovasculares mais prevalentes
  • Acompanhar o paciente da internação até a alta hospitalar e elaborar relatório específico para seguimento ambulatorial. Dominar o seguimento ambulatorial das principais doenças cardiovasculares
  • Dominar o atendimento de pacientes com síndromes coronarianas aguda
  • Conhecer os fundamentos teóricos e as indicações de procedimentos diagnósticos por métodos de imagem como ecocardiograma (transtorácico e transesofágico), medicina nuclear em Cardiologia, tomografia e ressonância cardiovascular, coronariografia invasiva e estudo eletrofisiológico invasivo
  • Dominar o atendimento de pacientes com síndromes coronarianas crônicas; 
  • Interpretar eletrocardiograma (ECG), teste ergométrico simples e cardiopulmonar básico, monitorização dinâmica do ECG de 24h (Holter), monitorização prolongada e teste de inclinação (Tilt teste)
  • Dominar o atendimento de pacientes com outros fatores de risco cardiovascular, incluindo dislipidemia, diabetes mellitus e tabagismo, e fatores de risco não clássicos;
  • Conhecer os fundamentos teóricos e as indicações de procedimentos diagnósticos por métodos de imagem como ecocardiograma (transtorácico e transesofágico), medicina nuclear em Cardiologia, tomografia e ressonância cardiovascular, coronariografia invasiva e estudo eletrofisiológico invasivo
  • Dominar a monitorização dinâmica dos níveis pressóricos (MAPA)

Segundo ano

  • Dominar o atendimento de pacientes com doença cardíaca valvar, endocardite infecciosa e febre reumática;
  • Promover cuidados a pacientes críticos e em urgência/emergência cardiológica, incluindo manobras de ressuscitação cardiopulmonar
  • Conhecer indicações de cirurgia cardíaca, e saber reconhecer e lidar com eventuais complicações
  • Realizar interconsulta e avaliação perioperatória cardiológica
  • Dominar a prevenção e tratamento das complicações cardiovasculares do paciente com acidente vascular cerebral e doenças neurovasculares
  • Dominar a prevenção e tratamento das complicações cardiovasculares do paciente com doenças reumatológicas e autoimunes;
  • Ter noções avançadas sobre o manejo do paciente crítico em cardiologia em ambiente de pronto-socorro/emergência, UTI cardiovascular e pós-operatório de cirurgia cardíaca
  • Dominar as especificidades do atendimento de mulheres (incluindo gestantes ou em idade fértil) ou idosos com doença cardiovascular
  • Dominar técnicas de acesso vascular e pericardiocentese

Mercado de trabalho e remuneração

As doenças cardiovasculares são as maiores responsáveis por mortes não só no país, mas em todo o mundo. Isso significa que a demanda por cardiologistas está muito longe de um eventual declínio. Pelo contrário: com a ampliação do número de áreas em que se pode atuar, ela só aumenta. Um cardiologista, no passado, costumava atuar apenas na clínica.

Hoje ele pode se subespecializar em diversas áreas – algumas mais clínicas, outras mais intervencionistas; algumas mais gerais, outras mais específicas. De acordo com o site Salário, um médico cardiologista ganha em média R$7.011,05 por uma jornada de 21 horas semanais. Esse valor varia muito de acordo com a subespecialidade do cardiologista, sua carga horária, o número de locais em que ele trabalha e sua região de atuação.

O perfil da área é masculino, são quase 68% dos 20.324 especialistas. A média de idade é de quase 50 anos. E como a maioria avassaladora das especialidades, senão todas, a maior concentração de profissionais está na região sudeste

Quanto ganha um residente em Cardiologia?

Um residente de Cardiologia ganha o mesmo que todos os outros residentes no Brasil. Assim, de acordo com o Ministério da Saúde, o valor da bolsa-auxílio que antes era de R$ 3.330,43 - a partir do dia 1° de janeiro de 2022 teve um aumento de 23,29% - e passou a ser de R$4.106,09.

Quais as áreas de atuação da Cardiologia?

Como dissemos, a Cardiologia tem um campo amplo – um dos mais amplos e versáteis dentro da medicina. Um profissional pode trabalhar na saúde pública, ter um consultório particular, atender um ambulatório hospitalar e internar pacientes. Pode escolher ficar em apenas um desses locais ou em vários.

O cardiologista pode trabalhar em uma unidade coronariana realizando procedimentos (como o conhecido cateterismo), na área clínica com atividades preventivas, no pós-operatório de cirurgias cardíacas, com imagem diagnóstica, interpretando Holters e demais exames, entre outros. Abaixo falaremos sobre os três principais campos de atuação da Cardiologia.

Cardiologia Intervencionista

Um cardiologista intervencionista passará por 12 anos de formação se somarmos o tempo da faculdade e o da residência. São 6 de faculdade, 2 de Clínica Médica (pré-requisito), 2 de Cardiologia e 2 de Intervencionismo. Ele atuará realizando procedimentos durante a maior parte do tempo, como o nome já indica.

A CI trata doenças cardiovasculares por meio de cateterismo, ou seja, uma via menos invasiva que a cirurgia cardíaca padrão. Além do cateterismo, o médico também conhecerá técnicas como a estimulação cardíaca e a eletrofisiologia invasiva.

Cardiologia Diagnóstica

Um cardiologista que decidir atuar na área de diagnóstico provavelmente – a depender da sub que ele escolher, já que dentro desta área temos várias – terá quase o mesmo tempo de formação que um intervencionista ou apenas um ano a menos.

Ele focará na realização e interpretação de exames como a ecocardiografia, o Holter, a tomografia, a ressonância magnética, a cintilografia, o MAPA, o teste ergométrico, entre outros. Poderá também enveredar pela área da medicina nuclear.

Cardiologia Clínica

Dos três grandes braços da Cardiologia, esse é o mais abrangente. Um cardiologista clínico é o que terá pacientes em consultas regulares – o mais “tradicional”. Dentro desta área, ele pode escolher se especializar em doenças mais comuns, como hipertensão arterial, dislipidemias e coronariopatias. Pode, também, escolher áreas de maior complexidade, como a de transplantes ou o cardiointensivismo.

O que todas elas têm em comum é uma mais abrangente e duradoura relação médico-paciente. Se para você o contato com o paciente é imprescindível, essa sub é uma boa opção.

Conclusão

A Cardiologia é uma área interessantíssima. Ela sempre exercerá certo fascínio em quem, lá no começo da faculdade, se apaixonou pelo beletrismo da fisiologia médica. Além disso, é uma das áreas mais essenciais da medicina – você pode conhecer pessoas que nunca precisarão de um cirurgião plástico, por exemplo, mas é difícil conhecer alguém que nunca precisará dos serviços de um cardiologista.

Com o aumento da prevalência das doenças cardiovasculares na população em geral – por fatores que vão desde má alimentação e sedentarismo – a Cardiologia é uma especialidade fundamental. O lado ruim, porém, é que a maioria dos pacientes cardiológicos se tornarão pacientes crônicos, e suas patologias nem sempre terão desfechos felizes. Independente disso, ter um bom cardiologista ao seu lado fará toda a diferença.

Leia mais: