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Publicado em
6/9/22

Síndrome Coronariana Aguda: fisiopatologia e como diagnosticar

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Síndrome Coronariana Aguda: fisiopatologia e como diagnosticar

A Síndrome Coronariana Aguda (SCA) é considerada comum, sendo uma das principais causas de morte no mundo.

A cada ano, cerca de 7 milhões de pessoas recebem o diagnóstico desta síndrome. Para isso, é necessário um manejo rápido e constante atualização acerca dos tratamentos.

Neste post iremos abordar uma visão geral da SCA, sua fisiopatologia, apresentação clínica e diagnóstico!

O que é Síndrome Coronariana Aguda?

A Síndrome Coronariana Aguda é um conjunto de sinais e sintomas caracterizados pela redução abrupta do suprimento sanguíneo do coração.

A dor torácica é a sua principal manifestação.

Esse termo inclui 3 condições: angina instável, infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST (IAMSSST) e infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST).

O infarto agudo do miocárdio (IAM) é caracterizado por elevação aguda dos marcadores de lesão miocárdica, indicando necrose, associado a sinais clínicos (dor torácica ou equivalentes anginosos) ou eletrocardiográficos (alterações dinâmicas de ST ou novas ondas Q) de isquemia.

A angina se difere do infarto por não ter elevação dos marcadores da lesão miocárdica, ou seja, não há necrose.

Pode ainda, porém, ocorrer elevação dos marcadores de lesão miocárdica sem sinais clínicos ou eletrocardiográficos de isquemia, o que se caracteriza uma injúria miocárdica.

CONDIÇÕES DA SÍNDROME CORONARIANA AGUDA
Angina instável Isquemia sem elevação de marcadores (sem necrose)
IAM sem supra de ST Isquemia com elevação de marcadores, porém sem elevação do segmento ST no eletrocardiograma
IAM com supra de ST Isquemia com elevação de marcadores e com elevação do segmento ST no eletrocardiograma
Síndrome coronariana aguda. Fonte: EMR/Larissa Mesquita

Fisiopatologia

O mecanismo da Síndrome Coronariana Aguda normalmente é pela associação com a doença aterosclerótica, por meio da formação de placas ateromatosas

O acúmulo de lipídios extracelulares pode gerar a formação dessas placas que, caso rompam ou sofram erosão superficial, podem causar uma oclusão parcial ou total da artéria coronária.

Ruptura de placa ateromatosa, gerando o IAM. Fonte: GoConqr
Ruptura de placa ateromatosa, gerando o IAM. Fonte: GoConqr

 A oclusão parcial da artéria coronariana gera a angina instável ou o IAM sem supra de ST. A oclusão total gera o IAM com supra de ST.

As causas não ateroscleróticas de Síndrome Coronariana Aguda, menos comuns, incluem arterites, estreitamento luminal, trauma, anomalias congênitas, endocardite infecciosa, hematológicas, uso de cocaína, entre outras.

Tipos de infarto

O infarto pode ser dividido em 5 tipos. Confira a seguir:

TIPOS DE INFARTO
Tipo 1 Mais comum. Causado por instabilidade da placa ateromatosa.
Tipo 2 Causado pelo desbalanço entre oferta e demanda de oxigênio pelo músculo, como na dissecção coronariana, vasoespasmo, sepse.
Tipo 3 Morte súbita.
Tipo 4 Relacionado a angioplastia.
A - Precoce e com elevação de troponina, evidenciando nova isquemia.
B - Mais tardio e indica trombose ou reestenose de stent.
Tipo 5 Relacionado à cirurgia de revascularização cardíaca.
O tipo 1 do infarto é o mais comum dos 5. Fonte: CardioPapers

Apresentação clínica

A principal manifestação clínica da Síndrome Coronariana Aguda é a dor torácica do tipo anginosa, caracterizada por dor na região anterior e central do tórax, difusa, podendo irradiar para o epigástrio, mandíbula, região interescapular e braço. 

Essa dor é geralmente descrita como “pressão”, “peso” ou “aperto”. Ela tem duração maior ou igual a 10 minutos, porém não dura mais que poucas horas. 

Além disso, costuma piorar com esforço e melhorar no repouso.

Alguns sinais que indicam que a dor provavelmente não é anginosa são: piora à palpação, piora a mobilização dos braços, piora ao inspirar ou expirar, e duração de dias.

Associado ao sintoma de dor torácica, pode aparecer sudorese, dispnéia, náuseas e vômitos, tontura e sintomas de ansiedade.

Alguns pacientes, porém, podem ter dor torácica atípica ou sintomas incomuns, principalmente idosos, mulheres, portadores de doença renal crônica, diabetes ou demência e transplantados cardíacos.

A apresentação clínica do IAMCSST costuma ser mais intensa e grave que a do IAMSSST.

Exame físico

Ao exame físico a Síndrome Coronariana Aguda normalmente tem poucos achados. Podem ser observados sinais de congestão pulmonar e hipoperfusão tecidual.

Podem aparecer sinais de ameaça iminente à vida, como instabilidade hemodinâmica, sinais de baixo débito cardíaco, insuficiência respiratória e rebaixamento do nível de consciência.

Além disso, alguns sinais de risco para evolução desfavorável podem aparecer como surgimento de novo sopro cardíaco e sinais de insuficiência cardíaca (IC). 

Para isso, a classificação de Killip busca classificar o quadro dos pacientes.

Grupo Sinais clínicos Mortalidade
1 Sem sinais de IC 6%
2 Crepitações até terço média, presença de B3 17%
3 Edema agudo de pulmão 38%
4 Choque cardiogênico (hipotensão e sinais de hipoperfusão) 81%
Classificação de Killip e risco de mortalidade. Fonte: CUREM

Diagnóstico

O diagnóstico de Síndrome Coronariana Aguda é feito por meio do eletrocardiograma (ECG) e pela dosagem de marcadores biológicos de necrose miocárdica (troponina é o mais usado).

Eletrocardiograma 

O ECG deve ser feito em até 10 minutos após o início da dor.

No IAMSSST, não é visto o supradesnivelamento de ST, porém, pode ocorrer inversão da onda T ou nova onda Q patológica.

ECG de paciente com IAMSSST com onda T invertida. Fonte: Cardiopapers
ECG de paciente com IAMSSST com onda T invertida. Fonte: Cardiopapers

No IAMCSST, ocorre elevação do segmento ST de pelo menos 1 mm em duas ou mais derivações contíguas (da mesma parede).

No caso de V1 e V3, é de 1,5 mm em mulheres; 2,0 mm em homens acima de 40 anos; 2,5 mm em homens abaixo de 40 anos. Em V7 a V9, deve ser de pelo menos 0,5 mm.

PAREDE DERIVAÇÕES CORONÁRIA AFETADA
Anterior V1, V2, V3 e V4 Descendente anterior
Anterosseptal V1, V2 e V3 Descendente anterior
Lateral V5, V6, D1, aVL Circunflexa
Lateral alta D1 e aVL Circunflexa
Anterior extenso V1 a V6, D1 e aVL Tronco esquerdo
Inferior D3 e aVF Direita ou circunflexa
Ventrículo direito V1, V3R e V4R Direita
Posterior (dorsal) V7, V8 e V9 Direita
Supra de ST: derivações e parede afetada. Fonte:Pebmed
ECG de caso de IAMCSST. Supra de ST visto nas derivações D2, D3 e AVF (parede inferior) e em V5 e V6 (parede lateral). Fonte: Cardiopapers
ECG de caso de IAMCSST. Supra de ST visto nas derivações D2, D3 e AVF (parede inferior) e em V5 e V6 (parede lateral). Fonte: Cardiopapers

Existem ainda algumas alterações equivalentes à supra de ST. São elas: BRE novo, supra de aVR com infra difuso, padrão de Wellens (ondas T bifásicas ou negativas) e padrão de Winter (depressão do ponto J > 1mm, com segmento ST de padrão ascendente e ondas T positivas, largas, altas e simétricas).

Padrão de Winter. Fonte: LITFL https://litfl.com/de-winter-t-wave/
Padrão de Winter. Fonte: LITFL  

Troponina

Na Síndrome Coronariana Aguda a troponina encontra-se aumentada no IAM com ou sem supra. O protocolo de dosagem deve ser na admissão, após 1h e após 3h para observação da curva.

Os valores estão alterados acima do percentil 99. Outros possíveis marcadores, pouco usados, são: CKMB e mioglobina.

Curva dos marcadores de lesão miocárdica num infarto. Fonte: Centerlab 
Curva dos marcadores de lesão miocárdica num infarto. Fonte: Centerlab 

Outros exames complementares

A radiografia de tórax pode estimar grau de congestão pulmonar e alargamento do mediastino, além de servir para diagnóstico diferencial de dissecção de aorta.

A ecocardiografia transtorácica (ECO-TT) também pode ser útil no diagnóstico diferencial.

Conclusão

A Síndrome Coronariana Aguda é uma condição comum nos prontos-socorros, sendo uma das principais causas de morte no Brasil e no mundo.

Seu quadro é tipicamente caracterizado por uma dor torácica do tipo anginosa e seu diagnóstico é feito por meio do ECG e dosagem de troponina.

O manejo e tratamento da SCA vai depender do resultado dos exames diagnósticos, sendo dividido em IAM com supra de ST, IAM sem supra de ST e angina instável. 

No próximo post abordaremos a parte dois desse tema, com o manejo!

Leia mais:

FONTES:

  • Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Angina Instável e Infarto Agudo do Miocárdio sem Supradesnível do Segmento ST. Arq Bras Cardio. 2014; 102(3supl1): 1-61 
  • IV Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobreTratamento do Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST. Arq Bras Cardiol 2009; 93(6 supl.2): e179-e264.