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Publicado em
27/11/22

Síndrome de Klinefelter: o que é, características clínicas e manejo

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Síndrome de Klinefelter: o que é, características clínicas e manejo

A síndrome de Klinefelter é uma doença genética caracterizada principalmente por hipogonadismo e ginecomastia. Apenas cerca de 40% das concepções com síndrome de Klinefelter geram nascidos vivos, mas, normalmente, esses indivíduos não possuem menos anos de vida em relação à população geral. Apesar disso, há risco aumentado para certas comorbidades, como trombose, embolia pulmonar, diabetes e hipotireoidismo.

É uma síndrome que afeta apenas indivíduos do sexo masculino, estando presente em 1 a cada 500 homens. Caso seja identificada precocemente e o tratamento seja iniciado no tempo adequado, os resultados serão muito melhores, com menos características físicas anômalas e menos consequências psicológicas.

Definição

A síndrome de Klinefelter (SK) é uma síndrome cromossômica sexual, uma aneuploidia (presença de mais ou menos cromossomos no cariótipo – o normal é 46), sendo a trissomia a apresentação mais comum, com cariótipo 47 XXY. É causada pela não disjunção cromossômica durante a formação de gametas, que ocorre mais em casos em que a idade materna (mais comum) e/ou paterna são avançadas.

Pela presença de mais um cromossomo X, o indivíduo adquire algumas características físicas femininas, deficiência androgênica (de hormônios masculinos) e infertilidade. Além disso, a pessoa com SK possui uma maior tendência a ter problemas comportamentais, irritabilidade, baixa autoestima, ansiedade, depressão e psicoses.

Além do cariótipo 47 XXY, que é responsável por mais de 80% dos casos, pode haver mosaicismo (algumas células do organismo possuem cariótipo normal – 46 XY – e outras células com 47 XXY) em cerca de 10% dos casos. Outras apresentações conhecidas são mais raras, como as de cariótipo 48 XXXY, 48XXYY e 49 XXXXY. Quanto mais cromossomos X sobressalentes, maior a gravidade do paciente.

Características dos indivíduos na síndrome de Klinefelter

Os sinais e sintomas se tornam mais perceptíveis na adolescência ou pré-adolescência. O indivíduo apresenta as seguintes características na síndrome de Klinefelter: cabelo em região púbica de distribuição tipicamente feminina, assim como a distribuição de tecido adiposo, a voz é fina, o tamanho do pênis e dos testículos são reduzidos, a massa muscular é diminuída e há pouca libido.

A infertilidade é muito comum, mas é possível que alguns consigam reproduzir sem a necessidade de técnicas assistidas. Ela se deve a azoospermia (falta de motilidade do espermatozoide), disgenesia testicular e extensa fibrose e hialinização dos túbulos seminíferos e hiperplasia do interstício. 

A estatura costuma ser normal ou acima da média (com exceção do cariótipo 49 XXXXY, em que a estatura é mais baixa), com braços e pernas desproporcionalmente longos. O peso e o perímetro cefálico também costumam ser normais. A ginecomastia está presente em até 20% dos indivíduos, mas é rara naqueles com cariótipo 49XXXXY.

A inteligência de um indivíduo 47 XXY costuma não ser afetada, apesar de ser comum a presença de dificuldades acadêmicas, atraso na linguagem, memória a curto prazo diminuída, dislexia e transtorno de déficit de atenção. A cada X sobressalente, o QI (coeficiente de inteligência) reduz em média 15 pontos. 

A clinodactilia é característica dets disfunção. Fonte: Renata Paulos; Link da fonte: https://renatapaulos.com.br/tag/deformidades-do-dedo-minimo/
A clinodactilia é característica dets disfunção. Fonte: Renata Paulos

Cerca de 40% dos pacientes com a síndrome de Klinefelter, desenvolvem taurodontia, uma anomalia dentária, em que os dentes molares são bastante largos. Para se ter uma comparação, a incidência de taurodontia em indivíduos da população geral é menor que 1%. Outro possível achado é a clinodactilia, que é a presença de um dedo mindinho torto, característica encontrada em 25% das pessoas com SK.

A taurodontia ou taurodontismo é típica da síndrome. Fonte: Editora Plena
A taurodontia ou taurodontismo é típica da síndrome. Fonte: Editora Plena

Em alguns casos pode haver hipotonia e dispraxia, que corresponde a uma falta de destreza motora, fazendo com que o indivíduo pareça mais “desastrado”, tropeçando diversas vezes, emitindo alguns sons incorretamente, falta de orientação no espaço e má coordenação com as mãos.

Em relação aos hormônios, a gonadotrofina urinária encontra-se aumentada, assim como prolactina, FSH, LH e estradiol. A inibina B está em níveis quase indetectáveis, assim como a testosterona. Pode haver também deficiência adrenal, com cortisol diminuído. A osteocalcina (proteína óssea) também está reduzida.

Complicações

As possíveis complicações da síndrome de Klinefelter são: varizes, osteoporose, embolia pulmonar, síndrome da sela vazia, hipotireoidismo, hipoparatireoidismo, trombose venosa profunda, puberdade precoce, diabetes mellitus, além de tumor de células germinativas produtoras de gonadotrofina coriônica humana (HCG).

Diagnóstico

O diagnóstico pode ser feito ainda no pré-natal, com estudo das células da vilosidade coriônica ou de amniócitos, após a amniocentese. Caso os exames pré-natais não sejam realizados, o indivíduo com a síndrome de Klinefelter só irá se alertar aos sinais do distúrbio próximo a adolescência, onde poderá realizar os exames de FISH (hibridização in-situ fluorescente), teste de microarranjos de DNA e análise de cariótipo em linfócitos de sangue periférico.

Vale salientar que o estudo pré-natal pode ser feito também pelo NIPT (triagem pré-natal não invasiva), que analisa o DNA no sangue materno. No entanto, é um exame caro e não disponível no SUS.

Após a confirmação diagnóstica é necessário realizar acompanhamento com geneticista, endocrinologista, psicólogo, dentista, fonoaudiólogo e fisioterapeuta. É importante também a solicitação de exames de hormônios, rastreio para osteoporose (densitometria óssea) e trombose venosa profunda (coagulograma).

Os diagnósticos diferenciais são a síndrome de Marfan, síndrome do X frágil e hipogonadismo.

Tratamento para a síndrome de Klinefelter

A identificação precoce da síndrome e uma orientação terapêutica rápida são extremamente úteis e focam principalmente em 3 características do distúrbio: hipogonadismo, ginecomastia e problemas psicológicos.

É indicado que a reposição de testosterona (injeções) deva ser iniciada aos 12 anos de idade, no entanto, ela trata o hipogonadismo, mas não a ginecomastia e a infertilidade. Tem efeitos positivos sobre ansiedade, depressão e problemas sociais, mas ainda pode haver cognição reduzida e comportamento hiperativo e/ou agressivo. 

A longo prazo, a reposição androgênica gera menos risco de câncer de mama e doenças autoimunes, mas pode resultar em hiperplasia prostática benigna.

Acompanhamento com fonoaudiólogo e psicólogo também são importantes. A terapia ocupacional e fisioterapia estão indicadas para casos com dispraxia e hipotonia, respectivamente.

Para a infertilidade, recomenda-se que seja feita fertilização in vitro após microcirurgia testicular para extração de esperma (TESE). A ginecomastia só é tratada com a mastectomia (cirurgia), até então.

Conclusão 

A síndrome de Klinefelter é uma doença genética resultante de um cromossomo X a mais, trazendo características físicas anômalas aos indivíduos e alguns problemas psicológicos. Pode ser identificada ainda na gestação e apesar de não ter consequências significativas na longevidade dos pacientes, se não tratada adequadamente com reposição androgênica e acompanhada clinicamente, pode gerar algumas complicações.

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