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28/7/22

Hipotireoidismo: entenda o que é, seus sintomas e tratamento

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Hipotireoidismo: entenda o que é, seus sintomas e tratamento

O hipotireoidismo é um distúrbio da tireoide comum, com prevalência variando de 0,1 a 2% da população, sendo 8 vezes mais comum em mulheres.

Pode ser causado por uma série de razões, podendo inclusive acometer recém-nascidos. Causa diversas alterações no organismo humano, potencialmente graves.

Neste post, iremos abordar suas causas, tipos, sintomas, como diagnosticar precocemente e como tratar!

O que é hipotireoidismo?

O hipotireoidismo é uma síndrome clínica e bioquímica causada pela secreção diminuída dos hormônios tireoidianos (T3 e T4), por consequência da afecção da tireoide, hipófise e/ou hipotálamo.

Essa secreção diminuída de T3 e T4 gera quantidade insuficiente ou ausência desses hormônios, o que prejudica as funções orgânicas.

Etiologia

O hipotireoidismo pode ser causado por diferentes etiologias, sendo divididas em causas primárias (próprias da tireoide) e centrais.

Hipotireoidismo primário 

O hipertireoidismo primário é a forma mais prevalente. É causado por uma doença tireoidiana primária que leva à incapacidade total ou parcial da glândula tireoide de produzir T3 e T4. 

Pode ser de causa congênita ou adquirida. Cerca de 85% é causado por defeitos na formação glandular durante a embriogênese (disgenesia tireoidiana). 

Hipotireoidismo primário adquirido

São aquelas causas adquiridas, responsáveis pelo hipotireoidismo primário na vida adulta. Pode ser dividido em transitório, quando cessa após um certo tempo, ou permanente, quando necessita de tratamento para o resto da vida.

As causas de hipertireoidismo primário permanente são: tireoidite de Hashimoto (autoimune, causa mais comum), destruição iatrogênica (pós-cirúrgico, irradiação, substâncias), destruição infiltrativa (hemocromatose, esclerodermia, amiloidose, tireoidite de Riedel), por carência de iodo (bócio endêmico) e atrofia idiopática.

Já as causas de hipotireoidismo primário transitório, no geral, é a tireoidite subaguda.

Hipotireoidismo primário congênito

Já o hipotireoidismo primário congênito, ou simplesmente hipotireoidismo congênito, é a causa mais comum de retardo mental passível de prevenção.

Esse retardo resulta de deficiência dos hormônios tireoidianos, fundamentais na organogênese do sistema nervoso central, até os 2 anos de idade.

Geralmente, esse tipo de hipotireoidismo é decorrente de defeitos na formação glandular durante a embriogênese.

Outras possíveis causas incluem: deficiência endêmica de iodo e uso de iodo pela gestante.

No Brasil, em 2007, a média de incidência era de 1 caso para cada 2500 nascidos vivos. 

Hipotireoidismo central

O hipotireoidismo central é aquele causado por distúrbios hipofisários (secundário) e/ou hipotalâmicos (terciário).

Os distúrbios hipofisários cursam com diminuição do hormônio estimulante da tireoide (TSH), hormônio hipofisário responsável pela secreção de T3 e T4 na tireoide. Sem o TSH, a tireoide não é estimulada, o que causa diminuição de T3 e T4.

Tem como principais causas os tumores hipofisários, a síndrome de Sheehan (necrose hipofisária pós-parto) e, em crianças, o craniofaringioma

Os distúrbios hipotalâmicos cursam com diminuição do hormônio liberador de tireotrofina (TRH), hormônio hipotalâmico responsável por estimular a produção do TSH, o que consequente também causa diminuição dos hormônios tireoidianos. 

Fisiologia do eixo hipotálamo-hipófise-tireoide e hipotireoidismos. Fonte: MedicinaNet 
Fisiologia do eixo hipotálamo-hipófise-tireoide e hipotireoidismos. Fonte: MedicinaNet 

Sinais e sintomas

Os sinais e sintomas do hipotireoidismo são causados por uma desaceleração generalizada do metabolismo, causando quadro típico. São eles:

  • Fraqueza e astenia.
  • Sonolência.
  • Depressão, desânimo e apatia.
  • Dificuldade de raciocínio.
  • Diminuição da sudorese.
  • Ganho de peso.
  • Lentidão de movimento e de fala.
  • Intolerância ao frio.
  • Pele seca, espessada e descamativa.
  • Cabelos ressecados e quebradiços.
  • Edema palpebral e de membros inferiores.
  • Mixedema generalizado.
  • Constipação intestinal.
  • Bradicardia.
  • Hipertensão arterial convergente.
  • Hiporreflexia profunda.
  • Alterações menstruais – Inicialmente, menorragia. Depois, amenorreia.
  • Diminuição da libido.
  • Macroglossia.
  • Enoftalmia.
Mixedema do hipotireoidismo. Fonte: Manual MSD
Mixedema do hipotireoidismo. Fonte: Manual MSD

Quadro clínico na infância

Na criança com menos de 2 anos, há risco de desenvolvimento de cretinismo: uma deficiência mental causada por hipotireoidismo congênito. 

Além das manifestações clássicas do hipotireoidismo, a criança com cretinismo apresenta retardo mental e baixa estatura. Em alguns casos, é observado surdez-mudez.

Na criança acima de 2 anos, não ocorre retardo mental, sendo comum atraso no desenvolvimento puberal.

Manifestações clássicas no recém-nascido

Apresenta 5% das crianças com hipotireoidismo congênito vai apresentar quadro clínico clássico para diagnóstico precoce, podendo aparecer os primeiros sintomas até 2 anos de idade.

Porém, se sintomas presentes, os mais comuns são: icterícia prolongada, choro rouco, sonolência e dificuldade de alimentação

Outros sintomas possíveis são lanugem fetal, macroglossia, língua protusa, apatia, hipotonia, dificuldade para sugar, obstrução intestinal, hérnia umbilical e abdome protuso.

Diagnóstico

O diagnóstico do hipotireoidismo é realizado basicamente com exames laboratoriais, com dosagem sérica de TSH, T3 e T4.

Exames laboratoriais

Pacientes com sintomas sugestivos de hipotireoidismo devem ter dosagem sérica de TSH solicitada. Caso o TSH sérico esteja elevado, deve ser repetido junto com a dosagem de T4 sérico livre

Se o TSH vier novamente elevado, o valor do T4 livre vai determinar o tipo de hipotireoidismo.

Hipertireoidismo primário ↑TSH e ↓T4
Hipertireoidismo subclínico ↑TSH e T4 normal
Hipertireoidismo central TSH e T4 normais em 2 dosagens com claros sintomas de hipotireoidismo
Diagnóstico do hipotireoidismo. Fonte: EMR

Outros achados inespecíficos dos exames laboratoriais podem incluir: anemia macrocítica, aumento de enzimas musculares, hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia, hiperprolactinemia, hiponatremia e hipoglicemia.

Hipotireoidismo central

O hipotireoidismo central pode precisar de outros exames para fechamento de diagnóstico, já que apresenta TSH e T4 normais nos exames laboratoriais.

Caso já seja do conhecimento a existência de doença hipofisária ou hipotalâmica, já é possível diagnosticar.

Caso contrário, exames de neuroimagem podem ajudar a identificar possíveis causas de hipotireoidismo central, como tumores.

Além disso, pode-se realizar o teste do TRH. Realiza-se infusão de TRH e, se for observado elevação do TSH, pode diagnosticar hipotireoidismo terciário.

Hipotireoidismo subclínico

O hipotireoidismo subclínico, ou doença tireoidiana mínima, é definido pela elevação do nível de sérico de TSH sem diminuição do T4 livre. Pode ser o primeiro sinal de disfunção de tireoide. Porém, seu tratamento ainda é controverso.

Teste do pezinho

O diagnóstico precoce do hipotireoidismo congênito, no máximo com 20 a 30 dias de nascido, é essencial para evitar cretinismo e lesões cerebrais irreversíveis. Para isso, deve-se realizar o teste do pezinho em todos os recém-nascidos.

É a melhor maneira de diagnosticar hipotireoidismo congênito. É feito a partir da coleta de sangue do calcanhar do neonato, sendo entre o 3° e 5° dias de vida a fase ideal.

Passo a passo do teste do pezinho para diagnóstico do hipotireoidismo congênito e outras doenças. Fonte: Site Diagnósticos do Brasil
Passo a passo do teste do pezinho para diagnóstico do hipotireoidismo congênito e outras doenças. Fonte: Site Diagnósticos do Brasil

Tratamento

Na maioria dos pacientes, o hipotireoidismo é uma condição permanente que requer tratamento ao longo da vida. A terapia consiste na reposição do hormônio tireoidiano

O objetivo da terapia é a restauração do estado eutireoidiano, que pode ser prontamente alcançado em quase todos os pacientes por administração oral de T4 sintética (levotiroxina).

A dose média de reposição total de T4 em adultos é de 1,6 mcg/kg/dia (112 mcg/dia em um adulto de 70 kg), mas o intervalo de dose é amplo, variando de 50 a ≥200 mcg/dia. 

A dose inicial pode ser a dose total prevista em jovens e pacientes saudáveis. Em pacientes idosos ou com doença coronariana, com duração do hipotireoidismo desconhecida, deve ser iniciada com uma dose mais baixa (25 a 50 mcg por dia).

Se a duração do hipotireoidismo for de conhecimento e for curta, cerca de menos de 2 meses, em pacientes idosos ou coronariopatas a dose pode ser de dois terços a três quartos da dose prevista necessária.

No hipotireoidismo primário, o objetivo é manter o TSH sérico abaixo da metade dos níveis de referência do laboratório.

Uma vez ajustada a dose, o TSH deve ser checado anualmente, podendo passar para intervalos de 2 a 3 anos posteriormente.

Coma mixedematoso

O como mixedematoso é uma emergência clínica causada pelo hipotireoidismo. Caracteriza-se por quadro de diminuição do nível de consciência, hipoventilação, hipotermia, bradicardia, hiponatremia e hipoglicemia.

O tratamento é feito com levotiroxina em altas doses, hidrocortisona venosa (para evitar insuficiência suprarrenal), suporte ventilatório, aquecimento, correção da hipotermia, hiponatremia e hipoglicemia.

Conclusão

O hipertireoidismo é uma condição comum, com quadro clássico, que pode, porém, causar complicações importantes.

O reconhecimento dos sintomas clássicos e como diagnosticar é essencial para a remissão dos sintomas.

Além disso, o conhecimento e diagnóstico precoce do hipotireoidismo congênito é de grande importância a fim de prevenir cretinismo e retardo mental.

Pode ser tratado com tiroxina sintética, que apresenta boas respostas.

Leia Mais:

FONTE

ROSS, Douglas. Diagnosis of and screening of hypothroidism in nonpregnante adults. UpToDate. 2022. 

OLIVEIRA, Vanessa; MALDONADO, Rafael. HIPOTIREOIDISMO E HIPERTIREOIDISMO – UMA BREVE REVISÃO SOBRE AS DISFUNÇÕES TIREOIDIANAS. 2014. Disponível aqui.

 Porto & Porto. Semiologia Médica. 8ª edição.