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Publicado em
15/7/22

Cisto no testículo: entenda o que pode ser e como manejar

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Cisto no testículo: entenda o que pode ser e como manejar

O aparecimento de cisto no testículo é uma queixa comum na prática clínica, podendo surgir em homens de qualquer idade.

Nem sempre essa queixa representa um sinal de câncer de testículo, o que vai necessitar uma avaliação bem feita.

Neste post abordaremos o que é esse tipo de cisto, quais as principais causas e como tratar!

O que é cisto no testículo?

Um cisto é uma pequena bolsa formada por acúmulo de líquido, que pode ser causado por diversas razões, como infecções, obstruções e genética.

Um cisto no testículo ocorre quando essa alteração se forma na região testicular

Pode ser confundido com um nódulo, que é uma formação sólida e é de grande importância diferenciar os dois no exame físico.

Quais os sintomas do cisto no testículo?

Esses caroços podem ser sintomáticos ou assintomáticos.

Quando sintomáticos, pode aparecer dor ou desconforto no testículo afetado, sensação de peso e inchaço.

Se a dor ocorrer de forma intensa e repentina, outros diagnósticos devem ser pensados, como a torção de testículo

Caso ocorram outras manifestações clínicas como febre e calafrios, é preciso pensar em causas infecciosas, como epididimite e orquite.

Diagnóstico de cisto no testículo

Para um diagnóstico adequado é necessário um exame dos testículos. Assim, primeiramente, deve-se diferenciar nódulo e cisto

Causas de nódulos, como câncer e epididimite, devem ser afastadas. Para isso, é preciso caracterizar bem a alteração, buscando dor a palpação, textura, temperatura, sensibilidade e mobilidade.

Além disso, deve caracterizar tamanho, consistência e há quanto tempo surgiu. E ainda, evolução, cor, sintomas associados e sinais de infecção.

Exame físico dos testículos. Fonte: Dr. José Alexandre Pedrosa
Exame físico dos testículos. Fonte: Dr. José Alexandre Pedrosa

Para mais detalhes, podem ser solicitados exames complementares de imagem, como ultrassonografia e ressonância magnética.

Na suspeita de infertilidade, um espermograma deve ser solicitado.

Imagem de USG mostrando cisto no terço médio do testículo esquerdo. Fonte: Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem
Imagem de USG mostrando cisto no terço médio do testículo esquerdo. Fonte: Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem

Quando essa alteração for bem classificada como cística, existem 3 principais diagnósticos possíveis: espermatocele, hidrocele e varicocele.

Espermatocele

Cisto próximo ao testículo e cordão espermático, caracterizando espermatocele. Fonte: Wikiwand 
Cisto próximo ao testículo e cordão espermático, caracterizando espermatocele. Fonte: Wikiwand 

A espermatocele, ou cisto de epidídimo, se forma na região do epidídimo, uma estrutura localizada acima dos testículos, que é o canal responsável por transportar o esperma. 

Ele é causado por um acúmulo de espermatozóides, causado por uma obstrução do canal.

O quadro pode aparecer associado a sintomas ou não. Vale salientar, que, normalmente, não reduz a fertilidade do homem.

Hidrocele

Testículo normal X Testículo com hidrocele. Fonte: Urocentro
Testículo normal X Testículo com hidrocele. Fonte: Urocentro

 A hidrocele é um tipo de cisto no testículo que provoca o acúmulo de líquido entre o testículo e a túnica vaginal que o envolve. Podendo ser classificado em comunicante ou simples.

Hidrocele comunicante

A hidrocele comunicante ocorre por defeitos na obliteração, que é a migração do testículo do abdome para bolsa escrotal durante a gestação. Caso ela não ocorra de forma completa, acaba permitindo comunicação entre cavidade abdominal e bolsa escrotal.

Essa comunicação pode levar a passagem de líquido peritoneal para o interior da túnica vaginal, formando a hidrocele. Além de aumentar o risco de hérnias inguinais.

Este tipo é mais comum em recém-nascidos e em crianças. Além disso, o surgimento tardio é incomum.

Para identificá-la, se faz necessário saber que o volume geralmente se altera com manobras digitais e mudança de decúbito. 

Hidrocele simples

A hidrocele é dita como simples quando ocorre mesmo sem associação a defeitos na obliteração

Nas crianças, costuma ser bilateral, de volume considerável, não redutível à manobras digitais ou mudanças de decúbito, indolor e percebida ao nascimento.

Em adultos, resulta em aumento na produção de líquido pela túnica vaginal, como em casos de virose, trauma e defeitos na absorção, que ocorre em pacientes com filariose.

Para mais, no exame físico costuma-se encontrar transiluminação presente e bolsa escrotal tensa.

Varicocele

Testículo normal X Tesículo com varicocele. Fonte: Tiago Mierzwa
Testículo normal X Tesículo com varicocele. Fonte: Tiago Mierzwa

 A varicocele corresponde à dilatação das veias do plexo pampiniforme do cordão espermático

Cerca de 15% da população adulta masculina apresenta algum grau de varicocele, sendo ela mais comum à esquerda (70%).

Este cisto no testículo pode causar infertilidade - por gerar refluxo de metabólicos adrenais - aumento da temperatura escrotal e hipóxia testicular, afetando espermatogênese.

Quando observada em crianças e adolescentes pode gerar uma atrofia testicular.

No espermograma, os espermatozoides podem aparecer em menor número (oligospermia), com motilidade reduzida (astenospermia) e/ou formas anormais.

Além disso, pode ser classificada em 3 graus, a depender da palpação e visualização dos vasos. Confira no quadro a seguir. 

CLASSIFICAÇÃO DA VARICOCELE
Grau I Vasos palpáveis à manobra de Valsava
Grau II Vasos palpáveis e visíveis à manobra de Valsava
Grau III Vasos visíveis em posição supina, sem necessidade de manobra de Valsava
Imagens de varicocele grau 3, na qual os vasos são visíveis sem manobra de Valsalva. Fonte: https://www.urologia-jau.com.br/varicocele/
Imagens de varicocele grau 3, na qual os vasos são visíveis sem manobra de Valsalva. Fonte: Hospital Amaral Caravalho

Tratamentos

Espermatocele

Caso seja sintomática, este tipo de cisto no testículo pode ser tratado com uso de anti-inflamatórios não esteroidais, a fim de reduzir a inflamação local. O tratamento costuma durar 2 semanas.

Se a melhora não for observada, pode-se realizar uma cirurgia, a espermatocelectomia, para retirada do cisto.

Hidrocele 

O tratamento é expectante em crianças até 2 anos, pois há resolução espontânea na maioria dos casos.

A abordagem cirúrgica está indicada apenas nos casos persistentes após os 2 anos e para aquele de grande volume

Em crianças, aborda-se a via inguinal para fechamento de conduto. Já em adultos, aborda-se via escrotal.

Varicocele

O tratamento para pacientes com infertilidade é a correção cirúrgica, por meio de ligadura das veias do plexo pampiniforme.

Para crianças e adolescentes, faz-se cirurgia se houver atrofia testicular causando assimetria significativa (>20%).

Caso o indivíduo manifeste dor e/ou fator estético, a indicação cirúrgica é discutível.

Prevenção

Os cistos nos testículos não podem ser prevenidos de forma primária, ou seja, não é possível evitar seu aparecimento. 

Porém, podem ser prevenidos de forma secundária, buscando o diagnóstico precoce, por meio do autoexame do testículo.

Os homens não têm o hábito de realizar o autoexame, o que deve ser estimulado. Qualquer sinal de alteração, recomenda-se a busca por um urologista.

Saúde do homem

Persiste uma grande resistência por parte de muitos homens para se consultarem, especialmente com o urologista. 

Culturalmente, ainda existe um grande paradigma acerca dos exames preventivos necessários, como o autoexame do testículo e o toque retal para examinar a próstata.

Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) revelou que 49% dos homens acima dos 45 anos nunca realizaram o exame preventivo do toque da próstata.

Isso dificulta o diagnóstico, aumenta o risco de complicações e aumenta o risco de morte da população masculina.

Conclusão

Cistos no testículo são alterações comuns que, apesar de em geral serem benignas, podem ser confundidas com alterações malignas, como câncer de testículo.

Saber diferenciar e diagnosticá-los, além de saber tratar, é importante, já que eles podem ser incapacitantes e até mesmo podem gerar complicações futuras, como atrofia testicular e infertilidade.

Além disso, podem gerar alterações estéticas que, geralmente, impactam na autoestima dos pacientes.

Leia mais:

FONTE:

  • CALADO, Adriano; et. al. Urologia geral para o estudante de medicina. Universidade de Pernambuco.