A otite externa necrotizante (OEN) é uma infecção grave do canal auditivo externo, com altas taxas de mortalidade. Normalmente, ocorre em pacientes idosos com diabetes mellitus ou imunocomprometidos. Nos Estados Unidos, acomete cerca de 4 a cada 1000 pessoas anualmente.
Neste post iremos entender o que é a otite externa necrotizante, seus sintomas, como diagnosticar e tratar!
O que é Otite Externa Necrotizante?
A otite externa necrotizante é uma infecção invasiva e grave do conduto auditivo externo (orelha externa) e da base do crânio. Pacientes idosos com diabetes mellitus são os mais acometidos, assim como pacientes vivendo com HIV e AIDS, mostrando relação com imunodeficiência.
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Anatomia do aparelho auditivo. Fonte: Conhecimento Científico https://conhecimentocientifico.com/audicao/
Duas possíveis explicações para o maior número de OEN em pacientes diabéticos seria devido a microangiopatia do canal auditivo, que pode ocorrer em indivíduos mais velhos e o aumento do pH no cerúmen. Também é vista uma maior prevalência entre os indivíduos que realizam retirada de cerúmen e que expõem o conduto auditivo à água com maior frequência.
O principal agente etiológico é a Pseudomonas aeruginosa, responsável por mais de 95% dos casos. Outros agentes etiológicos comuns são Aspergillus sp., Staphylococcus aureus, Proteus mirabilis, Klebsiella oxytoca, etc.
Sintomas da otite externa necrotizante
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Lesão necrótica em conduto auditivo externo. Fonte: BJORL http://oldfiles.bjorl.org/conteudo/acervo/acervo.asp?id=1497
Os sintomas clássicos da otite externa necrotizante são a otalgia intensa e a otorreia, que são irresponsivos a medidas tópicas usadas na otite externa simples. A otalgia costuma ser pior durante a noite e se estende até a articulação temporomandibular (ATM), causando dor durante a mastigação.
Também podem aparecer cefaleia e edema, além de sensibilidade na região auricular. Outros sintomas como febre e taquicardia são incomuns. No exame físico, pode ser visto tecido de granulação, geralmente na junção osteocartilaginosa do conduto auditivo externo.
À medida que a infecção evolui, pode ocorrer osteomielite da base do crânio e da ATM, podendo gerar ainda uma paralisia de nervos cranianos. Outras complicações que podem ocorrer, ainda, são meningite, trombose séptica de seios venosos e abscesso cerebral, que costumam resultar em morte.
Classificação de gravidade
A OEN pode ser classificada de acordo com a gravidade, sendo Corey e Benecke. Sendo dividida em 3 tipos, sendo a 1 menos grave e a 3 a mais grave.
Diagnóstico da Otite Externa Necrotizante
O diagnóstico da otite externa necrotizante é feito por meio da clínica, associada a exames complementares.
Exames laboratoriais
Os exames laboratoriais costumam estar normais, com exceção da PCR que costuma se elevar. A cultura da secreção da orelha deve ser realizada, buscando o agente etiológico. Além disso, pode-se realizar hemocultura no intuito de direcionar antibioticoterapia.
Exames de imagem
Os exames de imagem não são essenciais para o diagnóstico, porém podem ser úteis. A tomografia computadorizada de ossos temporais e a ressonância magnética permitem avaliar a erosão óssea e permitem também que seja feita uma melhor avaliação do local da doença. Em relação a osteomielite, os melhores exames são a cintilografia com gálio ou tecnécio.
Biópsia
A biópsia é indicada para diferenciar a OEN de carcinoma de células escamosas do temporal, geralmente reservado apenas para aqueles que não responderam à terapia para P. aeruginosa.
Tratamento da otite externa necrotizante
O tratamento da otite externa necrotizante é a antibioticoterapia sistêmica de 6 a 8 semanas para Pseudomonas. Para pacientes imunocompetentes com OEN não complicada, recomenda-se o uso de monoterapia com ciprofloxacino, iniciando com 400 mg IV de 8/8h até ser observado resposta clínica ou queda do PCR. Logo após, pode passar para ciprofloxacino 750 mg VO 12/12h.
Para pacientes imunodeprimidos ou com quadro clínico exuberante indica-se a combinação de ciprofloxacino com antibiótico betalactâmico (piperacilina, piperacilina-tazobactam, ceftazidime, cefepime ou meropenem) até haver melhora clínica. Em seguida, deve-se optar pela monoterapia com ciprofloxacino.
Se o agente etiológico for o Aspergillus, recomenda-se tratamento por mais de 12 semanas, com voriconazol ou anfotericina B lipossomal. Além disso, é importante o controle da glicemia no paciente diabético.
Conclusão
A otite externa necrotizante é uma infecção do conduto auditivo externo potencialmente fatal, causada normalmente pela Pseudomonas aeruginosa. Tem seu quadro clínico bastante caracterizado por otalgia intensa, otorreia, presença de tecido granuloso e possivelmente acometimento de nervos cranianos com paralisia.
Pode ser diagnosticado por meio da clínica, com exames complementares e tratado por meio do uso de antibioticoterapia sistêmica, com ciprofloxacino associado ou não a um betalactâmico.
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FONTES:
- GRANDIS, Jennifer. Malignant (necrotizing) external otitis. UpToDate. 2022.
- Manejo clínico das otites externas. Universidade Federal do Triângulo Mineiro. 2021.