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Publicado em
23/12/22

Otite externa necrotizante: o que é e como tratar

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Otite externa necrotizante: o que é e como tratar

A otite externa necrotizante (OEN) é uma infecção grave do canal auditivo externo, com altas taxas de mortalidade. Normalmente, ocorre em pacientes idosos com diabetes mellitus ou imunocomprometidos. Nos Estados Unidos, acomete cerca de 4 a cada 1000 pessoas anualmente.

Neste post iremos entender o que é a otite externa necrotizante, seus sintomas, como diagnosticar e tratar!

O que é Otite Externa Necrotizante?

A otite externa necrotizante é uma infecção invasiva e grave do conduto auditivo externo (orelha externa) e da base do crânio. Pacientes idosos com diabetes mellitus são os mais acometidos, assim como pacientes vivendo com HIV e AIDS, mostrando relação com imunodeficiência. 

Anatomia do aparelho auditivo. Fonte: Conhecimento Científico https://conhecimentocientifico.com/audicao/ 

Duas possíveis explicações para o maior número de OEN em pacientes diabéticos seria devido a microangiopatia do canal auditivo, que pode ocorrer em indivíduos mais velhos e o aumento do pH no cerúmen. Também é vista uma maior prevalência entre os indivíduos que realizam retirada de cerúmen e que expõem o conduto auditivo à água com maior frequência. 

O principal agente etiológico é a Pseudomonas aeruginosa, responsável por mais de 95% dos casos. Outros agentes etiológicos comuns são Aspergillus sp., Staphylococcus aureus, Proteus mirabilis, Klebsiella oxytoca, etc.

Sintomas da otite externa necrotizante

Lesão necrótica em conduto auditivo externo. Fonte: BJORL http://oldfiles.bjorl.org/conteudo/acervo/acervo.asp?id=1497 

Os sintomas clássicos da otite externa necrotizante são a otalgia intensa e a otorreia, que são irresponsivos a medidas tópicas usadas na otite externa simples. A otalgia costuma ser pior durante a noite e se estende até a articulação temporomandibular (ATM), causando dor durante a mastigação. 

Também podem aparecer cefaleia e edema, além de sensibilidade na região auricular. Outros sintomas como febre e taquicardia são incomuns. No exame físico, pode ser visto tecido de granulação, geralmente na junção osteocartilaginosa do conduto auditivo externo. 

À medida que a infecção evolui, pode ocorrer osteomielite da base do crânio e da ATM, podendo gerar ainda uma paralisia de nervos cranianos. Outras complicações que podem ocorrer, ainda, são meningite, trombose séptica de seios venosos e abscesso cerebral, que costumam resultar em morte.

Classificação de gravidade

A OEN pode ser classificada de acordo com a gravidade, sendo Corey e Benecke. Sendo dividida em 3 tipos, sendo a 1 menos grave e a 3 a mais grave.

CLASSIFCAÇÃO DA GRAVIDADE DA OTITE EXTERNA NECROTIZANTE
COREY 1 – Infecção do osso e dos tecidos moles sem envolvimento dos nervos cranianos ou lesões intracranianas.
2 – Paralisia de nervos cranianos.
3 - Meningite, empiema subdural ou extradural e abscesso cerebral.
BENECKE 1 – Infecção necrotizante limitada aos tecidos moles e à cartilagem
2 – Infecção necrotizante envolvendo tecidos moles e osso temporal.
3 – Infecção necrotizante envolvendo tecidos moles, osso temporal e base do crânio ou estruturas intracranianas.
Classificação de gravidade da OEN. Fonte: UFTM

Diagnóstico da Otite Externa Necrotizante

O diagnóstico da otite externa necrotizante é feito por meio da clínica, associada a exames complementares.

Exames laboratoriais 

Os exames laboratoriais costumam estar normais, com exceção da PCR que costuma se elevar. A cultura da secreção da orelha deve ser realizada, buscando o agente etiológico. Além disso, pode-se realizar hemocultura no intuito de direcionar antibioticoterapia. 

Exames de imagem

Os exames de imagem não são essenciais para o diagnóstico, porém podem ser úteis. A tomografia computadorizada de ossos temporais e a ressonância magnética permitem avaliar a erosão óssea e permitem também que seja feita uma melhor avaliação do local da doença. Em relação a osteomielite, os melhores exames são a cintilografia com gálio ou tecnécio.

Biópsia

A biópsia é indicada para diferenciar a OEN de carcinoma de células escamosas do temporal, geralmente reservado apenas para aqueles que não responderam à terapia para P. aeruginosa.

Tratamento da otite externa necrotizante

O tratamento da otite externa necrotizante é a antibioticoterapia sistêmica de 6 a 8 semanas para Pseudomonas. Para pacientes imunocompetentes com OEN não complicada, recomenda-se o uso de monoterapia com ciprofloxacino, iniciando com 400 mg IV de 8/8h até ser observado resposta clínica ou queda do PCR. Logo após, pode passar para ciprofloxacino 750 mg VO 12/12h. 


Para pacientes imunodeprimidos ou com quadro clínico exuberante indica-se a combinação de ciprofloxacino com antibiótico betalactâmico (piperacilina, piperacilina-tazobactam, ceftazidime, cefepime ou meropenem) até haver melhora clínica. Em seguida, deve-se optar pela monoterapia com ciprofloxacino.

DOSES DOS BETALACTÂMICOS PARA ADULTOS
Piperaciclina 3g EV 4/4h ou 4g EV 6/6h
Piperaciclina-tazobactam 4,5g EV 6/6h
Ceftazidime 2g EV 8/8h
Cefepime 2g EV 12/12h
Meropenem 2g EV 8/8h
Doses dos betalactâmicos para tratamento de otite externa necrotizante em adultos. Fonte: UpToDate

Se o agente etiológico for o Aspergillus, recomenda-se tratamento por mais de 12 semanas, com voriconazol ou anfotericina B lipossomal. Além disso, é importante o controle da glicemia no paciente diabético.

Conclusão

A otite externa necrotizante é uma infecção do conduto auditivo externo potencialmente fatal, causada normalmente pela Pseudomonas aeruginosa. Tem seu quadro clínico bastante caracterizado por otalgia intensa, otorreia, presença de tecido granuloso e possivelmente acometimento de nervos cranianos com paralisia. 

Pode ser diagnosticado por meio da clínica, com exames complementares e tratado por meio do uso de antibioticoterapia sistêmica, com ciprofloxacino associado ou não a um betalactâmico. 

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