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Publicado em
5/10/23

Sarcopenia: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento

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Sarcopenia: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento

A Sarcopenia é uma condição prevalente nos pacientes geriátricos e é, direta ou indiretamente, responsável por grande morbidade e comorbidade dos idosos. Seja pelo alto risco de queda com traumas ou por problemas psíquicos gerados pela dependência para realizar tarefas, essa condição impacta diretamente na qualidade de vida, devendo sempre ser bem investigada e manejada por um time interdisciplinar de profissionais da saúde.

O que é Sarcopenia? 

A Sarcopenia é uma síndrome abrangente que se define por uma perda progressiva e involuntária de tecido muscular esquelético, causando também perda de função e força, reduzindo o desempenho físico global. Essa perda influencia diretamente em desfechos negativos como acidentes e agravamento de condições de saúde por baixa reserva funcional, especialmente nos idosos.

Essa condição pode ser classificada em Primária ou Secundária. A Sarcopenia Primária é aquela relacionada à idade avançada (com critério de 60 anos) ou se nenhuma outra causa específica foi identificada. Já a Sarcopenia Secundária possui fatores aparentes de perda de massa muscular, como: má nutrição, síndromes disabsortivas, anorexia, inatividade física, imobilidade, iatrogenia e doenças crônicas (cardiorrespiratórias, oncológicas, endocrinometabólicas, entre outras).

Principais sintomas da Sarcopenia 

O paciente portador de Sarcopenia frequentemente chegará à assistência de saúde com queixas de: perda de força, perda de volume muscular em membros superiores e inferiores, perda de peso, quedas e acidentes frequentes. Além disso, também relatam dificuldade para manter o equilíbrio, para realizar atividades básicas da vida diária e instrumentais, lentificação dos movimentos e depressão, sendo essa última uma consequência emocional dos sintomas anteriores.

Como diagnosticar a Sarcopenia? 

De acordo com a European Working Group on Sarcopenia in Older People 2 (EWGSOP2), o algoritmo do diagnóstico da Sarcopenia deve ser dividido em etapas. Elas devem seguir o raciocínio que visa "encontrar, avaliar, confirmar e estabelecer a gravidade dos casos", objetivando facilitar o diagnóstico e manejo na prática clínica. 

Primeira etapa: encontrar o caso

Recomenda-se o uso do questionário SARC-CalF. Esse tem sua graduação que varia entre 0 e 20, sendo sugestivo de sarcopenia caso o paciente obtenha ≥ 11 pontos. Além disso, caso ele chegue na assistência já com sintomas mencionados anteriormente, a pontuação mínima não precisa ser atingida para que se inicie a investigação do quadro.

SARC-CalF
Componentes Perguntas Pontuação
Força O quanto de dificuldade você tem para levantar e carregar 5 kg? Nenhuma = 0Alguma = 1Muita ou não consegue = 2
Ajuda para caminhar O quanto de dificuldade você tem para atravessar um cômodo? Nenhuma = 0 Alguma = 1Muita, usa apoios ou é incapaz = 2
Levantar da cadeira O quanto de dificuldade você tem para levantar de uma cama ou cadeira? Nenhuma = 0Alguma = 1Muita ou não consegue sem ajuda = 2
Subir escadas O quanto de dificuldade você tem para subir um lance de escadas de10 degraus? Nenhuma = 0Alguma = 1Muita ou não consegue = 2
Quedas Quantas vezes você caiu no último ano? Nenhuma = 01 - 3 quedas = 14 ou mais quedas = 2
Circunferência da Panturrilha Medir CP da perna direita com paciente em pé, com os pés afastados 20 cm e com as pernas relaxadas Mulheres CP > 33 cm = 0, CP ≤ 33 cm = 10HomensCP > 34 cm = 0, CP ≤ 34 cm = 10
Questionário SARC-CalF para Sarcopenia. Fonte: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

Segunda etapa: avaliar força muscular 

Para esta etapa podem ser usados 2 testes: a medição da força da preensão palmar ou o teste de sentar e levantar da cadeira. O primeiro teste utiliza um Dinamômetro o qual o(a) paciente segura com uma das mãos e fecha o punho com a maior intensidade que puder. Nesse exame, os valores indicativos de perda de força musculoesquelética são < 27 kg para homens e < 16 kg para mulheres. 

Ainda na segunda etapa, outra possibilidade de método para avaliação é observar enquanto o paciente realiza o exercício de sentar em uma cadeira e levantar sem o auxílio dos braços, repetindo até totalizar 5 movimentos. O valor que indica prejuízo desse método avaliativo é > 15 segundos para a finalização do comando.

Posição correta para o teste: Indivíduo sentado, com as costas apoiadas numa cadeira e os braços cruzados sobre o tronco. A recomendação é que se realize o teste o mais rápido possível. Considere uma única tentativa. Fonte: Recomendações para Diagnóstico e Tratamento da Sarcopenia no Brasil  link:  https://sbgg.org.br/wp-content/uploads/2022/04/1649787227_Manual_de_Recomendaes_para_Diagnstico_e_Tratamento_da_Sarcopenia_no_Brasil-1.pdf
Posição correta para o teste: Indivíduo sentado, com as costas apoiadas numa cadeira e os braços cruzados sobre o tronco. A recomendação é que se realize o teste o mais rápido possível. Considere uma única tentativa. Fonte: Recomendações para Diagnóstico e Tratamento da Sarcopenia no Brasil  

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Terceira Etapa: confirmação de quantidade muscular 

Faz-se o uso da Absorciometria de dupla energia por raios X (DEXA), análise da bioimpedância elétrica (BIA), tomografia computadorizada ou ressonância magnética. É considerada uma redução significativa da Massa Muscular Esquelética Apendicular (MMEA) se <20 kg para homens ou <15 kg para mulheres. Esses valores em porcentagem correspondem a < 7 kg/m2 para homens e < 5.5 kg/m2 para mulheres.

Caso os exame anteriores não estejam disponíveis, é possível usar a Equação de Lee: MMEA = (0,244 x peso corporal em kg) + (7,8 x altura em metros) + (6,6 x sexo) – (0,098 x idade) + (raça – 3,3). 

O valor 0 deve ser usado para o sexo feminino e 1 para o sexo masculino. Da mesma forma, o valor 0 deve ser usado para brancos, 1.4 para negros e 1.2 para asiáticos. Os valores alterados são <8,9 kg/m2 para homens e <6,4 kg/m2 para mulheres.

Quarta etapa: estabelecer a gravidade

Esta última etapa é realizada pelo uso do Teste de Velocidade da Marcha. A redução da velocidade da marcha é definida como um valor ≤ 0,8 m/s em 4 metros. Existem outros testes que se equivalem a esse, como o Timed Up and Go Test (TUGT), em que o paciente deve estar sentado e ter o tempo cronometrado enquanto levanta-se, anda 3 metros, gira 180º no seu eixo e volta a sentar-se na cadeira. Os resultados do TUGT podem ser vistos abaixo:

Até 10 segundos Desempenho normal para adultos saudáveis
Entre 11 e 20 segundos "Normal para idosos frágeis ou com debilidade mas que se mantém independentes na maioria das atividades da vida diária"
Entre 21 e 29 segundos Avaliação funcional obrigatória. Indicado abordagem específica para a prevenção de queda (risco moderado)
Maior ou igual a 30 segundos Avaliação funcional obrigatória. Indicado abordagem específica para a prevenção de queda (alto risco)
Resultados do teste Timed Up and Go (TUGT). Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos.

Após a realização dos exames acima, associa-se os resultados ao fluxograma da EWGSOP2 traduzido pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia:

Fluxograma diagnóstico da Sarcopenia. Fonte: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia link: https://sbgg.org.br/wp-content/uploads/2022/04/1649787227_Manual_de_Recomendaes_para_Diagnstico_e_Tratamento_da_Sarcopenia_no_Brasil-1.pdf
Fluxograma diagnóstico da Sarcopenia. Fonte: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

Quais são os tratamentos mais recomendados? 

O tratamento inicial e mais sustentável a longo prazo é o manejo conservador com terapias não farmacológicas. Isso inclui mudanças no estilo de vida, adequação de hábitos, prática de exercício físico supervisionado por um profissional, alteração na dieta e controle de condições subjacentes. Além disso, alguns medicamentos podem ser empregados, porém esses são apenas usados em casos reservados.

A prática de exercícios desempenha um papel fundamental no tratamento da sarcopenia, em especial os exercícios de resistência, como levantamento de pesos, treinamento com elásticos ou uso de máquinas de resistência. Esses têm se mostrado eficazes para estimular o crescimento muscular e a força. É necessário um programa de exercícios personalizado que leve em consideração as necessidades individuais e a capacidade física, e isso deve ser feito com a orientação de um profissional de saúde.

Quanto à dieta, a ingestão adequada de proteínas é crucial para a síntese de massa muscular e recuperação tecidual. Além das proteínas de origem animal (como carne, peixe, frango e ovos) e vegetal (como leguminosas, soja e vegetais de folha escura), também é possível adicionar ao plano alimentar um suplemento de proteína, cálcio e vitamina D. O Ministério da Saúde recomenda o consumo proteico ≥ 0.8g por kg corporal ao dia, chegando a 1,2g/kg/dia.

O tratamento medicamentoso ainda não obteve um consenso em sua prática, visto que estudos ainda não trazem precisão sobre os seus efeitos, além da avaliação risco-benefício. Atualmente, pesquisas clínicas utilizaram-se de Testosterona e análogos na busca da otimização da síntese protéica, porém essa ainda não é uma recomendação de tratamento comprovadamente segura.

Conclusão

Assim posto, entendemos que o diagnóstico de Sarcopenia está muito bem descrito na literatura atual, facilitando a identificação precoce com início do tratamento, visto que esse possui um processo a médio e longo prazo de mudanças de hábitos e obtenção de resultados. O manejo ideal da sarcopenia só atinge seu potencial ideal com uma equipe multidisciplinar, principalmente composta por: médico,  nutricionista, fisioterapeuta, profissional da educação física e psicólogo.

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