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Publicado em
6/3/23

Residência em Psiquiatria: O que é, residência médica e mercado de trabalho

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Residência em Psiquiatria: O que é, residência médica e mercado de trabalho

Você sabia que no dia 13 de agosto, é comemorado o dia do Psiquiatra? A data foi instaurada em homenagem a criação da Associação Brasileira de Psiquiatria, em 1966 e em 2016, 50 anos depois, foi considerada oficial. E, como você já deve ter percebido, hoje vamos falar um pouco dessa especialidade tão importante e humana, a Psiquiatria.

Nunca se falou tanto e tão abertamente a respeito de saúde mental quanto se fala hoje. O estigma que as doenças psiquiátricas carregavam no passado começou a se dissolver lentamente ao longo do fim do século XX e início do atual. Felizmente, esse processo não parou.

E nem poderia: a depressão é considerada a grande doença da modernidade. Esta e outras doenças relacionadas à saúde mental têm tido aumento recente de incidência e prevalência sem precedentes na História.

Abaixo, falaremos um pouco mais a respeito da rota para o médico que pretende cursar residência em Psiquiatria, seu dia a dia, seu perfil profissional, suas áreas de atuação e seu mercado de trabalho.

O que é psiquiatria?

Dentro das três grandes áreas de conhecimento – ciências humanas, exatas e biológicas – a medicina é classificada como uma ciência biológica. Se você está pensando em cursar residência médica em Psiquiatria, saiba que, dentro da medicina, esta é a subespecialidade que mais se aproxima de uma ciência humana.

Por quê? Porque ela lida com as questões mais subjetivas do comportamento humano. As patologias psiquiátricas costumam envolver um lado humano que as outras especialidades não envolvem. Como em qualquer outra especialidade, a função de um médico psiquiatra é diagnosticar e tratar (e/ou curar) doenças, nesses casos de doenças psiquiátricas, ou seja, patologias de cunho psíquico e mental e que por vezes carregam também um viés emocional.  

Quais as características de um psiquiatra?

Para ser um psiquiatra você precisa desenvolver suas habilidades de comunicação como nenhum outro médico precisa. Durante a maior parte do tempo você estará conversando com seus pacientes. Ouvindo, interpretando o que está sendo dito e tentando extrair sentido daquilo para fazer um bom diagnóstico e oferecer um bom tratamento. 

Paciência, empatia, compaixão e sensibilidade são características essenciais a um psiquiatra. Boa observação também, já que a comunicação não verbal é sempre uma importante parte do atendimento. 

Qual o perfil de um psiquiatra no Brasil?

A Psiquiatria atualmente conta com quase 14 mil especialistas - o que representa menos de 3% do número de médicos especialistas no país. Apesar de pouco, nos últimos dez anos a profissão contou com um aumento de mais de 80% no número de residentes, segundo dados da Demografia Médica 2023

Ainda segundo a mesma pesquisa, a divisão entre psiquiatras homens e mulheres é quase igualitária, com 53,4% de homens e 46,6% de mulheres. Esses profissionais também vivem em sua maioria nas capitais, principalmente do sul e sudeste, e possuem em média 48 anos.

Como é a residência médica em psiquiatria?

A residência médica em Psiquiatria tem acesso direto e duração de três anos. Há subespecializações que podem estendê-la – tais como Psiquiatria Geriátrica, Psiquiatria da Infância e Adolescência, Psiquiatria Forense, entre outras.

Durante os três anos de residência, o médico trabalhará fazendo rotações em diversos locais: ambulatórios, enfermarias, interconsultas hospitalares, emergências psiquiátricas e CAPS (Centros de Atenção Psicossocial).

Nesses locais, o residente em Psiquiatria acompanhará várias áreas de atenção da Psiquiatria clínica e da psicopatologia, passando, entre outros, por ambulatórios de: 

  • Dependência química; 
  • Psiquiatria social;
  • Psicoses;
  • Psiquiatria geriátrica; 
  • Transtornos alimentares;
  • Violência sexual;
  • Psiquiatria da infância e da adolescência; 
  • Psicoterapia; 
  • Psicoterapia de grupo;

 A variedade de áreas que a residência cobre pode depender da instituição que o médico escolheu para se especializar. Algumas dão mais atenção a certos transtornos e são conhecidas como centros de referência para estes.

Assista ao nosso EMRCast onde conversamos com a Drª. Catarina Moraes, médica pela UFPE, Psiquiatra pelo HC-PE e mestranda em neuropsiquiatria e ciências do comportamento na UFPE, para entender mais sobre sobre o mundo da Psiquiatria; como funciona a residência; sua duração; rotina de um residente e tudo que você precisa saber.  

Qual a grade de estudo de um residente médico em Psiquiatria?

Em 2021, o Ministério da Educação, o MEC, divulgou a matriz curricular atual da residência médica em Psiquiatria. Nela, a pasta definiu o que se espera do residente ao fim de sua formação e o que ele deve aprender em cada ano. Vem conferir os conhecimentos necessários em cada ano da residência em psiquiatria!

O que devo saber ao fim do primeiro ano em Psiquiatria segundo o MEC?

Ao fim do primeiro ano, algumas habilidades clínicas já são cobradas do residente em psiquiatria. Foto: Reprodução/AdobeStock

  • Dominar a relação médico-paciente-familiar;
  • Avaliar a política de saúde mental vigente;
  • Identificar o paciente em sua singularidade e individualidade, considerando sua dignidade e autonomia;
  • Dominar a prescrição médica e formulação do plano terapêutico
  • Dominar o potencial do paciente ferir-se ou ferir outras pessoas, e avaliar mecanismos de prevenção; 

O que devo saber ao fim do segundo ano em Psiquiatria segundo o MEC?

  • Dominar o diagnóstico e intervenção das emergências psiquiátricas, incluindo o comportamento suicida, agitação psicomotora, toxicologia, violência, surtos ou crises, abordagens de grupos especiais;
  • Dominar o diagnóstico e tratamento dos transtornos alimentares
  • Dominar o conceito, a epidemiologia, as principais causas e fatores de risco, diagnóstico, diagnóstico diferencial e tratamento das principais doenças ou transtornos do sono;
  • Dominar o conceito, a epidemiologia, as principais causas e fatores de risco, diagnóstico, diagnóstico diferencial e tratamento dos transtornos mentais relacionados ao ciclo reprodutor feminino. O médico deverá demonstrar conhecimento específico sobre Psiquiatria da Mulher que inclui: transtorno disfórico pré-menstrual, transtornos mentais perinatais; transtornos mentais do climatério; transtornos mentais oriundos de doenças ginecológicas, terapêuticas hormonais e não hormonais no manejo dos transtornos de humor na mulher e outras
  • Dominar a psicofarmacologia médica e as diversas classes de psicofármacos;

O que devo saber ao fim do terceiro ano em Psiquiatria segundo o MEC?

  • Dominar o uso da eletroconvulsoterapia; 
  • Dominar o diagnóstico e tratamento das doenças ou transtornos por uso de substâncias;
  • Contribuir com a supervisão de alunos de graduação e Médicos Residentes do primeiro e segundo ano;
  • Dominar a integração das psicoterapias ao tratamento de modelo múltiplo;
  • Dominar a ciência comportamental e a psiquiatria transcultural

Como funciona a rotina profissional de psiquiatria?

O psiquiatra tem algumas atuações e locais de trabalho possíveis que divergem um pouco sua rotina. Vale lembrar que essa especialidade é clínica e por isso o profissional vai estar o tempo todo com pacientes, diagnosticando e tratando transtornos psiquiátricos.

O profissional pode terminar os três anos de residência médica em Psiquiatria trabalhar em emergências hospitalares, nesse caso, sua rotina se torna bastante variável, com plantões e atendimento a pacientes em crise. Além disso, o profissional também pode atuar em enfermarias, ambulatórios e também pode abrir o próprio consultório caso crie uma clientela razoável. 

Se quiser, ainda, pode focar no atendimento de doenças psiquiátricas específicas, como por exemplo a dependência química. Para focar em uma área em específico é sempre recomendado que o profissional faça uma subespecialização. Atualmente, a Associação Brasileira de Psiquiatria reconhece 5 subespecializações, sendo elas:

Psiquiatria Geriátrica

É uma área voltada para o atendimento da população idosa, que tem em comum determinados distúrbios psiquiátricos – são exemplos: 

  • Demências, 
  • Declínios cognitivos variados, 
  • Depressão no idoso, 
  • Psicose de início tardio, 
  • Degeneração lobar fronto-temporal, 
  • Doenças de Parkinson e Alzheimer, 
  • Declínio cognitivo vascular. 

O psiquiatra geriátrico focará no diagnóstico, tratamento e acompanhamento de idosos portadores destes e de outros distúrbios.

Psiquiatria Forense

O psiquiatra forense é responsável por perícias psiquiátricas. Ele deve conhecer as leis de importância no âmbito da Psiquiatria forense (civil, criminal etc.) e as implicações de uma conclusão pericial. O profissional elabora laudos aos órgãos que os requisitam e discute resultados periciais.

Medicina do Sono

Relativamente nova, a área que compreende a Medicina do Sono não é uma subespecialização exclusiva para psiquiatras – pode ser cursada por neurologistas, por exemplo – e foca, como seu nome indica, no tratamento de doenças relacionadas ao sono

O sono está relacionado a diversos processos metabólicos essenciais para a saúde e bem-estar da população, e atualmente há mais de 100 transtornos listados na Classificação Internacional de Distúrbios do Sono. Essa área foca no diagnóstico e tratamento destas doenças.


Psiquiatria da Infância e da Adolescência

O profissional da infância e da adolescência, tal qual o psiquiatra geriátrico, foca no atendimento de uma população específica e no diagnóstico e tratamento de doenças em comum presentes nela, nesse caso as crianças e adolescentes.

Para ser um psiquiatra, você precisa cursar seis anos de medicina e (no mínimo) três anos de residência em Psiquiatria. Essa é a formação oficial que pode ser estendida ao cursar uma subespecialização. Foto: Reprodução/Adobe Stock 
Para ser um psiquiatra, você precisa cursar seis anos de medicina e (no mínimo) três anos de residência em Psiquiatria. Essa é a formação oficial que pode ser estendida ao cursar uma subespecialização. Foto: Reprodução/Adobe Stock 

Transtornos do espectro autista, TDAH, transtornos relacionados à aprendizagem, transtornos alimentares etc.; tanto quanto a diferenciação e acompanhamento da criança/adolescente normal, com suas características e peculiaridades.

Psicoterapia

O psicoterapeuta age num âmbito teórico-clínico que o possibilita oferecer terapia – como aquela que um psicólogo oferece – das mais variadas formas ao paciente psiquiátrico. 

Ele age, aqui, como um duplo profissional. Como o psiquiatra, que pode diagnosticar e tratar medicamentosamente um transtorno mental, e como o psicoterapeuta, que oferece terapia – sendo a forma mais comum a TCC (terapia cognitivo-comportamental).

Mercado de trabalho e salário

Como discutimos na introdução, a discussão pública sobre saúde mental anda em alta. Assim, a procura por especialistas da área – psiquiatras, psicólogos, psicanalistas – vêm seguindo a tendência e aumentando.

A OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), em folheto informativo, divulgou a estimativa de que cerca de 300 milhões de pessoas sofram de depressão em todo o mundo – e esta é apenas uma dentre as centenas de doenças psiquiátricas catalogadas pelo DSM.

Segundo o site Salário, a média salarial de um psiquiatra é de R$ 8.115,08 por uma jornada de 20 horas semanais. Como já comentamos em outros textos, essa média costuma ser bem mais alta na prática, já que é muito raro que um médico trabalhe em apenas um local. 

Além da alta na procura por esse especialista, vale lembrar que, assim como a maioria dos médicos no país, a distribuição desse profissional é bastante desigual. Segundo dados da pesquisa Demografia Médica 2023, mais de 75% deles vivem no sul e no sudeste. Dessa forma, o salário e vagas ofertadas costumam ser bem maiores nas áreas com baixo número de especialistas. 

Conclusão

A residência médica em Psiquiatria hoje é uma das mais concorridas nas grandes instituições, ficando sempre entre as primeiras dez. Já foi diferente no passado, mas, conforme a sociedade foi se abrindo à discussão sobre saúde mental – que já foi um tabu no passado –, mais pacientes passaram a procurar psiquiatras.

Na outra ponta, muitos médicos que já se interessavam pela área também eram afetados por esse estigma, e acabavam seguindo outros rumos. Hoje, felizmente, isso está mudando.  Assim a concorrência pela área, que já não é pequena, aumenta a cada ano. Mas se você sente que a Psiquiatria é para você, mergulhe a fundo nos estudos e conheça nossos cursos que já aprovaram milhares de médicos na residência dos sonhos em todo o país.

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