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Publicado em
20/5/22

Câncer de colo do útero: o que é, como prevenir, diagnosticar e tratamentos

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Câncer de colo do útero: o que é, como prevenir, diagnosticar e tratamentos

O câncer de colo de útero é o segundo câncer mais comum entre as mulheres, com altas taxas de incidência e mortalidade no Brasil e no mundo. 

Atinge seu pico de incidência entre mulheres de 45 e 49 anos. Porém, tem tempo de evolução lento e pode ser facilmente prevenido e diagnosticado.

Nesse post iremos abordar suas causas, como prevenir e diagnosticar e seus tratamentos!

Qual a causa do câncer de colo de útero?

A causa do câncer de colo de útero é o Papilomavírus Humano (HPV), mais especificamente os tipos 16 e 18 (tipos oncogênicos).

O HPV 16 e 18 atuam degradando as proteínas dos genes de supressão tumoral p53 e pRB, desregulando o controle de divisão celular. Sua transmissão é por via sexual, sendo, portanto, considerada uma IST.

A infecção pelo HPV é uma condição necessária, mas não suficiente para o desenvolvimento do câncer. Portanto, deve estar aliado aos seguintes fatores de risco: início precoce de atividade sexual, sexo desprotegido, menarca precoce e menopausa tardia. Além de múltiplos parceiros, multiparidade, infecção pelos herpes simples 2 e clamídia, tabagismo e imunodepressão.

Tipos histológicos

Os dois tipos histológicos mais comuns são o carcinoma de células escamosas (80%) e o adenocarcinoma.

Formas de prevenção

Prevenção primária

A prevenção primária do câncer de colo de útero é feita por meio da prevenção da infecção pelo HPV. Ou seja, pela prática do sexo protegido e pela vacinação contra o HPV.

O Ministério da Saúde preconiza a vacinação contra o Papiloma Vírus Humano para meninas entre 9 e 14 anos e meninos entre 11 e 14 anos. Devendo ser aplicadas duas doses, com intervalo de 6 meses entre elas.

Prevenção secundária

Já a prevenção secundária é feita por meio do exame Papanicolau. O objetivo é detectar lesões pré-malignas e, se necessário, tratá-las antes de evoluírem para câncer.

O recomendado é realizar anualmente, em mulheres de 25 a 64 anos que já tiveram relação sexual. Após 3 exames com 1 ano de diferença normais, pode realizar a cada 3 anos.

Como diagnosticar?

O diagnóstico, tanto na fase pré-invasiva como invasiva, é pelo exame Papanicolau, sendo confirmado pela colposcopia e biópsia.

Papanicolau

O exame Papanicolau. um exame de triagem populacional, é uma análise da citologia do colo do útero, feita por meio da raspagem superficial da ectocérvice, em movimentos rotativos em torno do orifício cervical com uma espátula. Para isso, utiliza-se também uma escova especial para coleta do endocérvice.

Se o resultado apresentar alguma alteração de risco, indica-se a realização da colposcopia. Essas alterações incluem: células escamosas atípicas de significado indeterminado, células granulosas atípicas, células atípicas de origem indeterminada e já lesão intraepitelial.

Colposcopia e Biópsia

Imagem de colposcopia de neoplasia invasiva de colo de útero. Fonte: https://screening.iarc.fr/colpochap.php?lang=4&chap=8.php
Imagem de colposcopia de neoplasia invasiva de colo de útero. Fonte: OMS 

A colposcopia oncótica é feita por meio da magnificação da imagem do colo uterino, utilizando lentes de aumento do colposcópio, que permite visualizar lesões iniciais suspeitas de carcinoma e direcionar para biópsia.

As lesões suspeitas são retiradas com uma pinça e levadas para análise histopatológica.

Estadiamento

Após análise é possível realizar o estadiamento das lesões.

Se na fase pré-invasiva, pode ser dividida em: lesões intraepiteliais de baixo grau (NIC 1) ou de alto grau (NIC 2 e 3). A NIC 1 acomete a espessura do epitélio, de forma variável, mas sem atingir camadas basal e parabasal. É uma infecção ativa com alto índice de regressão espontânea.

As NIC 2 e 3 são lesões com comprometimento da camada basal e parabasal. O risco de progressão para câncer é alto. Porém, se a lesão já for maligna, pode ser dividida em 5 estágios, segundo a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO). Variando de 0 a IV. O tipo 0 é o carcinoma em situ e o IV é tumor com metástase.

Estágio da FIGO
0 Carcinoma in situ
I Carcinoma limitado ao colo (a extensão ao corpo deve ser desprezada)
Ia Carcinoma invasor pré-clínico diagnosticado somente pela microscopia
I a 1 Invasão microscópica mínimado estroma
I a 2 Tumor com componente invasor de 5mm ou menos com profundidade tomada da base do epitélio e 7mm ou menos com extensão horizontal
Ib Tumor maior que TIa2
II Carcinoma invadindo além do colo mas não atingindo a parede pélvica e/ou comprometendo o terço inferior da vaginav
IIa Sem invasão parametrial
IIb Com invasão parametrial
III Carcinoma estendendo-se à parede pélvica e/ou compromentendo o terço inferior da vagina e/ou causando hidronefrose ou rim não-funcionante
IIIa Tumor compromentendo o terço inferior da vagina sem extensão à parede pélvica
IIIb Tumor estendendo-se parede pélvica e/ou causando hidronefrose ou rim não-funcionante
IVa Tumor invadindo a mucosa da bexiga ou reto e/ou estendendo-se além da pélvis verdadeira
Nota: A presença de edema bolhoso não é evidência para se classificar o tumor como T4
IVb Metátases à distância
Classificação da FIGO para estadiamento do câncer de colo de útero. Fonte: Scielo

Se for preciso, pode-se solicitar outros exames para melhor definir a doença e sua evolução, como RNM e TC da pelve, para melhor visualizar linfonodos e metástases.

Sintomas do câncer de colo de útero

Os sintomas normalmente só aparecem em fases muito avançadas do câncer. 

Como os métodos de diagnósticos e triagem evoluíram bastante, muitas pacientes descobrem ainda antes do aparecimento.

Fase pré-clínica 

A fase pré-clínica é a fase assintomática. O ideal é que, se chegar à lesão maligna, ela seja descoberta ainda nessa fase. 

Indica menor gravidade.

Fase sintomática

Quando os sintomas aparecem é provável que a lesão esteja mais avançada. As pacientes podem ter queixa de sangramento uterino anormal.

Já indicando maior gravidade, pode aparecer corrimento serosanguinolento de odor fétido, dispareunia, hematúria, adinamia, dor pélvica e incontinência urinária e fecal.

Ainda pode aparecer dor na região glúteo e lombo-sacra, o que indicaria um tumor avançado localmente.

Além disso, na presença de dor ciática, edema de membros inferiores e hidronefrose, suspeita-se de comprometimento da parede pélvica.

Tratamento do câncer de colo de útero

O tratamento vai depender do estadiamento da lesão. Desse modo, pode ser feito por meio de cirurgia, radioterapia ou quimioterapia.

Formas de tratamento

Nas formas pré invasivas, a conduta para NIC 1 é expectante. Para NIC 2 e 3, faz-se excisão da zona de transformação ou ablação a laser.

No carcinoma em situ, faz-se conização terapêutica com alça diatérmica. Isso é, uma pequena cirurgia na qual um pedaço do colo do útero, em forma de cone, é retirado com uma alça diatérmica (instrumento ablativo).

Esse método preserva útero e capacidade reprodutiva. Crioterapia e ablação a laser também são opções.

No estágio Ia, trata-se com a conização por alça diatérmica pelo baixo risco de metástase.

Nos estágios Ia2, Ib e IIa, com a possibilidade de metástase linfonodais, o objetivo passa a ser retirada de toda a cérvix, tecido paracervical e linfonodos ilíacos. 

Indica-se histerectomia radical clássica a Wertheim-Meigs (retira útero e todos os anexos). Pode-se associar radioterapia adjuvante se necessário.

Nos estágios IIb, III e IVa, devido à infiltração de paramétrios, realizar radioterapia associada à quimioterapia.

No estágio IVb há pouca possibilidade de cura, devido à metástase a distância. Prefere-se paliação de sintomas, com medicação ou radioterapia localizadas.

Conclusão

O câncer de colo de útero é o segundo  mais comum em mulheres do mundo, porém é completamente evitável. 

Assim, por meio da vacinação e do exame Papanicolau é possível diminuir as taxas e sua mortalidade.

Além disso, quanto antes diagnosticado, melhores as possibilidades de cura.

Leia mais:

FONTE:

  • Tratado de Ginecologia da FEBRASGO, 2018.
  • MARQUES, Cristiana; et.al. Oncologia Uma Abordagem Multidisciplinar. 2015.