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28/7/21

Zika vírus pode revolucionar o tratamento contra o câncer

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Zika vírus pode revolucionar o tratamento contra o câncer

O vírus da zika, transmitido pelo Aedes Aegypti, responsável pelo surto de microcefalia entre 2015 e 2016, pode ser um grande aliado para o tratamento do câncer. De acordo com os pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), o patógeno foi capaz de tratar certos tumores agressivos do Sistema Nervoso Central (SNC). O estudo está sendo realizado pelo Centro de Estudo sobre o Genoma Humano e Células-Tronco da USP, em parceria com o Instituto Butantan.

A ideia da pesquisa surgiu, porque o zika vírus tem preferência pelas células progenitoras neurais do feto, que são muito semelhantes às células cancerígenas desses tumores. Sendo assim, o patógeno não só infecta, como se replica e mata essas células. Cumprindo o seu efeito oncolítico.

É sabido que os tumores mais agressivos do SNC não possuem tratamento, então este trabalho pode revolucionar a terapêutica para esses tipos de cânceres. O trabalho se iniciou em 2017, já passou por três etapas e ainda continua.

Primeira etapa

Nesta fase do ensaio pré-clínico, a cepa brasileira do microorganismo foi produzida pelo Instituto Butantan e a sua ação foi testada in vitro. Para isso, utilizaram linhagens de células tumorais, dentre elas, três eram embrionárias do SNC (uma do meduloblastoma e duas do tumor teratoide  rabdoide atípico). Sendo eles mais comuns em crianças menores de 5 anos.

Ao analisar as amostras, os pesquisadores observaram que as células tumorais foram totalmente eliminadas em um curto período, em três dias. Além disso, também constataram que as células-tronco neurais sadias não foram infectadas, nem muito menos destruídas.

Segunda etapa

As análises desta fase foram feitas em 29 camundongos com tumores humanos no encéfalo, alguns deles já apresentavam metástase na coluna. Posteriormente, a injeção com o zika vírus resultou na regressão do tumor em 20 deles.

Outros sete apresentaram remissão completa (cinco com tumor teratoide rabdoide atípico e dois com meduloblastoma). Com essa dupla o tempo de efetividade do efeito oncolítico foi de duas semanas.

Em tumores mais avançados esse tempo aumentou um pouco, de 3 a 4 semanas, mas, ainda assim, desapareceram por completo. Ademais, em alguns dos camundongos o patógeno se mostrou efetivo contra as metástases, estimulando a sua remissão ou até mesmo, eliminando o câncer secundário.

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Terceira etapa

Com início no final de 2020, nesta fase da pesquisa os cientistas fizeram testes em 3 cães com câncer espontâneo e já em estágio avançado. E mais, também não havia possibilidade de fazer cirurgia. Com isso, os animais receberam injeções com pequenas doses do zika.

Diante disso, houve uma redução de até 5 cm³ dos tumores e uma melhora expressiva na qualidade de vida. Os pesquisadores relataram que um deles já estava em pré-coma, e após a injeção voltou a ficar em pé, comeu e bebeu água.

Já os outros dois até voltaram a correr, pular e comer sozinhos, no entanto, como o câncer era muito agressivo, depois de um tempo, a situação acabou regredindo. Também foi possível prolongar a sobrevida dos cães. Desse modo, um deles possuía uma estimativa de vida de 20 dias, com a viroterapia o tempo aumentou para 5 meses.

A viroterapia com o zika é capaz de eliminar por completo as células cancerígenas de determinados tumores. Foto: Reprodução/Unplash
A viroterapia com o zika é capaz de eliminar por completo as células cancerígenas de determinados tumores. Foto: Reprodução/Unplash

Levando em consideração as três fases iniciais, os resultados são animadores. Além de se mostrar eficaz na terapêutica para alguns tipos de cânceres, a terapia antitumoral não apresentou nenhum efeito colateral e ativou o sistema imune. Um fator muito importante, pois o organismo foi capaz de reconhecer o invasor e auxiliar na sua destruição.

E mais, também não houve a destruição de neurônios maduros. A próxima fase será estudar o comportamento da injeção com o zika, nas mais diversas dosagens, em humanos. Mais especificamente em crianças que estejam em cuidados paliativos. Apesar dos estudos terem parado agora durante a pandemia, os pesquisadores estão prontos para retomá-lo.

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