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Publicado em
19/5/25

Guia prático de síndrome do túnel cubital para residentes 

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Guia prático de síndrome do túnel cubital para residentes 

A síndrome do túnel cubital é a segunda neuropatia compressiva mais comum dos membros superiores, ficando atrás apenas da síndrome do túnel do carpo. Essa patologia pode gerar impacto significativo na função da mão, comprometendo atividades da vida diária e a capacidade de trabalho. Vamos revisar as correlações anatômicas e aspectos clínicos dessa condição?

O que é síndrome do túnel cubital? Definição e relevância clínica  

A síndrome do túnel cubital é uma neuropatia compressiva do Nervo Ulnar, com acometimento ao longo da face medial do antebraço, estendendo-se até a metade medial do quarto quirodáctilo e ao quinto quirodáctilo completo. Embora semelhante à síndrome do túnel do carpo, a principal diferença está na topografia das manifestações, já que o Túnel do Carpo está relacionado às áreas inervadas pelo nervo mediano e não ulnar.

Por que ocorre a compressão do nervo ulnar no cotovelo?

A síndrome do túnel cubital pode ter diversas causas relacionadas à compressão ou irritação do nervo ulnar na altura do cotovelo. Uma das principais razões é a pressão direta sobre o nervo, já que ele se localiza superficialmente próximo ao epicôndilo medial, tornando-o vulnerável a traumas locais, sendo o clássico “choque elétrico” sentido quando alguém bate o cotovelo em uma superfície rígida.

Além disso, o alongamento excessivo do nervo também contribui para os sintomas, devido à sua posição anatômica posterior ao epicôndilo medial, movimentos repetitivos de flexão e extensão do cotovelo podem causar microlesões e inflamação. Um fator agravante comum é o hábito de dormir com os cotovelos dobrados, mantendo o nervo sob tensão prolongada durante o sono. 

Ademais, lesões traumáticas no cotovelo, como fraturas, luxações, derrames articulares ou edema local podem alterar a anatomia normal e gerar compressão secundária do nervo e até lesão direta à sua fibra. Por fim, a inflamação crônica, principalmente devido ao tabagismo, pode estar associada.

MECANISMOS BÁSICOS DE LESÃO
Compressão Estiramento Trauma direto Inflamação crônica
Mecanismos de dano ao Nervo Ulnar. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos

Entenda a anatomia e fisiopatologia em detalhes

O nervo ulnar é um nervo misto formado principalmente pelas raízes nervosas de C8 e T1, podendo receber fibras de C7, e tem origem no cordão medial do plexo braquial. Durante seu trajeto, ele percorre a região anterior, até que na metade distal do braço, o nervo perfura o septo intermuscular medial, migrando para o compartimento posterior.

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Ao se aproximar do cotovelo, o nervo ulnar passa por um trajeto estreito e superficial. A partir daí, penetra o túnel cubital, estrutura delimitada pelo ligamento colateral ulnar, pelas cabeças do músculo flexor ulnar do carpo e por sua aponeurose. Após atravessar o túnel, o nervo segue no antebraço profundo até o punho, onde inerva as estruturas da mão.

Relações anatômicas da fossa cubital e Nervo Ulnar
Relações anatômicas da fossa cubital e Nervo Ulnar. Fonte: NIH StatPearls

A fisiopatologia da síndrome do túnel cubital envolve a compressão crônica ou intermitente do nervo ulnar, mais frequentemente no próprio túnel cubital. As causas dessa compressão podem ser mecânicas ou inflamatórias. Clinicamente, a condição afeta mais homens do que mulheres e tende a ocorrer com maior frequência no lado esquerdo.

Síndrome do túnel cubital: como reconhecer os sinais clínicos?

A apresentação clínica geralmente se inicia com queixas sensoriais leves, como parestesias na borda radial da mão, com predomínio no quinto quirodáctilo e na metade ulnar do quarto dedo. Esses sintomas tendem a ser intermitentes no início, geralmente despertados por flexão prolongada. Com o tempo, esse quadro pode se tornar mais frequente e persistente.

Além disso, há relato de dor ou peso no cotovelo medial, podendo haver irradiação para o antebraço. À medida que a compressão progride, a perda de sensibilidade pode se estender para região dorsal e palmar dos dedos. Em casos avançados, há redução ou abolição da sensibilidade nas regiões inervadas pelo Nervo Ulnar. Exames físicos podem revelar sinais clássicos como o sinal de Tinel.

Sinal de Tinel: sensação de choque irradiando para a palma após percussão do Nervo Ulnar a nível do punho. Fonte: Traumatologia e Ortopedia

Os sintomas motores surgem mais tarde e costumam indicar maior gravidade. O paciente pode referir fraqueza na mão, perda de capacidade de realizar tarefas finas e tendência a deixar objetos caírem. O sinal de Froment se apresenta positivo, indicando fraqueza do adutor do polegar. 

O sinal de Froment é positivo quando, ao tentar segurar um papel entre o polegar e o indicador, o paciente compensa com flexão da articulação interfalângica do polegar
O sinal de Froment é positivo quando, ao tentar segurar um papel entre o polegar e o indicador, o paciente compensa com flexão da articulação interfalângica do polegar. Fonte: Dr. Diego de Castro

Como diagnosticar a síndrome do túnel cubital? Testes essenciais 

O diagnóstico baseia-se na avaliação clínica entre sintomas sugestivos e a distribuição sensitiva e motora do nervo ulnar. A anamnese e o exame físico já podem indicar com boa segurança a presença da neuropatia, especialmente quando os achados clínicos são típicos. No entanto, exames complementares são frequentemente utilizados para confirmar o diagnóstico, quantificar o grau de acometimento e descartar causas secundárias de compressão.

A eletroneuromiografia (ENMG) é o principal exame, mostrando a localização da lesão e a avaliação de sua gravidade. Outro exame é o estudo de condução nervosa motora, com estimulação em diferentes pontos e registro da resposta muscular inervadas pelo nervo ulnar. Importante destacar que, em fases iniciais da síndrome, os estudos de condução podem ainda estar normais.

Exames de imagem são principalmente empregados quando há suspeita de lesões estruturais. Radiografias simples do cotovelo podem excluir alterações ósseas. Já a ultrassonografia e a ressonância magnética apresentam maior sensibilidade para espessamentos do nervo, alterações do túnel cubital e outras causas de compressão, como massas, cistos sinoviais ou tumores.

Abordagem terapêutica da síndrome do túnel cubital na residência 

O tratamento da Síndrome do Túnel Cubital pode ser dividido em abordagens conservadoras e cirúrgicas, sendo a escolha dependente da gravidade dos sintomas e da resposta às medidas iniciais. Nos casos leves, o foco está na modificação de hábitos que causam compressão do nervo ulnar. Além disso, prescreve-se analgésicos simples e eventualmente antiinflamatórios não esteroides (AINEs). Há evidências de que muitos pacientes com sintomas leves apresentam melhora espontânea com esses métodos.

Quando os sintomas persistem por mais de seis meses ou quando há sinais de avanço da doença, considera-se a abordagem cirúrgica. O objetivo do tratamento cirúrgico é descomprimir o nervo ulnar. Dentre as opções cirúrgicas, destacam-se a descompressão in situ, a descompressão endoscópica, e as transposições do nervo (subcutânea, intramuscular ou submuscular), além da epicondilectomia medial associada à descompressão. 

Todas essas técnicas cirúrgicas visam restaurar a função do nervo, já sendo comprovado que geram resultados semelhantes entre elas quanto aos desfechos clínicos. A escolha do método depende, em geral, da preferência e experiência do cirurgião.

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