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Publicado em
1/7/23

Febre maculosa: fisiopatologia, sintomas, diagnóstico e tratamento

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Febre maculosa: fisiopatologia, sintomas, diagnóstico e tratamento

A febre maculosa é uma doença infecciosa causada por uma bactéria do gênero Rickettsia, transmitida pelo carrapato. Causa uma doença febril aguda, de gravidade variável, pouco comum no Brasil. Desde o começo de junho muito tem se falado sobre ela, já que houve um surto na região de Campinas, em São Paulo, após um show de Seu Jorge, na fazenda Santa Margarida. 

De acordo com informações da FioCruz, o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde de vários estados brasileiros apontaram que até o dia 15 de junho o país registrava 49 casos da doença e 6 mortes, com o maior número de casos na região Sul e Sudeste. Vem entender o que é febre maculosa, o atual surto no Brasil, seus sintomas e como tratar!

O que é a febre maculosa?

A febre alta é um sintoma característico da febre maculosa. Foto: Reprodução/AdobeStock
A febre alta é um sintoma característico da febre maculosa. Foto: Reprodução/AdobeStock

A febre maculosa, também conhecida como a doença do carrapato, é uma doença febril que pode se manifestar de forma variável, desde a forma assintomática até a forma mais grave, com elevada taxa de letalidade. É causada pela bactéria Rickettsia, a Rickettsia rickettsii e Rickettsia parkeri. Falando do Brasil, os casos de maior gravidade estão associados à bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida principalmente pelo carrapato da espécie Amblyomma sculptum, conhecido como carrapato estrela. Ele normalmente é encontrado em animais como capivara e cavalos.

A transmissão não ocorre de pessoa para pessoa, mas apenas através da picada do carrapato infectado para o homem. Ela pode ocorrer também quando há lesões na pele ou quando ocorre o esmagamento do animal aderido à pele. Todo caso de febre maculosa é de notificação obrigatória.

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Epidemiologia

A febre maculosa tem sido registrada em áreas rurais e urbanas no Brasil. A maior concentração dos casos é verificada nas regiões Sudeste e Sul, onde, de maneira geral, ocorre de forma esporádica. Acomete mais a população entre 20 e  49 anos, principalmente homens, que relataram a exposição a carrapatos, animais domésticos e/ou silvestres ou frequentam ambientes rurais.

Desde o começo de junho muito tem se falado sobre a doença, já que houve um surto na região de Campinas, em São Paulo. O MS apontou que até o dia 15 de junho de 2023 o país registrava 49 casos da doença e 6 mortes. Entre os  meses de julho e novembro se espera um aumento de casos, normalmente pelo ciclo do carrapato.

Fisiopatologia

A bactéria, ao penetrar na pele, após 4h de inoculação, se dissemina pelo organismo via vasos linfáticos e sanguíneos. Nos tecidos atingidos, invade o endotélio vascular, onde se replica para atingir células da musculatura lisa. Isso gera uma resposta inflamatória mediada por TNF-alfa e IFN-gama, causando aumento de permeabilidade vascular, hipovolemia e hipoalbuminemia

Com a extensa lesão endotelial, ocorre ativação da cascata da coagulação. O quadro agrava-se com tromboses, vasos podem ficar obstruídos por trombos, produzindo vasculite em pele, tecidos subcutâneos, sistema nervoso central, pulmões, coração, rins, fígado e baço. A coagulação intravascular disseminada (CID) ocorre muitas vezes em pacientes gravemente enfermos.

Quais os sinais e sintomas da febre maculosa?

Segundo informações colhidas no site da FioCruz, o quadro clínico tem início repentino, ocorrendo após o período de incubação, que pode levar de 2 a 15 dias. As primeiras manifestações clínicas são de síndrome febril, como febre alta, cefaleia e náuseas e vômitos que podem estar acompanhados de dores musculares intensas e prostração.

Entre o 3ª e 5ª dia podem surgir lesões da pele (em cerca de 40% a 50% dos casos), inicialmente exantema macular, que surge nos tornozelos e punhos e progride de forma centrífuga para palmas e plantas e depois de forma centrípeta para membros e tronco. Após 1 semana, esse exantema pode se tornar maculopapular com petéquias centrais.

Exantema da febre maculosa. Fonte: Todo Dia 
Exantema da febre maculosa. Fonte: Todo Dia 

Além disso, em casos mais graves podem ser observados sintomas como hemorragias, hepatoesplenomegalia, edema de MMII, gangrena nos dedos e orelhas e paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões, podendo causar parada da respiração. Crianças podem se queixar de dor abdominal intensa, o que pode confundir com gastroenterites ou abdome agudo.

Nem sempre haverá na história o relato de picada de carrapato, pois o indivíduo pode não sentir ou não notar o local de inoculação. Além disso, menos de ⅓ dos pacientes apresentam local de inoculação visível. O mais importante na história é a epidemiologia, ou seja, ter vindo de locais de maior risco, mesmo que sem história de picada.

Diagnóstico da febre maculosa

O diagnóstico é suspeitado de acordo com quadro clínico e epidemiologia. Para confirmar, o teste sorológico é o método diagnóstico mais utilizado, já que detecta a presença de anticorpos anti-Rickettsia por meio da reação de imunofluorescência indireta (RIFI), que é o padrão-ouro. Vale salientar que, até o 10ª dia da manifestação dos sintomas, pode ser que o indivíduo ainda não tenha produzido anticorpos, por isso o Ministério da Saúde recomenda que seja feita uma segunda coleta de sangue entre o 14ª e o 21ª dia. 

Menos utilizado, o PCR é um outro exame diagnóstico que pode ser realizado, principalmente quando os  anticorpos anti-Rickettsia não foram detectados, mas há suspeita da doença. Ele é responsável por detectar o material genético da bactéria. Em relação aos exames laboratoriais, normalmente pode ocorrer anemia, plaquetopenia e aumento de algumas enzimas, como hepáticas e musculares, porém são achados pouco específicos.

Qual o tratamento da febre maculosa?

O uso de antibióticos de baixo custo é amplamente utilizado para o tratamento da febre maculosa. De acordo com o Ministério da Saúde, a Doxiciclina é o antimicrobiano de primeira escolha, independentemente da faixa etária e gravidade da doença. A dose recomendada é de 100 mg de 12/12h  feito por 7 dias ou até 3 dias após o fim da febre.

Na impossibilidade da aplicação desse antimicrobiano, o cloranfenicol pode ser utilizado. Vale salientar que havendo a suspeita o tratamento deve começar de imediato, sem precisar da confirmação laboratorial. Isso porque, o patógeno é conhecido por destruir a parede dos vasos sanguíneos, e, por isso, a partir do 7ª dia a lesão, geralmente, é irreversível. 

Conclusão

A febre maculosa é transmitida pelo carrapato infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii. A sintomatologia ocorre após o período de incubação, podendo ser febre alta e dores de cabeça. As lesões de pele também podem estar presentes. Para o diagnóstico, o teste sorológico para detectar os anticorpos anti-Rickettsia é o mais comum. Quanto ao tratamento, ele deve começar a partir da suspeita da doença, para evitar o risco de óbito. 

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