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26/12/22

Disidrose: fatores de risco, sintomas e manejo

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Disidrose: fatores de risco, sintomas e manejo

A Disidrose, também chamada de Eczema Disidrótico, é uma condição limitada ao sistema tegumentar, ainda pouco elucidada, que pode atingir qualquer sexo em qualquer faixa etária. Ela é capaz de causar muito incômodo e atrapalhar as atividades diárias do paciente que a possui. Esse fator é agravado por acometer principalmente as palmas e plantas, duas áreas de alta exposição cotidiana. 

Neste post iremos abordar a definição de Disidrose, além de sua apresentação clínica, diagnóstico, fatores de risco, complicações e tratamento!

O que é Disidrose?

A Disidrose é mais popularmente conhecida como Eczema Disidrótico ou Ponfolix, sendo essa última terminologia mais característica dos quadros mais graves e agudos. No geral, é uma condição de pele caracterizada por vesículas (bolhas) pruriginosas que se desenvolvem na periferia dos dedos das mãos e dos pés, nas palmas e nas plantas.

Esse quadro também pode ser determinado como Eczema Vesicular Endógeno, que é definido por eczemas nas palmas recorrentes com erupções vesiculares e só pode ser considerado em casos claramente sem contato de agente alérgico ou exposição a agente irritativo. 

Qual é a causa?

Inicialmente acreditava-se que o Eczema Disidrótico acontecia por disfunção de glândulas sudoríparas, porém essa hipótese foi descartada pelo esclarecimento de que as vesículas não têm associação com os ductos sudoríparos. Apesar disso, a Hiperidrose (suor excessivo) pode ser um fator agravante e acontece em 40% dos pacientes. 

Sendo assim, atualmente é mais comum a hipótese de que esse tipo de eczema aconteça por uma reação imunológica não específica à fatores diversos ainda não elucidados. Esses fatores de gatilho incluem: exposição ao níquel, crômio, alguns componentes de produtos cosméticos (álcool, lanolina, fragrâncias artificiais e outros componentes), cobalto, tabaco, formaldeído, parabenos e látex.

Essa condição também pode acontecer após infecções, porém não só pelo microrganismo em si, mas também pelas medicações utilizadas no tratamento desses agentes, principalmente os fungos. As infecções principais são as micoses e as contaminações por cândida, enquanto as drogas são antibióticos aminoglicosídeos, corticosteróides e aminofilina.

Manifestações clínicas da Disidrose

Lesão clássica de Eczema Disidrótico na palma. Fonte: DermNet NZ; Link da fonte: https://dermnetnz.org/topics/vesicular-hand-dermatitis
Lesão clássica de Eczema Disidrótico na palma. Fonte: DermNet NZ

A queixa principal será de aparecimento súbito de vesículas pruriginosas na parte palmar e lateral dos dedos, além das solas dos pés. Apesar desses serem os locais principais, as lesões também podem aparecer em outros locais do corpo durante o curso da doença, principalmente por contiguidade, como no dorso da mão, braços, dorso do pé e pernas.

Coalescência de vesículas na Disidrose plantar. Fonte: Reprodução/Shutterstock
Coalescência de vesículas na Disidrose plantar. Fonte: Reprodução/Shutterstock

Abaixo estão listadas as características dermatológicas da disfunção:

  • Forma de vesículas
  • Localização principal em palmas e plantas
  • Padrão de acometimento frequentemente simétrico
  • Prurido excessivo
  • Curso com coalescência das vesículas para formar bolhas 
  • Eventual ruptura, fissura e formação cicatricial por lesão do prurido
Lesões de Disidrose nas palmas após ruptura. Fonte: Reprodução/Shutterstock
Lesões de Disidrose nas palmas após ruptura. Fonte: Reprodução/Shutterstock

Diagnóstico da Disidrose 

O diagnóstico é feito na clínica baseada na história típica da Disidrose, associando aos fatores de risco e o exame físico dermatológico. Após diagnosticar, é importante fazer a classificação do Eczema Palmar de acordo com o respectivo estágio de progressão e severidade. Ela  varia de 0 a 3, veja a seguir:

  •  0: relativo a nenhuma alteração;
  • 1: Doença leve;
  • 2: Doença moderada; e
  • 3: Doença grave. 

Também há o índex de área e severidade de Eczema Disidrótico, que inclui o número de vesículas por cm², quantidade de eritema, quantidade de descamação, gravidade do prurido e extensão da área envolvida.

O diagnóstico diferencial da disidrose deve ser feito com infecções fúngicas e escabiose. Também deve-se considerar algumas potenciais condições subjacentes, como: dermatite de contato e dermatite atópica. Outras afecções menos comuns para realizar o diagnóstico diferencial: impetigo bolhoso, epidermólise bolhosa, doença mão-pé-boca, herpes, entre outras.

Exames complementares não são necessários, apenas se for imprescindível um diagnóstico diferencial mais detalhado, como o Patch Test para descartar dermatite de contato e análise microscópica para descartar dermatofitoses (Tinea).

Como funciona o tratamento da Disidrose?

De início, o tratamento não medicamentoso constitui-se de orientações gerais. Deve ser elucidada ao paciente a necessidade de identificar possíveis gatilhos de contato, instruindo-o a evitar esses gatilhos irritativos. Orienta-se ainda evitar o contato com produtos de limpeza (higiene pessoal e domésticos), frutas frescas e carnes cruas, além da interrupção do tabagismo e do uso de luvas caso precise entrar em contato com agentes químicos.

Os corticosteróides tópicos são considerados os medicamentos de base para essa condição, mesmo a incidência sendo limitada na literatura. Utiliza-se mometasona 0,1% em loção, creme ou pomada ou algum outro corticosteróide de média ou alta potência. Esse tratamento tende a durar entre 3 e 9 semanas. 

Caso se trate de uma Disidrose recorrente ou crônica, o uso deve ser espaçado de 2 a 3 vezes por semana, intercalando com Inibidores de calcineurina (Tacrolimus e Pimecrolimus). Eles podem também substituir o uso do corticóide tópico.

Em casos refratários, incluem-se medicações imunossupressoras como azatioprina, metotrexato em baixa dose, ciclosporina e micofenolato. Sendo esses especialmente úteis nos casos de Ponfolix, que se trata de uma disidrose de início e progressão mais intensa e com lesões cutâneas mais expressivas em palmas e plantas.

A toxina botulínica intradérmica pode ser utilizada de uma maneira muito limitada como tratamento da hiperidrose, visto que pode agravar o quadro de eczema disidrótico. Apesar da literatura limitada, existe ainda o desenvolvimento de terapias com Luz Ultravioleta (UVA) que demonstraram algum grau de alívio de erupção e prurido palmar e plantar.

Fatores de risco e complicações

Os fatores de risco diretamente ligados à disidrose são frequentemente incertos e inconsistentes. Apesar disso, os gatilhos agravantes que aparentemente influenciam são: dermatite atópica (especialmente em crianças), dermatite alérgica, contato com químicos irritativos, reações adversas a medicamentos, lavagem de mãos frequentes (principalmente associadas a trabalho), contato com níquel e tabaco, além de estresse e climas quentes

A complicação mais comum secundária à disidrose é a infecção bacteriana, especialmente por Staphylococcus aureus, que pode eventualmente acarretar em celulite, linfangite e septicemia (raro). Mais raramente ocorre a eritrodermia após cessar o uso de metotrexato no tratamento do eczema disidrótico.

Conclusão

A disidrose é uma condição cutânea caracterizada pelo aparecimento de vesículas pruriginosas principalmente em palmas e plantas, frequentemente após a exposição de elementos de gatilho irritativos. O diagnóstico é feito pela avaliação clínica da história e exame físico, além de raramente incluir exames adicionais para o diagnóstico diferencial.

O tratamento contém mais comumente os corticosteróides tópicos, mas também pode incluir imunossupressores, injeção de toxina botulínica e terapias com luz UVA. As complicações não são muito comuns, mas podem incluir infecção por S. aureus nas vesículas que se disseminam para outras partes do corpo.

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