Estudo
Publicado em
10/10/22

Varíola dos macacos: o que é, sintomas, tratamentos e imunização

Escrito por:
Varíola dos macacos: o que é, sintomas, tratamentos e imunização

A varíola dos macacos, também conhecida como Monkeypox, é uma doença zoonótica viral, que recebeu esse nome por ser causada por um vírus da mesma família da varíola clássica. Foi descoberta em 1958 em macacos de laboratório, tendo seu primeiro caso em seres humanos em 1970 na República do Congo. 

É considerada uma doença endêmica nas regiões Central e Ocidental da África, porém, vem ganhando bastante relevância nos últimos meses pelo aumento dos casos em regiões não endêmicas. Este post irá abordar sobre esse novo surto, como identificar casos suspeitos, como tratar e como prevenir!

O que é varíola dos macacos?

Esse tipo de varíola é uma infecção viral transmitida por vírus da família Orthopoxvirus, a mesma do patógeno da varíola. Além disso, o quadro de ambas também é semelhante, sendo a varíola dos macacos menos grave e com menores taxas de mortalidade do que a varíola clássica.

Existem 2 tipos de vírus causadores da doença: o da África Ocidental e o da África Central. O da África Ocidental é mais grave, com taxa de mortalidade podendo chegar a 10%, enquanto o da África Central tem taxa de mortalidade de 1%. Apesar de ter sido descoberta em macacos, tem como principal reservatório os roedores.

Últimas atualizações

De acordo com a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne, a América é considerada o epicentro mundial da epidemia, já que foram registrados mais de 30.000 casos na região. Os países que mais concentram casos são os Estados Unidos, Peru, Canadá e Brasil.

O acometimento é maior entre homens que fazem sexo com outros homens, mas a varíola dos macacos também foi observada em mulheres e em menores de 18 anos, que representam uma pequena parcela dos pacientes neste continente.

Até o último dia 4 de outubro a OMS notificou 68.998 casos no mundo inteiro. Além dos países americanos já citados anteriormente, outros países europeus como Espanha, França, Reino Unido e Alemanha também notificam um grande número de infectados. O principal sintoma relatos por ele é a erupção cutânea (sistêmica, oral e genital). Seguido por febre, cefaleia, astenia/fraqueza e qualquer linfadenopatia.

Apesar da América ser o epicentro, a Europa também possui um número expressivo de relatos de Monkeypox. Fonte: OMS https://worldhealthorg.shinyapps.io/mpx_global/
Apesar da América ser o epicentro, a Europa também possui um número expressivo de relatos de Monkeypox. Fonte: OMS

Algumas hipóteses poderiam explicar esses novos casos: uma mutação viral que promove uma transmissão mais eficiente, uma diminuição na proteção gerada pela vacina contra varíola desde após a suspensão dos programas de vacinação há cerca de 40 anos e um nicho populacional novo ideal para a disseminação. 

No Brasil, o primeiro caso foi confirmado no dia 9 de junho, em São Paulo. O paciente, um homem de 41 anos, tinha viajado recentemente para a Espanha. Pouco depois, no dia 11 de junho, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo confirmou o segundo caso. Trata-se de um homem de 29 anos, com histórico de viagens para a Espanha e Portugal. Ele manifestou os primeiros sintomas e lesões ainda na Europa. 

Desde junho os casos aumentaram consideravelmente, até o último dia 6 de outubro o Brasil havia ultrapassado os 8,2 mil casos confirmados, segundo o Ministério da saúde, a maior parte deles estão concentrados na região sudeste.

No entanto, o registro de óbitos é baixo, até agora foram 3. Falando especificamente de Pernambuco, em conformidade com o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância à Saúde (Cievs-PE, existe a confirmação de 144 infectados pela doença, desses, 94 estão numa faixa etária entre 20 e 39 anos.

Quais os sintomas?

O quadro da varíola dos macacos, no geral, costuma ser leve e autolimitado, regredindo naturalmente em 3 semanas. Tem um período de incubação que pode variar de 5 a 21 dias. Os sintomas incluem: febre, dor no corpo, fadiga, cefaleia, linfadenopatia e erupção cutânea.

A sintomatologia costuma iniciar com a febre, dor no corpo e cansaço que, de 1 a 3 dias, acompanha o surgimento de manchas vermelhas (rash) que se iniciam nas mucosas. Esse rash na mucosa costuma virar rash macular de distribuição centrípeta na pele, acometendo inclusive palmas e solas. 

Manifestação cutânea da varíola dos macacos. Fonte: Express UK https://www.express.co.uk/life-style/health/1016792/monkeypox-what-is-it-virus-contagious-outbreak-uk 
Manifestação cutânea da varíola dos macacos. Fonte: Express UK

Dois dias após o surgimento desse rash macular, formam-se pápulas que duram também dois dias. Em seguida, essas pápulas sofrem umbilicação central e formam vesículas

Depois do segundo dia, essas vesículas evoluem para pústulas que costumam durar de 5 a 7 dias. Após as pústulas, elas tornam-se crostas que cicatrizam e caem naturalmente. As lesões de pele parecem bastante com as lesões da catapora e da sífilis.

Evolução da lesão de pele da varíola dos macacos. A) Vesícula inicial. B) Pústula. C) Pústula umbilicada. D) Lesão ulcerada. E) Crosta. F) Lesão em processo de cicatrização.  Fonte: NBC News https://www.nbcnews.com/health/health-news/monkeypox-virus-may-spreading-undetected-years-europe-rcna31504
Evolução da lesão de pele da varíola dos macacos. A) Vesícula inicial. B) Pústula. C) Pústula umbilicada. D) Lesão ulcerada. E) Crosta. F) Lesão em processo de cicatrização.  Fonte: NBC News

Como ocorre a transmissão?

A transmissão dessa infecção ocorre por contato próximo com pessoas infectadas, principalmente com a pele e fluidos ou objetos contaminados. Além disso, pode-se também adquirir a doença por contato próximo com animais infectados.

Prevenção

Para prevenção, a OMS preconiza isolamento de contato dos pacientes infectados, um bom cuidado com higiene e ainda, o uso de máscaras PFF2. A população de risco inclui: recém-nascidos, crianças, grávidas e imunodeprimidos. Durante a gravidez ela pode levar a complicações, varíola congênita ou morte do bebê.

Imunização contra a varíola dos macacos: como funciona?

Alguns países estão realizando vacinação para varíola clássica em pessoas com contato próximo a infectados e populações de risco, já que é esperado que a vacina oferte uma proteção de 85% para varíola dos macacos. No Brasil, o lote do produto chegou no último dia 07 de outubro, e, primeiramente será utilizado para estudos, o objetivo é saber se o imunizante Jynneos/Imvanex (MVA-BN) é eficaz no combate da doença e oferece imunogenicidade e segurança.

A vacina contra a varíola dos macacos é administrada em duas doses de 0,5ml - via subcutânea, com um intervalo de 28 dias. Assim espera-se que o pico de imunidade ocorra em 14 dias após a segunda dose. Além delas, o reforço é recomendado a cada 2 anos para quem está exposto as espécies mais virulentas do gênero Ortopoxvírus, como no caso da doença, diz o Comitê Consultivo de Práticas de Imunização dos EUA (ACIP).

Não se pode, porém, até agora, imunizar toda a população mundial devido à escassez de vacina, já que a varíola clássica é uma doença já erradicada.

Como funciona o diagnóstico?

O diagnóstico é feito a partir da suspeita clínica, com confirmação por meio de exames laboratoriais, como PCR e ELISA, que ainda são exames pouco disponíveis.

Como é o tratamento de varíola dos macacos?

Por ser uma doença, em geral, leve, os pacientes se recuperam em algumas semanas sem tratamento específico, apenas com cuidados de suporte. Porém, se necessário, existem antivirais disponíveis para o tratamento de pessoas de maior risco.

Cuidados de suporte

Os cuidados de suporte incluem: repouso, hidratação oral, isolamento de contato e medicações sintomáticas, para dor, prurido e febre. 

Antivirais

Nos casos mais graves ou em populações de risco, pode-se utilizar antivirais, sendo eles: tecovirimat, cidofovir e brincidofovir

Tem cura?

A varíola dos macacos tem cura, como na maioria das viroses agudas. O sistema imunológico é capaz de eliminar o vírus e o paciente fica completamente curado.No entanto, é essencial controlar e quebrar as cadeias de transmissão, a fim de promover a redução do número total de infectados, para que não ocorram casos de óbito e mutações.

Conclusão

A varíola dos macacos não é uma doença nova, porém vem ganhando relevância devido a nova característica desse surto em comparação aos casos de anos anteriores.

Felizmente, é uma doença que costuma ser leve e autolimitada, além de menos infecciosa que afecções como o Covid-19 e menos letal que a varíola clássica. Porém, deve ser combatida e conhecida pelos profissionais de saúde. Para isso, é importante entender o diagnóstico e manejo.

Leia mais:

FONTES:

  • ISAACS, Stuart. Monkeypox. UpToDate. 2022.