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Publicado em
18/9/25

Vacinas no adulto com comorbidades: o que cai nas provas de residência?

Vacinas no adulto com comorbidades: o que cai nas provas de residência?
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A vacinação de adultos com comorbidades representa uma estratégia fundamental de prevenção primária, reduzindo morbidade, mortalidade e hospitalizações. Pacientes com doenças crônicas frequentemente apresentam maior risco de infecções graves e de complicações relacionadas a agentes imunopreveníveis, em razão de alterações imunológicas inerentes à própria doença ou ao uso de terapias imunossupressoras. 

Neste contexto, a abordagem vacinal deve ser individualizada, considerando o tipo e a gravidade da comorbidade, além do grau de imunocompetência.

Principais grupos de risco: quem são os adultos com comorbidades?

No que diz respeito aos principais grupos de risco, considera-se que adultos com comorbidades são aqueles portadores de uma ou mais condições clínicas crônicas que afetam direta ou indiretamente a resposta imune. Entre esses grupos, incluem-se os indivíduos com doenças cardiovasculares, como insuficiência cardíaca e cardiopatia isquêmica, e doenças pulmonares crônicas, a exemplo da DPOC e da asma grave

Também fazem parte dessa população os pacientes diabéticos, os portadores de doença renal crônica — especialmente aqueles em diálise —, e indivíduos com doenças hepáticas crônicas, incluindo hepatopatias alcoólicas ou virais. Pessoas com obesidade grave, definida como índice de massa corporal igual ou superior a 40, devem igualmente ser consideradas de risco aumentado, assim como aqueles com doenças neurológicas ou neuromusculares incapacitantes, que cursam com maior vulnerabilidade a infecções respiratórias. 

Além disso, pacientes com imunodeficiências — sejam primárias ou secundárias a condições como neoplasias hematológicas, infecção pelo HIV ou uso de imunossupressores — e transplantados integram um subgrupo especialmente suscetível. Todos esses indivíduos devem ter seus esquemas vacinais adaptados, visando tanto a proteção individual quanto a contenção da disseminação de agentes infecciosos em nível comunitário.

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Quais vacinas são indicadas para adultos com comorbidades?

Quanto às vacinas indicadas para adultos com comorbidades, o calendário deve ser ampliado e adaptado conforme a condição clínica específica. A vacina contra a influenza é de administração anual e considerada prioritária para todos os pacientes pertencentes aos grupos de risco, sendo capaz de reduzir internações e mortalidade por causas respiratórias. 

Vacinas pneumocócicas

As vacinas pneumocócicas, tanto a conjugada 13-valente (VPC13) quanto a polissacarídica 23-valente (VPP23), são indicadas em esquema sequencial para pacientes com comorbidades crônicas como DPOC, diabetes, HIV ou imunossupressão. 

Hepatite B

A vacina contra hepatite B deve ser administrada em esquema de três doses, podendo ser utilizada em dose dobrada nos casos de imunossupressão. A imunização contra hepatite A é particularmente importante em pacientes com doença hepática crônica ou imunocomprometidos

dTPa

A vacina dTpa, que confere proteção contra difteria, tétano e coqueluche, deve ser aplicada pelo menos uma vez na vida adulta, com reforços decenais com dT. O herpes-zóster, responsável por complicações significativas em idosos e imunodeprimidos, deve ser prevenido com a vacina recombinante não-viva, indicada preferencialmente a partir dos 50 anos. 

HPV e Covid

Pacientes com HIV ou outras formas de imunossupressão também devem receber a vacina contra o HPV, com extensão da faixa etária de aplicação até os 45 anos. As vacinas contra COVID-19, conforme esquemas atualizados, devem ser aplicadas com reforços adaptados ao grau de imunossupressão. 

Vacinas meningocócicas do tipo ACWY e B

Além disso, as vacinas meningocócicas do tipo ACWY e B são recomendadas para pacientes com imunodeficiências, asplenia funcional ou anatômica, ou com doenças hematológicas, dada a maior suscetibilidade a meningites graves.

Vacinas com vírus vivos atenuados

É importante destacar que vacinas contendo vírus vivos atenuados, como a da febre amarela, a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e a varicela, estão contraindicadas nos casos de imunossupressão grave, devendo ser avaliadas caso a caso nos pacientes com imunossupressão leve ou controlada. A individualização da conduta é mandatória nesse grupo, considerando-se o risco epidemiológico da exposição ao agente versus o risco da vacina.

Como as bancas cobram vacinas em adultos com comorbidades?

Nas provas de residência médica, é comum que se explorem justamente esses pontos críticos. As bancas examinadoras frequentemente cobram o reconhecimento das contra-indicações das vacinas vivas em pacientes imunodeprimidos, além de exigirem o domínio dos esquemas específicos recomendados, como a vacinação pneumocócica sequencial, ou a aplicação da vacina contra herpes-zóster em transplantados

Também é recorrente a avaliação da conduta em pacientes com HIV, em uso de imunossupressores, ou após transplantes, bem como a importância da vacinação dos conviventes desses pacientes. Questões frequentemente se baseiam nos calendários atualizados da SBIm e do Ministério da Saúde, exigindo interpretação clínica do contexto e julgamento sobre qual vacina está indicada ou contraindicada.

Perguntas frequentes

1. Pacientes em uso de corticoides podem receber vacinas vivas?

Depende da dose e duração. Vacinas vivas são contraindicadas se o paciente estiver em uso de corticoterapia sistêmica ≥ 20 mg/dia de prednisona (ou equivalente), por ≥ 14 dias. Após 30 dias do término da corticoterapia imunossupressora, pode-se considerar a administração de vacinas vivas. Corticoides inalados ou tópicos, mesmo em doses altas, geralmente não contraindicam vacinas vivas.

2. Qual a importância da vacinação dos conviventes de pacientes imunodeprimidos?

Extremamente relevante. A imunização dos contatos domiciliares de pacientes imunossuprimidos reduz o risco de transmissão de patógenos. Vacinas como influenza, dTpa, COVID-19, hepatite B, meningocócica e até mesmo vacinas vivas (como tríplice viral e varicela) são indicadas aos conviventes, a exceção é a VOP que é contraindicada. O objetivo é criar um “cinturão imunológico” ao redor do paciente vulnerável.

3. Pacientes com HIV/AIDS podem receber vacinas vivas?

Sim, desde que a imunossupressão não seja grave. A recomendação varia conforme a contagem de CD4:

  • CD4 ≥ 200 células/mm³ e carga viral controlada: podem receber algumas vacinas vivas, como tríplice viral e varicela, com cuidado.
  • CD4 < 200 células/mm³: vacinas vivas são contraindicadas.  A vacina da febre amarela só é considerada em situações de alto risco epidemiológico, com avaliação individualizada.
Grupos de Risco (Comorbidades) Vacinas Indicadas Observações / Contraindicações
Doenças cardiovasculares (ex: insuficiência cardíaca, cardiopatia isquêmica) Influenza, pneumocócicas (VPC13 + VPP23), dTpa, COVID-19 Vacinação anual contra influenza é prioritária.
Doenças pulmonares crônicas (DPOC, asma grave) Influenza, pneumocócicas, COVID-19, dTpa Esquema sequencial com VPC13 + VPP23 é indicado.
Diabetes mellitus Influenza, pneumocócicas, hepatite B, COVID-19 Pode haver menor resposta imunológica — considerar dose dobrada para hepatite B em imunossuprimidos.
Doença renal crônica (especialmente em diálise) Influenza, pneumocócicas, hepatite B, COVID-19, dTpa Pacientes em diálise são altamente vulneráveis a infecções pneumocócicas e hepatite B.
Doenças hepáticas crônicas (ex: hepatite B/C, hepatopatia alcoólica) Hepatite A, hepatite B, influenza, COVID-19 Vacinação contra hepatite A é prioritária.
Obesidade grave (IMC ≥ 40) Influenza, COVID-19, pneumocócicas Maior risco de evolução grave em infecções respiratórias.
Doenças neurológicas ou neuromusculares incapacitantes Influenza, pneumocócicas, COVID-19 Risco elevado de complicações respiratórias.
Imunodeficiências primárias ou secundárias (ex: neoplasias hematológicas, HIV, uso de imunossupressores, transplantados) Influenza, pneumocócicas, hepatite A e B, dTpa, HPV, herpes-zóster (recombinante), COVID-19, meningocócicas ACWY e B Evitar vacinas vivas atenuadas em imunossupressão grave (ex: febre amarela, tríplice viral, varicela). Avaliar caso a caso em imunossupressão leve/moderada.
Pergunta Resposta resumida
Pacientes em uso de corticoides podem receber vacinas vivas? Depende da dose e duração. Vacinas vivas são contraindicadas se prednisona ≥ 20 mg/dia (ou equivalente) por ≥ 14 dias.
Qual a importância da vacinação dos conviventes de imunodeprimidos? A vacinação dos contatos reduz a transmissão de agentes infecciosos, protegendo indiretamente o paciente. São indicadas vacinas como influenza, dTpa, COVID-19, hepatite B, meningocócicas e até vacinas vivas (tríplice viral, varicela), exceto a VOP, que é contraindicada.
Pacientes com HIV/AIDS podem receber vacinas vivas? Sim, se CD4 ≥ 200 células/mm³ e com carga viral controlada, podem receber algumas vacinas vivas (ex: tríplice viral, varicela).
Reprodução/ EMR/ Igor Vasconcelos

A vacinação de adultos com comorbidades é uma estratégia crucial na prevenção de doenças infecciosas e suas complicações. O manejo adequado exige conhecimento atualizado sobre as indicações, contraindicações e esquemas específicos, sobretudo em imunossuprimidos. Nas provas de residência, esse tema é recorrente, exigindo atenção às particularidades de cada comorbidade e à interpretação de casos clínicos. A incorporação das recomendações da SBIm e do Ministério da Saúde é essencial para uma prática médica segura e atualizada.

Leia mais:

FONTES: 

  • Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Calendários de vacinação para adultos com comorbidades e imunocomprometidos.
    Ministério da Saúde. Manual de vacinação do adulto. Brasília: MS, 2024.
    Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Adult Immunization Schedule by Medical and Other Indications, 2024.
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