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Publicado em
10/9/21

Medicina de Emergência: Rotina, mercado de trabalho e Principais desafios

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Medicina de Emergência: Rotina, mercado de trabalho e Principais desafios

A Medicina de Emergência existe oficialmente como especialidade há mais de 50 anos na grande maioria dos países desenvolvidos. 

Sua aprovação oficial como especialidade médica no Brasil, porém, só foi ocorrer em setembro de 2015, quando a ABRAMEDE (Associação Brasileira de Medicina de Emergência) conquistou unanimidade na votação do projeto dentro da AMB (Associação Médica Brasileira). 

É verdade que muitos médicos exercem a especialidade desde os primórdios da profissão, mas, ainda hoje, na maioria dos hospitais, UPAs e unidades do SAMU distribuídos pelo país, essa prática ocorre sem um título de especialista – especialmente em cidades pequenas e afastadas dos grandes centros.

Felizmente, esse quadro está começando a mudar.

Desde 2016, quando a ABRAMEDE se tornou a representante oficial da especialidade no país, as vagas de residência começaram a se expandir a um número cada vez maior de serviços de emergência.

Antes de ser reconhecida oficialmente, contávamos apenas com duas residências: uma no HPS de Porto Alegre e outra no IJF de Fortaleza, ambos ainda referências na área.

Hoje, temos 27 programas de residência em Medicina de Emergência distribuídos pelo Brasil e credenciados pela ABRAMEDE, contabilizando 133 vagas anuais.

O que é a Medicina de Emergência? 

A Medicina de Emergência é a especialidade que foca no atendimento precoce do paciente – muitas vezes indiferenciado – que se encontra em situação de risco imediato à vida.

O emergencista é responsável pelo manejo da situação inicial e estabilização do paciente, até que cuidados mais avançados, caso necessários, possam ser iniciados.

Uma frase bastante popular entre os emergencistas é: “a Medicina de Emergência foca nos 15 primeiros minutos de todas as especialidades”.

Qual é a diferença entre urgência e emergência?

Se definirmos em termos simples, a emergência é “mais perigosa” que a urgência.

Dentro do contexto de assistência médica, segundo o CFM, uma urgência é qualquer ocorrência imprevista que leva ao agravo da saúde, com ou sem risco potencial à vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata.

A emergência, por sua vez – também segundo a definição do CFM, uma vez que esses termos podem ser intercambiáveis em diversos outros contextos –, é a constatação médica de agravo à saúde que implica em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo assistência médica imediata.

Por exemplo: o rompimento de um aneurisma aórtico é uma emergência, enquanto uma luxação no ombro pode ser considerada uma urgência.

Como é a rotina de um médico emergencista?

Durante a residência médica, ele passará três anos fazendo rotações em diversos centros de treinamento. Sempre em regime de plantão, o emergencista atuará em:

  • Unidades de Pronto Atendimento (UPAs);
  • Serviços de emergência de alta e baixa complexidade (pronto socorro, emergência geral, pediátrica, ortopédica, ginecológica e obstétrica, neurológica, cardiológica, oftalmológica, cardiológica etc.);
  • SAMU;
  • UTIs;
  • Centros de trauma (emergência, terapia intensiva e enfermaria);
  • Anestesiologia (procedimentos anestésicos, centros cirúrgicos e salas de recuperação);
  • CCI (centro de controle de intoxicações);
  • Unidade de vítimas expostas a queimaduras.

Quais as áreas de atuação dentro da Medicina de Emergência? 

O profissional da Medicina de Emergência poderá trabalhar em qualquer instalação médica que possua suporte para o atendimento de emergência, tanto intra quanto extra-hospitalar.

Esses locais incluem o pronto-socorro de hospitais de grande ou médio porte, as Unidades de Pronto Atendimento, centros de trauma etc. O emergencista pode ser autônomo ou se vincular a instituições específicas.

Como está o mercado de trabalho para a Medicina de Emergência?

A especialidade Medicina de Emergência, apesar de já existir “informalmente” – com especialização, mas sem reconhecimento pelo CFM – há cerca de duas décadas no país, só foi oficializada em 2016.

Portanto, dados a respeito do mercado ainda são escassos, pois temos poucos profissionais na área.

É um mercado que está começando a ser explorado, mas, com o aumento de vagas de residência e grande procura atual por parte dos médicos, deve se expandir com rapidez – principalmente nos grandes centros.

Ter um emergencistas especializados nos hospitais gera uma grande economia ao sistema de saúde, seja ele público ou privado.

Um atendimento inicial otimizado pode resultar na redução drástica nos encaminhamentos, internações e pedidos de exames desnecessários.

Nos EUA, país que tem tradição na especialidade, os emergencistas estão na metade superior da pirâmide que avalia as especialidades médicas mais bem pagas, perto dos cirurgiões e ortopedistas.

Quanto ganha um médico emergencista?

Hoje, no Brasil, infelizmente ainda não há uma organização por parte dos emergencistas – devido ao pequeno número de especialistas – para o aumento do salário do plantonista na emergência.

Ou seja, os plantões pagam o mesmo para um emergencista e qualquer outro especialista que dá plantão no local.

Como dito acima, isso é algo que deve mudar nos próximos anos – e que a pandemia ajudou a acelerar. Se seguirmos o modelo dos países desenvolvidos, tanto a carga horária do emergencista deve diminuir (há plantões de 6 e 8h, por exemplo) quanto o salário deve aumentar.

O local onde se trabalha influencia muito no valor do plantão: há cidades remotas que chegam a pagar R$ 2.500,00 – R$ 3.000,00 pelo plantão de 12h, enquanto locais com maior disponibilidade de médicos podem pagar 800 reais ou até menos.

Quais os principais desafios que um médico emergencista enfrentará?

Quais os principais desafios que um médico emergencista enfrentará?

Um emergencista vai trabalhar sempre sob pressão, com a adrenalina a mil; afinal, essa é a descrição de seu trabalho.

Ele atenderá pessoas em risco de vida – e muitas vezes não conseguirá salvá-las, apesar de seus melhores esforços.

Na emergência – seja ela em um hospital, em uma UPA, no SAMU – o lema é AAA: anyone, anything, anytime (qualquer um, qualquer coisa, qualquer momento).

O paciente poderá ser qualquer pessoa, apresentando qualquer patologia e aparecer na emergência a qualquer momento.

Entrando num dos tópicos mais questionados sobre a especialidade, o estilo de vida, é importante ressaltar que o médico precisa entrar nessa especialidade sabendo que vai “viver de plantão”.

Se você não gosta de trabalhar em regime de plantões, esta especialidade não é para você – não existe clínica privada para esta especialidade.

Como se tornar um especialista em Medicina de Emergência?

Para se tornar um emergencista, você precisa cursar 6 anos de medicina e 3 anos de residência em Medicina de Emergência.

Alternativamente, para conquistar o título sem a residência, o médico pode apresentar os pré-requisitos à banca (que geralmente envolvem uma pós-graduação lato sensu e experiência em campo) e prestar a prova da especialidade, que é promovida pela ABRAMEDE. Se for aprovado, retém o título de especialista.

Quais habilidades e competências um médico emergencista deve ter?

O médico emergencista, antes de tudo, deve ser meticuloso, organizado, metódico e saber trabalhar sempre sob pressão e contra o tempo.

Deve ter capacidade de autonomia e liderança, pois não trabalhará sozinho, e sim coordenando uma equipe multidisciplinar.

Deve, também, demonstrar a capacidade de gerenciamento de processos administrativos relacionados aos atendimentos de emergência, tais quais a alocação de recursos materiais e humanos.

Ao longo da residência em Medicina de Emergência, o médico desenvolverá competências como:

  • Intubação traqueal (oral e nasal);
  • Cricotireoidostomia;
  • Acesso vascular central e periférico;
  • Sondagem nasogástrica;
  • Sondagem vesical;
  • Suporte ventilatório (invasivo e não-invasivo);
  • Punção liquórica;
  • Toracocentese, pericardiocentese e paracentese;
  • Drenagem torácica;
  • Instalação de marcapasso transitório;
  • Bloqueio anestésico;
  • Sutura;
  • Avaliação primária de exames imagens em afecções agudas;
  • Iniciação científica.

Dúvidas frequentes (Guia Rápido)

Emergencista é qualquer um que faz plantão na emergência?

Não. Desde 2016, a Medicina de Emergência é uma especialidade médica oficial no Brasil.

Apesar de muitos médicos – em especial recém-formados – darem “plantão de porta”, como costumamos dizer, o médico só é considerado emergencista se cursou uma residência em Medicina de Emergência ou foi aprovado na prova da especialidade após concluir os pré-requisitos para prestá-la.

Emergencista é o “clínico da emergência”?

Não. As habilidades e formações do clínico e do emergencista são diferentes, especialmente no que diz respeito à abordagem inicial ao paciente. 

O emergencista está preparado para estabilizar um paciente instável, muitas vezes em risco de vida, empregando tratamento imediato.

A abordagem do clínico é diferente; ele foca em estabelecer um diagnóstico para seus pacientes, e só depois empregar possíveis tratamentos.

Conclusão

A Medicina de Emergência não é para qualquer um. Se você não gosta de adrenalina, pressão e nem quer trabalhar em regime de plantões, ela não é para você.

No entanto, a ME pode ser extremamente recompensadora. Você não só estará preparado para atender pacientes em situação de emergência de qualquer especialidade, mas saberá fazer isso com o máximo de destreza e confiança possível. 

Você será o “jack of all trades” da medicina, ou seja, um coringa.

Além disso, ainda é um mercado inexplorado, que está começando a crescer agora. Pode ser que, se você gosta da área, entrar agora seja um investimento na sua carreira que renderá frutos muito em breve.

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