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22/4/24

Giardíase: fisiopatologia, fatores de risco, sintomas e como tratar

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Giardíase: fisiopatologia, fatores de risco, sintomas e como tratar

A giardíase é uma das infecções parasitárias intestinais mais comuns em todo o mundo, afetando principalmente áreas com falta de saneamento básico e acesso limitado à água potável, consequentemente sendo mais prevalente nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Vamos entender essa doença que tem como epicentro o nosso país!

O que é a Giardíase?

A giardíase, também conhecida como Lamblíase, é uma doença parasitária intestinal causada pelo protozoário Giardia duodenalis. Este parasita é capaz de infectar humanos e outros mamíferos, sendo uma das principais causas de infecções intestinais em todo o mundo. O seu quadro pode se dar de forma aguda ou crônica, e os sintomas variam de leves a graves. Ademais, está associada à chamada "Diarreia do Viajante", ou seja, quadros diarreicos em pessoas que viajaram  recentemente para locais com focos de águas contaminadas.   

O que causa a Giardíase?

Como dito anteriormente a giardíase é causada por um protozoário Giardia duodenalis, também conhecido como Giardia intestinalis ou Giardia lamblia, tem uma fase de vida bifásica. Existindo como trofozoíto, na forma ativa responsável pela colonização intestinal, e como cisto, na forma resistente, que é eliminada nas fezes e pode sobreviver em ambientes externos por longos períodos, contribuindo para a disseminação da infecção. 

Giardia duodenalis em forma de trofozoíto (A), excizoíto (B) e cisto (C). Fonte: Researchgate
Giardia duodenalis em forma de trofozoíto (A), excizoíto (B) e cisto (C). Fonte: Researchgate

A interação entre Giardia e o hospedeiro, juntamente com fatores como coinfecções e dieta, desempenha um papel significativo na manifestação clínica da doença. A resposta imune, incluindo a produção de IgA, é crucial na proteção contra a infecção, embora o papel de diferentes linfócitos e citocinas ainda esteja sendo compreendido.

Durante a infecção aguda, a Giardia causa danos à mucosa intestinal, disbiose da microbiota e alterações no metabolismo lipídico do hospedeiro, causando sintomas de esteatorreia. Além disso, recentemente estão sendo descobertos os mecanismos moleculares subjacentes à patogênese da giardíase, incluindo o papel de suas proteases cisteína e fatores de virulência.

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Como ocorre a transmissão da giardíase?

Ciclo biológico da Giárdia. Fonte: Centers for Disease Control and Prevention
Ciclo biológico da Giárdia. Fonte: Centers for Disease Control and Prevention

A transmissão da giardíase ocorre principalmente pela ingestão de água ou alimentos contaminados com cistos do parasita, que são a forma infectante. Os cistos podem sobreviver em ambientes externos por longos períodos e são resistentes a condições ambientais adversas, como cloro em baixas concentrações. Ademais, ainda pode ser transmitida de pessoa para pessoa através do contato com fezes infectadas. Isso ocorre em locais com saneamento precário.

Epidemiologia

Estima-se que de 200 a 250 milhões de novos casos ocorrem mundialmente a cada ano, sendo mais prevalente em países em desenvolvimento. De acordo com o Ministério da Saúde, apenas no Brasil, no período de 2017 a 2023 ocorreram 349 admissões hospitalares pela Giardíase, sendo o Pará o estado com maior incidência no nosso país.

Quais os sintomas da giardíase ?

Desde o momento em que o hospedeiro contrai o protozoário até o início dos sintomas costuma-se passar de uma a três semanas, visto que esse é seu tempo de incubação. A maioria dos casos apresentam-se assintomáticos, com a maior prevalência de sintomas na faixa etária pediátrica. Pacientes assintomáticos podem carregar e liberar cistos por seis meses ou mais desde a infecção.

O principal sintoma da condição será a diarreia, seja ela aguda ou crônica. Inicialmente as fezes são aquosas e em grande volume, eventualmente tornando-se mais oleosas e de odor fétido. Outros sintomas incluem dor abdominal, cólicas, perda de peso, flatulência, fadiga, anorexia, náuseas, astenia, entre outros. Esses sintomas costumam ter uma duração de duas a quatro semanas.

Durante o exame físico, busca-se por sinais de perda ponderal significativa, sinais de desidratação, sinais de síndromes disabsortivas (como palidez secundária à anemia), problemas de desenvolvimento em crianças, além de febre, apesar desta última ser rara. Durante a anamnese, é necessário perguntar sobre viagens recentes, condições de saneamento, contato com pessoas infectadas, atividades ao ar livre (como trilha ou nado) e contato com fezes.

Diagnóstico

O diagnóstico definitivo de giardíase é geralmente feito pela identificação de trofozoítos ou cistos de Giardia em amostras de fezes através do exame microscópico. No entanto, devido à excreção irregular de parasitas, um único exame de amostra de fezes pode ter uma sensibilidade de apenas 50% a 75%. 

Os testes de Anticorpo Fluorescente Direto (DFA) e Ensaio Imunoenzimático Ligado a Enzimas (ELISA) são testes diagnósticos padrão quando disponíveis, oferecendo maior sensibilidade e especificidade. O uso de PCR também está sendo empregado, especialmente em países desenvolvidos, detectando genes específicos do parasita mesmo em baixas concentrações em amostras de fezes. 

Em casos de suspeita clínica, mas não detectada em exames de fezes, a aspiração direta do duodeno ou o uso do teste de corda (Enterotest) podem ser considerados. Em casos raros, pode ser necessária uma endoscopia alta com biópsia do duodeno, especialmente para pacientes com sintomas característicos, mas resultados negativos nos testes.

Como tratar?

A terapia antiparasitária para giardíase geralmente não é indicada para pacientes assintomáticos, mas pode ser considerada em situações de possibilidade de transmissão para outros. As opções de fármacos preferidos, com base na eficácia e efeitos colaterais, incluem 5-nitroimidazois (como Tinidazol ou Metronidazol) e a Nitazoxanida.

Opções alternativas incluem: Paromomicina, benzimidazois (como o Albendazol e o Mebendazol), antimaláricos (como a Cloroquina) e a Furazolidona. Nos casos de indivíduos com giardíase refratária, a terapia combinada, como Albendazol mais um 5-nitroimidazol, ou Nitazoxanida com um segundo agente, pode ser eficaz. 

Para pacientes grávidas, o medicamento provado como mais seguro é a Paromomicina. Outras medidas e recomendações gerais durante o tratamento da giardíase incluem: aumento da ingesta de fluidos para prevenir a desidratação, evitar leite e derivados por 2-6 semanas. Isso serve para determinar se os sintomas gastrointestinais indicam falha no tratamento ou intolerância temporária à lactose associada à deficiência de lactase intestinal que ocorre.

Conclusão

A giardíase é uma doença parasitária comum no Brasil e no mundo, sendo conhecida pelas suas repercussões gastrointestinais. Sua disseminação está intimamente associada a baixas condições de saneamento e higiene. Seu diagnóstico é feito pela associação dos achados clínicos com exames laboratoriais, como coproscopia, ELISA e DFA. O tratamento deve ser feito com antiparasitários, assim como medidas de cuidados gerais.

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