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Publicado em
29/9/22

Câncer de endométrio: fatores de risco, sintomas e tratamento

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Câncer de endométrio: fatores de risco, sintomas e tratamento

O câncer de endométrio (CE) é um dos cânceres ginecológicos mais comuns, principalmente em mulheres maiores de 50 anos (na pós-menopausa), ocidentais e da raça branca.  Outros fatores de risco significativos são obesidade, síndrome do ovário policístico (SOP), alimentação rica em gorduras e diabetes mellitus, todos causadores de hiperestrogenismo. Há uma alta taxa de sobrevida nas pacientes com câncer endometrial, cerca de 80%, mas a incidência e mortalidade vem aumentando nas últimas décadas, o que torna seu estudo muito importante.

Definição

O câncer de endométrio é uma neoplasia maligna que ocorre na camada interna (epitelial) do corpo uterino. A maioria dos casos surge a partir de uma hiperplasia endometrial (proliferação anormal de células) após a manifestação de atipias nucleares. Os tipos de câncer endometrial podem ser divididos em estrogênio dependentes e não estrogênio dependentes.

O tipo mais comum é o adenocarcinoma endometrioide, que tem seu crescimento acelerado por estrogênio e possui um bom prognóstico. Outros tipos são o carcinoma seroso papilar e carcinoma de células claras, são tumores que se proliferam muito rapidamente, e não conseguem realizar diferenciação celular. Por essa característica mais agressiva possuem um pior prognóstico.

Fatores de risco

Além dos fatores já citados anteriormente na introdução, temos:

  • Menacme longa (menarca precoce e menopausa tardia);
  • Hipotireoidismo;
  • Antecedente familiar (10% dos casos são de causa hereditária): muito relacionado com a Síndrome de Lynch tipo II;
  • Imunossupressão: quase 100% das mulheres transplantadas renais na pós-menopausa com sangramento uterino possuem um carcinoma endometrial;
  • Nuliparidade;
  • Anovulação crônica.

Um dado interessante é que o tabagismo é um fator protetor contra o câncer endometrial, isso porque ele possui ações anti estrogênicas, mas permanece um fator de risco para todos os outros tipos de câncer. 

Quadro clínico e diagnóstico

Felizmente a clínica do câncer endometrial surge ainda nos primeiros estágios da doença e 95% das mulheres são sintomáticas, assim consegue-se realizar um diagnóstico precoce e tratamento adequado na maioria dos casos.

O principal sinal é a metrorragia (sangramento uterino fora dos ciclos menstruais), que ocorre por haver necrose em certas áreas dos tumores. Em pacientes mais idosas, por conta da estenose cervical, o sangramento pode ficar acumulado no útero, gerando o hematométrio. Também pela necrose tecidual, pode haver o piométrio (acúmulo de pus).

Em toda paciente pós-menopausa com sangramento uterino deve-se investigar câncer de endométrio, mesmo que sejam transitórios ou pouco expressivos. Apenas 10% destas irão apresentar alguma malignidade, pois a maioria dos sangramentos nesse grupo ocorre por atrofia do endométrio. Já nas mulheres pré-menopausa é preciso observar a recorrência do sangramento e o fluxo (mais intenso nos casos de carcinoma), além de suspeitar do diagnóstico nas pacientes com obesidade e SOP, principalmente.

No exame físico normalmente nenhum sinal é encontrado, apenas em casos avançados, com metástases, que se verificam massas abdominais (principalmente fígado e omento), ascite e linfonodos periféricos aumentados. Em pacientes já com o diagnóstico confirmado de câncer endometrial, é preciso realizar uma inspeção cuidadosa e palpação das mamas e fazer o toque vaginal e retal a procura de nódulos suspeitos.

Na colpocitologia pode-se suspeitar a partir do achado de células endometriais no colo uterino mesmo após 10 dias do ciclo menstrual. Esse achado está presente em apenas 30% dos casos de carcinoma endometrial. Além disso, também pode haver glândulas atípicas. O ultrassom endovaginal é uma boa opção para triagem. Ao fazer o exame se forem encontrados achados suspeitos, devemos realizar biópsia guiada por histeroscopia.

Indicações de biópsia:

  • Hematométrio
  • Piométrio
  • Presença de células glandulares atípicas na citologia (AGC)
  • Qualquer sangramento pós-menopausa
  • Espessamento endometrial > 5 mm em pacientes pós-menopausa
  • Sangramento persistente, mesmo em pacientes com espessamento < 5 mm
  • Endométrio hiperecogênico ou heterogêneo no USG
  • Presença de pólipos endometriais

O risco de CE com uma espessura < 5 mm é de 1% no grupo pós-menopausa, enquanto aquele com uma espessura > 5 mm tem o risco aumentado em 20%. Em pacientes pré-menopausa ainda não há consenso quanto ao limite de espessura endometrial, por isso investigamos o carcinoma apenas se houver sinais e sintomas sugestivos. Em pacientes pós-menopausa e em uso de terapia hormonal o valor limite também é diferente, costuma-se utilizar 8 mm.

Estadiamento

O estadiamento é cirúrgico, pois os dados clínicos e exames de imagens estimam a agressividade do tumor erroneamente em mais de 20% dos casos. Ele é estabelecido pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO). Veja a seguir:

Estadiamento da FIGO de carcinoma endometrial
Estágio* Definição
I Confinado ao corpo uterino
IA Limitado ao endométrio ou envolve menos da metade do miométrio
IB Invasão da metade ou mais do miométrio
II Invasão do estroma cervical, mas nenhuma extensão para fora do útero
III Disseminação local e/ou regional do tumor
IIIA Invasão da serosa, dos anexos ou ambos (extensão direta ou metástase)
IIIB Metástases ou propagação direta para a vagina e/ou disseminação para os paramétrios
IIIC Metástases nos linfonodos pélvicos ou para-aórticos ou ambos
IIIC1 Metástases nos linfonodos pélvicos
IIIC2 Metástases linfonodais para-aórticas, com ou sem metástases linfonodais pélvicas
IV Envolvimento da bexiga e/ou mucosa do intestino e/ou metástases à distância
IVA Invasão da bexiga ou da mucosa do intestino, ou ambas
IVB Metástases distantes, incluindo metástases para os linfonodos inguinais, pulmões, fígado ou ossos e doenças intraperitoneais
* Para todos os estádios, exceto o IVB, o grau (G) indica a porcentagem do tumor com um padrão de crescimento sólido não escamoso ou não morular:

G1 < 5%
G2 6-50%
G3: > 50%

A atipia nuclear excessiva para o grau eleva o grau de um tumor de G1 ou G2 em 1. Em adernocarcinomas serosos, de células clara e de células escamosas, graduação nuclear vem antes. Adenorcacinomas com diferenciação escamosa são graduados de acordo com o grau nuclear do componente granular.
Fonte: Manual MSD

Tratamento

O tratamento primário é com histerectomia total, associado a salpingo-ooforectomia bilateral, ressecção de linfonodos próximos. O cirurgião também deve procurar possíveis metástases abdominais. A remoção do omento infracólico preventivamente deve ser feita nos casos que o câncer endometrial não for do tipo adenocarcinoma endometrioide. 

A quimioterapia e a radioterapia adjuvantes devem ser realizadas em pacientes com estadiamento II do carcinoma endometrióide e emtodos os casos de carcinoma seroso ou de células claras.

Conclusão

O câncer de endométrio é um dos cânceres ginecológicos mais comuns, originado da camada interna do corpo do útero. O principal fator de risco é o hiperestrogenismo e as doenças que o causam. Seu diagnóstico é fácil, pois a apresentação clínica costuma ser ainda no primeiro estágio da doença e 95% das pacientes são sintomáticas.

Por esse motivo, consegue-se realizar um tratamento oportuno e adequado. O estadiamento é apenas cirúrgico, pois o clínico não consegue fornecer dados suficientes. Para o tratamento é necessária a cirurgia para retirada do útero, assim como dos ovários, anexos e linfonodos próximos

Leia mais: 

FONTES:

  • Harrison
  • Endometrial cancer Frederic Amant; Lancet 2005; 366: 491–505 Department of Obstetrics and Gynaecology, Division of Gynaecological Oncology
  • Emedicine 
  • Msdmanuals