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Publicado em
18/7/22

Alopecia: quais são seus tipos e como tratar

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Alopecia: quais são seus tipos e como tratar

A alopecia é considerada a perda capilar, seja no couro cabeludo ou em outras partes do corpo. 

Os pelos não exercem função vital para o ser humano, mas possuem importante papel estético, e essa condição pode influenciar psicologicamente os indivíduos.

Existem diversos tipos, que podem ser classificados em dois grandes grupos, não cicatriciais (não permanentes) e cicatriciais.

Existe também a divisão entre as alopecias difusas ou circunscritas. 

Cada vez mais as técnicas diagnósticas de doenças pilares estão sendo apuradas e novas terapias para cada tipo de alopecia estão surgindo no mercado.

Como é feito o diagnóstico?

O exame físico é a etapa mais importante para se obter o diagnóstico, podendo ter auxílio da tricoscopia (lupa que pode ampliar em até 200 vezes) para melhor inspeção.

A histopatologia pode ser necessária em casos complexos de alopecia não cicatricial e cicatricial. Para isso, deve-se colher material para biópsia, um “punch” de 4mm.

Quais são as principais alopecias?

Alopecias não cicatriciais

Alopecia androgenética (AAG)

Alopecia androgenética masculina. Fonte: Dermatologia Azulay, 6ª edição
Alopecia androgenética masculina. Fonte: Dermatologia Azulay, 6ª edição

A alopecia androgenética é a “calvície” comum. É uma patologia hereditária, mas que varia de acordo com o sexo, a etnia e a idade.

Ela surge a partir de hormônios androgênicos, especialmente a Di-hidrotestosterona (DHT), um produto da testosterona, quando esta é clivada pela enzima 5-alfa-redutase tipo 2

Por causa disso, a inibição dessa enzima impede a progressão da AAG. Para mais, estima-se que 80% dos homens irão desenvolvê-la até os 70 anos.

Características Clínicas

Nos homens a perda capilar costuma ser simétrica e em regiões temporais, vértix e frontoparietais

Alguns podem ter prurido, dor e alteração da sensibilidade. Com o tempo, a "calvície" comum segue um padrão, descrito na escala de Hamilton-Norwood.

Escala de Hamilton-Norwood. Fonte: Blog André Giannini
Escala de Hamilton-Norwood. Fonte: Blog André Giannini

 Nas mulheres costuma haver preservação dos pelos na região frontal e há redução pilosa de forma mais difusa na região superior do couro cabeludo. 

Alopecia Androgenética Feminina. Fonte: Dermatologia Azulay, 6ª edição
Alopecia Androgenética Feminina. Fonte: Dermatologia Azulay, 6ª edição

Pode aparecer na menopausa ou em idades mais avançadas e a sua classificação pode ocorrer pela escala de Ludwig.

Escala de Ludwig. Fonte: Dermatologia Azulay, 6ª edição
Escala de Ludwig. Fonte: Dermatologia Azulay, 6ª edição
Como funciona o diagnóstico?

A história clínica e exame físico são suficientes para realizar o diagnóstico. Na tricoscopia visualiza-se a miniaturização dos fios e redução da pigmentação nos locais da alopecia

O tricograma (exame microscópico com uma amostra de 50 fios) pode ser solicitado em casos de difícil diferenciação entre a AAG, alopecia areata e outros tipos.

Tratamento

O tratamento pode ser tópico, sistêmico ou cirúrgico. A solução de Minoxidil é muito utilizada e obtém resultados em 3 meses com o uso da solução  duas vezes ao dia. Para que o efeito continue, é necessária a manutenção do uso.

A terapia sistêmica é com a finasterida (inibidor da 5-alfa-redutase tipo 2), mas é mais recomendada para homens. 

Em mulheres, prefere-se a terapia tópica por alcançar resultados mais uniformes no couro cabeludo.

O tratamento cirúrgico com microimplantes capilares é uma opção permanente e que traz aos pacientes uma melhor autoestima.

Futuramente pode haver também tratamento com aplicação de células tronco no couro cabeludo, trazendo ótimos resultados permanentes.

Alopecia Areata (AA)

A alopecia areata está em 0,1% da população e possui origem autoimune

Ela possui forte impacto na autoestima dos pacientes, já que possui efeito profundo na aparência e tem caráter recidivante.

Ocorre devido a presença de infiltrado linfocitário no bulbo do folículo piloso. As células-tronco permanecem viáveis apesar da existência do infiltrado inflamatório.

Características clínicas

Geralmente a perda do cabelo é em placas ovais ou circulares, com poucos fios nas margens das placas (pelos em “ponto de exclamação” – possuem maior largura na parte distal). 

A alopecia areata difusa é uma forma rara e acomete todo couro cabeludo, trazendo mais prejuízos estéticos. Apesar de ser incomum, pode haver melhora espontânea nos locais das placas.

A alopecia areata provoca a perda de cabelo em placas ovais ou circulares . Fonte: Pfizer
A alopecia areata provoca a perda de cabelo em placas ovais ou circulares . Fonte: Pfizer
Como funciona o diagnóstico?

O diagnóstico é feito com exame físico, incluindo tricoscopia. Em alguns casos, para diferenciar de outras afecções pilosas, pode ser necessária a biópsia e histopatologia.

Tratamento

O tratamento é feito com uma combinação terapêutica. Uso de Minoxidil tópico, corticosteroides tópicos e injeções intradérmicas de corticosteroides (que devem ser repetidas a cada 1-2 meses). 

Alopecia pós-operatória

Essa forma de perda capilar ocorre por aplicação de pressão no couro cabeludo por um grande intervalo de tempo, como é verificado em pacientes que passam por procedimentos cirúrgicos longos e a cabeça pressionada contra a mesa cirúrgica.

Pode ser encontrado edema e eritema também na região afetada (geralmente occipital).

Após poucas semanas, a pilosidade costuma retornar, apesar de haver alguns casos de alopecia pós-operatória cicatricial (permanente).

Alopecia por tração

Ocorre devido a hábitos de prender o cabelo, uso repetitivo de energia térmica (alisar o cabelo com secador e chapinhas), uso de apliques e megahair

Ela acomete mais crianças (pela fragilidade do fio) e mulheres pretas.

A tração no cabelo induz a inflamação do folículo (foliculite), fazendo com que a lesão aguda apresente pústulas.

É necessário que a paciente evite ou diminua esses hábitos para que esse quadro não se torne irreversível.

A alopecia por tração acomete mais crianças e mulheres pretas. Fonte: Dermatologia Bolognia, 3ª edição.

Alopecia psoriasiforme

Ela surge no contexto da psoríase, e na maioria dos casos é circunferencial (75%), mas também pode ser difusa.

A perda do cabelo é geralmente em tufos que estão aderidos às placas psoriáticas espessas no couro cabeludo.

Apenas em raros casos a alopecia psoriasiforme será cicatricial (permanente), mas pode ocorrer quando seu acometimento for prolongado.

Psoríase capilar. Fonte: Jailson Gaby 
Psoríase capilar. Fonte: Jailson Gaby 

Alopecias Cicatriciais

Cicatricial significa que o epitélio que dá origem ao folículo foi substituído por tecido conjuntivo. Assim, não haverá desenvolvimento de novo fio de cabelo neste local.

Alguns casos demonstram um padrão bifásico, em que a alopecia não cicatricial é vista no curso inicial da doença e a alopecia permanente se torna aparente nos estágios tardios. Exemplos são a AAG, além do tipo areata e por tração.

Alopecia Centrífuga Central (ACCC)

Também chamada de foliculite decalvante ou alopecia por “pente quente”, possui um espectro variado de intensidade e inflamação folicular.

A ACCC é a responsável por mais casos de alopecia cicatricial do que todos os outros tipos combinados. 

É mais comum na população negra, mulheres e geralmente os indivíduos possuem doenças crônicas.

A patogênese está frequentemente relacionada ao uso de relaxantes capilares químicos para alisamento.

Características clínicas

A localização é predominantemente no vértex, expandindo de forma gradual e centrífuga. 

Acompanhado da perda capilar, os pacientes sentem mudança na sensibilidade local e leve prurido. Na borda da lesão, encontra-se inflamação.

Em uma minoria de pacientes ocorre a foliculite decalvante, com aparecimento de pústulas e crostas, manifestações de infecções bacterianas secundárias.

Como funciona o diagnóstico?

O diagnóstico deve ser feito com biópsia e deve-se coletar uma amostra da borda da lesão, onde há tecido inflamatório e área com menos alopécia.

Tratamento

O tratamento é feito durante muitos anos, com a combinação de tetraciclina oral e corticosteroides tópicos de alta potência (clobetasol ou fluocinonida).

Apesar de não levar a cura, o uso dos medicamentos evita a progressão da doença.

Para casos com foliculite decalvante, é necessário o uso inicial de rifampicina e clindamicina. 

Alopecia por Lúpus Eritematoso Discoide

Lesões discoides de lúpus. Fonte: Dermatologia Bolognia, 3ª edição
Lesões discoides de lúpus. Fonte: Dermatologia Bolognia, 3ª edição

O lúpus eritematoso discoide é uma forma de lúpus eritematoso cutâneo (maioria dos casos) ou sistêmico. 

Apenas uma pequena parcela destes pacientes com lesões discoides no couro cabeludo irá desenvolver a forma sistêmica do lúpus.

Características Clínicas

Além da alopecia, visualiza-se eritema, atrofia dérmica, óstios foliculares dilatados. Prurido e hipersensibilidade local são comuns. 

Para mais, em pacientes negros pode haver hipopigmentação central.

Como funciona o diagnóstico?

Requer avaliação histopatológica, necessário biopsiar o couro cabeludo do paciente.

Tratamento

As lesões discoides geralmente respondem ao uso de corticosteroides e hidroxicloroquina

Se for tratado precocemente, há grande chance de ocorrer novo nascimento capilar em região anteriormente lesada.

Conclusão

Há diversos tipos de alopecias existentes, alguns com mais intensidade que outros. 

Para diferenciar o tipo pode-se utilizar como auxílio diagnóstico a tricoscopia (dermatoscópio), mas algumas classificações exigem biópsia para confirmação.

O tratamento para cada uma das formas da doença é individual, e muitas vezes é necessário controle crônico da doença.

Leia mais:

FONTE:

  • Dermatologia Bolognia – 3ª edição, 2015
  • Dermatologia Azulay – 6ª edição, 2013