Estudo
Publicado em
10/8/20

Escore Apgar e risco de morte neonatal em pré-termos

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Escore Apgar e risco de morte neonatal em pré-termos

Simplicidade e confiabilidade garantiram sua grande difusão na prática clínica neonatal, gerando sua popularização até os dias atuais. Estamos falando do Escore Apgar. Criado em meados de 1950 pela médica anestesista Virginia Apgar tem sido, desde então, um dos métodos mais utilizados para avaliação imediata do recém-nascido.

O escore consiste em cinco critérios (Tabela 1) que são avaliados no primeiro e no quinto minuto de vida do recém-nascido, variando de zero a dois pontos cada. Tem como principal objetivo orientar o médico na escolha de medidas a serem tomadas, quando necessárias, no entanto não deve ser utilizado para definir necessidade de reanimação neonatal.

Escore Apgar

Tabela 1 - Escore Apgar
Tabela 1 - Escore Apgar

A mortalidade neonatal, aquela que ocorre até 28 dias de vida do recém-nascido, é um indicador de saúde materno-infantil que reflete tanto as condições de saúde, proporcionadas por fatores socioeconômicos, quanto a qualidade da assistência prestada pela equipe de saúde. A frequência de baixa pontuação no Escore Apgar.

Publicado em julho de 2020 na revista científica New England, com base no Registro de Nascimento da Suécia, um estudo foi realizado consistindo na coleta de dados de 1992 a 2016 acerca das condições do nascimento no país. Foram selecionando 113.300 recém-nascidos pré-termos (entre 22 semanas a 36 semanas e 6 dias), que posteriormente foram estratificados de acordo com a idade gestacional em semanas (22-24, 25-27, 28-31, 32-34, 35-36), e tentado estabelecer relações entre as pontuações obtidas no Escore Apgar e os desfechos clínicos de tais pacientes.

Resultados

Foi percebido que a mortalidade neonatal cresceu quando o escore do décimo minuto regrediu em comparação ao do quinto minuto (na Suécia é comum avaliar Escore Apgar no décimo minuto, além do primeiro e do quinto, como no Brasil). A prevalência de baixo escore no quinto minuto foi associada à hipertensão gestacional, ao descolamento de placenta, ao parto cesariano e à recém-nascidos abaixo do percentil 10.

Quando analisados os dados de recém-nascidos dentro de uma mesma faixa de estratificação, foi percebido que menores pontuações Apgar se correlacionaram com maiores índices de mortes neonatais dentro do grupo, sendo ainda mais perceptível quando analisados grupos com maiores idades gestacionais.

Por exemplo, no grupo de recém-nascidos entre 22-24 semanas, aqueles com o Escore Apgar zero ou um tiveram um risco relativo de morte neonatal quase cinco vezes maior que os recém-nascidos do mesmo grupo que pontuaram nove ou dez. Tal relação se mostrou ainda mais perceptível quando analisado o grupo de recém-nascidos entre 35-36 semanas. Nesse, o risco relativo de morte foi 300 vezes maior nos pacientes que obtiveram baixa pontuação.

Vários componentes podem alterar a pontuação do Escore Apgar. Consequentemente, tem sido aventada a possibilidade da baixa pontuação no escore refletir, na verdade, fatores biológicos da imaturidade em prematuros, ao invés de depressão respiratória. No entanto, também é possível que baixas pontuações, quando comparadas à média de uma mesma faixa de idade gestacional, possam refletir a vulnerabilidade causada pela imaturidade fisiológica do recém-nascido.

Conclusão

Apesar do estudo conter métodos e parâmetros que não são comuns no contexto brasileiro, como correto registro de informações acerca do parto e avaliação do Escore Apgar no décimo minuto, além das melhores condições de assistência no pré-natal, é possível inferir que novas informações acerca do escore estão sendo aventadas, podendo servir, futuramente, para uma melhor avaliação dos neonatos e possivelmente fornecer uma assistência de melhor qualidade pelas equipes de saúde no Brasil às gestantes e aos recém-nascidos.

Quer se aprofundar mais no assunto? Veja o estudo completo

FONTES:

  • Cnattingius, S., Johansson, S., & Razaz, N. (2020). Apgar Score and Risk of Neonatal Death among Preterm Infants. New England Journal of Medicine, 383(1), 49–57
  • Medlock S, Ravelli AC, Tamminga P, Mol BW, Abu-Hanna A. Prediction of mortality in very premature infants: a systematic review of prediction models. PLoS One 2011;6(9):e23441.
  • Apgar V. A proposal for a new method of evaluation of the newborn infant. Curr Res Anesth Analg 1953;32:260-7
  • Drage JS, Kennedy C, Schwarz BK. The Apgar score as an index of neonatal mortality: a report from the Collaborative Study of Cerebral Palsy. Obstet Gynecol 1964;24:222-30
  • Iliodromiti S, Mackay DF, Smith GCS, Pell JP, Nelson SM. Apgar score and the risk of cause-specific infant mortality: a population-based cohort study. Lancet 2014;384:1749-55
  • Razaz N, Cnattingius S, Joseph KS. Association between Apgar scores of 7 to 9 and neonatal mortality and morbidity: population based cohort study of term infants in Sweden. BMJ 2019;365:l1656.