Durante a abertura do primeiro dia do Congresso Brasileiro de Cardiologia, foi oficialmente apresentada e publicada a nova diretriz de hipertensão arterial sistêmica (HAS), representando um marco importante na atualização do manejo dessa condição.
O documento traz mudanças significativas, baseadas em evidências recentes, que impactam diretamente a avaliação, prevenção, diagnóstico, estratificação de risco e tratamento de pacientes hipertensos. A seguir, destacamos os principais pontos e recomendações que toda equipe de saúde deve conhecer para otimizar a prática clínica.”
Fatores de risco e prevenção
Além dos fatores clássicos como idade, sexo, predisposição genética, consumo de álcool, excesso de sódio, obesidade e sedentarismo, a diretriz enfatiza fatores emergentes que também contribuem para a HAS, incluindo alterações psicossociais, urbanização, poluição, mudanças ambientais e distúrbios do sono.
A prevenção envolve a intervenção sobre fatores de risco modificáveis, de forma individualizada e centrada no paciente. As recomendações incluem estimular atividade física, alimentação balanceada, controle de peso, melhora da qualidade do sono, moderação no uso de álcool, manejo do estresse e promoção de relações sociais positivas.
O que ela fala sobre o diagnóstico?
O diagnóstico deve ser realizado com aparelhos automáticos, mantendo os valores de consultório de ≥ 140/90 mmHg para hipertensão. Valores entre 120-139 mmHg de PAS e/ou 80-89 mmHg de PAD correspondem à pré-hipertensão, e PAS < 120 e PAD < 80 mmHg indicam pressão normal.
A classificação de HAS é feita em três estágios:
- Estágio 1: PAS 140-159 e/ou PAD 90-99 mmHg
- Estágio 2: PAS 160-179 e/ou PAD 100-109 mmHg
- Estágio 3: PAS ≥ 180 e/ou PAD ≥ 110 mmHg
O diagnóstico deve ser confirmado em pelo menos duas consultas com intervalos de dias a semanas ou por meio de MAPA ou MRPA. Em casos com lesão de órgão-alvo ou doença cardiovascular, o diagnóstico pode ser feito de imediato.
Estratificação de risco e tratamento
É importante classificar o risco cardiovascular do paciente para intervenções precoces. Pacientes com doenças cardiovasculares, diabetes, doença renal crônica, hipercolesterolemia familiar ou lesão de órgão-alvo já são considerados de alto risco. Os demais devem ser avaliados com o escore PREVENT.
- Medidas não medicamentosas: indicadas desde o diagnóstico, incluem controle de peso, dieta com menor sódio e maior potássio, atividade física regular, redução de álcool, cessação do tabagismo e controle do estresse.
- Tratamento medicamentoso: indicado para PA ≥ 140/90 mmHg, e também para PA 130-139/80-89 mmHg em pacientes com alto risco cardiovascular quando não há resposta às medidas não farmacológicas.
- Idosos (≥ 60 anos): tratamento medicamentoso a partir de PAS ≥ 140 mmHg, com cuidados individuais.
- Meta de PA: 130/80 mmHg para todos, independentemente da idade ou risco, sem limite inferior absoluto.
- Início de terapias: monoterapia ou terapia combinada, avançando para terapia tripla se necessário. As classes preferenciais incluem IECA/BRA, bloqueadores de canais de cálcio e diuréticos, com inclusão de betabloqueadores quando indicado. Espironolactona ou eplerenona podem ser usadas como quarta droga.
Crise hipertensiva
O termo urgência hipertensiva foi substituído: elevação importante da PA sem lesão progressiva de órgãos-alvo deve ser reavaliada em até 7 dias. Emergência hipertensiva continua a indicar lesão aguda de órgãos-alvo, necessitando internação e redução controlada da pressão com medicações endovenosas.
Tipos de hipertensão
A classificação depende do número de medicações em uso e controle da PA. Pacientes com hipertensão resistente respondem melhor a IECA/BRA, diuréticos tiazídicos e espironolactona, enquanto os refratários podem necessitar de simpatolíticos, betabloqueadores e alfa-bloqueadores. MAPA e MRPA ajudam a excluir pseudorresistência.
A nova diretriz de HAS representa um avanço significativo na prática clínica, oferecendo orientações atualizadas sobre diagnóstico, estratificação de risco, prevenção e tratamento. A incorporação dessas recomendações permite manejar melhor os pacientes hipertensos, reduzir complicações cardiovasculares e otimizar os resultados clínicos, reforçando a importância de uma abordagem individualizada, baseada em evidências e centrada no paciente.
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