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14/2/23

Infecção por rotavírus: transmissão, sintomas e prevenção

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Infecção por rotavírus: transmissão, sintomas e prevenção

A infecção por rotavírus é uma das principais causas de doença diarreica aguda, principalmente em crianças menores de 5 anos de idade. Também chamada de rotavirose, no geral causa um quadro leve e autolimitado, mas, se não tratado, pode evoluir com complicações e quadros graves. Causam, aproximadamente, 11 milhões de episódios por ano.

Neste post iremos abordar a infecção por rotavírus, seu quadro clínico, como manejar e a prevenção.

O que é a infecção por rotavírus?

O rotavírus é um vírus de RNA da família Reoviridae, do gênero Rotavirus. No ser humano, causa uma infecção caracterizada por um quadro de gastroenterite, com diarreia aguda. Geralmente, esse quadro é autolimitado, sendo mais prevalente em crianças menores de 5 anos. Recém-nascidos, provavelmente devido a anticorpos maternos, não costumam ter quadros graves.

A transmissão do rotavírus ocorre pela via fecal-oral, seja por contato com pessoa infectada, objeto contaminado, por ingestão de água ou alimento contaminado. Além disso, o vírus é presente em grande quantidade nas fezes das crianças infectadas

Fisiopatologia

Os rotavírus são classificados em 7 grupos de A a G. Dentre esses, apenas os grupos A, B e C infectam o homem, sendo o tipo A o mais comumente associado. Em cada grupo, ainda, existem diferentes sorotipos, já são conhecidos cerca de 14 sorotipos G (glicoproteína) e 9 sorotipos P (sensíveis a protease). Dentre estes, 5 sorotipos são os mais comuns no planeta, são eles: G1P8, G2P4, G3P8, G4P8 e G9P8.

Ao entrar em contato com o patógeno, a incubação ocorre em cerca de 2 dias. O principal sítio de replicação é o intestino delgado, principalmente nas células epiteliais do jejuno. A extensa lesão do epitélio desencadeia um fenômeno de má-absorção, gerando uma diarreia osmótica. Quanto à transmissibilidade, a excreção viral máxima ocorre no terceiro e quarto dia de sintomas.

Sinais e sintomas da infecção por rotavírus

Os sinais e sintomas clássicos da rotavirose, principalmente entre os 6 meses a 2 anos de idade, são vômitos repentinos, diarreia aquosa e febre alta. Nas fases mais graves, pode gerar quadro de desidratação, febre e até mesmo levar ao óbito.

A diarreia é a principal manifestação. É de aspecto aquoso, as fezes são amareladas, geralmente sem muco. A quantidade de evacuações diárias varia de 8 para mais.

Como funciona o diagnóstico?

O diagnóstico do rotavírus é feito a partir da coleta de amostra de fezes, em torno de 5 a 10 ml, sendo armazenada em pote e levado a laboratório. Testes de imunoensaios (ELISA), teste de látex e eletroforese são técnicas utilizadas e de fácil acesso no diagnóstico. Os melhores dias para realização do diagnóstico é de até 4 dias após início de sintomas.

Para diagnóstico diferencial, como parasitoses intestinais e infecções como salmonelose ou outras infecções bacterianas, também são coletadas amostras para análise bacteriológica e parasitológica.

Formas de tratamento para infecção por rotavírus

Como a infecção por rotavírus normalmente é autolimitada, o paciente é tratado apenas com suporte, por meio da reposição de líquidos e minerais, para prevenir ou corrigir desidratação causada pela diarreia. Além disso, é feito um manejo nutricional. Antidiarreicos, antimicrobianos e antieméticos não são recomendados.

Para a desidratação, o Ministério da Saúde criou um plano de abordagem, de acordo com a gravidade, dividido em plano A, B e C. Para avaliação do estado de hidratação, pode ser utilizada a tabela abaixo:

A B C
Condição Bem alerta Irritado, intranquilo Comatoso, hipotônico
Olhos Normais Fundos Muito fundos
Lágrimas Presentes Ausentes Ausentes
Boca e língua Úmidas Secas Muito secas
Sede Bebe normalmente Sedento, bebe rápido e avidamente Bebe mal ou não é capaz de beber
Sinal da prega Desaparece rapidamente Desaparece lentamente Desaparece muito lentamente (mais de 2 segundos)
Pulso Cheio Rápido, débil Débil ou ausente
Enchimento capilar Normal (até 3s) Prejudicado (3 a 5s) Muito prejudicado (mais de 5s)
Conclusão Não tem desidratação Se apresentar 2 ou mais dos sinais descritos, existe desidratação Se apresentar 2 ou mais dos sinais descritos, existe desidratação grave
Tratamento Plano ATratamento domiciliar Plano BTerapia de reidratação oral no serviço de saúde Plano CTerapia de reidratação parental
Avaliação do estado de hidratação para crianças com doença diarreica. Fonte: MS

Após estabelecido o diagnóstico e estado de hidratação, deve então ser seguido o plano terapêutico. 

Plano A

Para as crianças sem desidratação, o plano A deve ser aplicado, de tratamento domiciliar. Deve ser oferecido mais líquido que o habitual para prevenir a desidratação, devem ingeridos líquidos caseiros (chá, suco, sopa etc.) após as evacuações, sendo de 50ml a 100ml em menores de 1 ano; de 100 a 200ml em crianças de 1 a 10 anos e a quantidade que o paciente aceitar em maiores de 10 anos.

A alimentação habitual deve ser mantida e é preciso ficar atento aos sinais de alerta ou piora. Os sinais de alerta incluem: piora na diarreia, vômitos repetidos, muita sede, recusa de alimentos, sangue nas fezes, diminuição da diurese. Caso esses sinais apareçam ou não ocorra melhora em 2 dias, deve-se procurar novamente a unidade de saúde. Além disso, recomenda-se a administração de zinco uma vez por dia, por 10 a 14 dias (10mg/dia até 6 meses e 20mg/dia a partir dos 6 meses).

Plano B

O plano B deve ser realizado naqueles com desidratação não grave. É administrado soro de reidratação oral (SRO) sob supervisão médica, com jejum durante o período de terapia (exceção do aleitamento). Inicialmente, administra-se de 20 a 100 ml/kg de SRO durante 2 a 4 horas. 

A quantidade de SRO dependerá da sede do paciente, devendo ser administrado continuamente até que os sinais desapareçam. Avalia-se o indivíduo durante a terapia, se houver melhora segue com plano A. Se não apresentar melhora ou se apresentar piora, deve-se seguir com o plano C.

Plano C

O plano C é para aqueles indivíduos com desidratação grave. Neles, é feita reidratação por via parental, com paciente mantido no serviço de saúde. Primeiro, realiza-se a fase rápida (de expansão), seguida pela fase de manutenção e reposição. Interromper apenas quando o paciente puder ingerir soro de reidratação oral em grande quantidade para se manter hidratado.

Fase rápida (expansão) < 5 anos:
20 ml/kg de SF a cada 30 min.
> 5 anos:
30ml/kg de SF em 30min + 70ml/lg de Ringer Lactato em 2,5h
Fase de manutenção SG 5% + SF na proporção 4:1 + KCl 10% 2ml para cada 100ml
Fase de reposição SG 5% + SF partes iguais (iniciar com 50 ml/kg/dia)
Terapia de reidratação parental recomendada pelo Ministério da Saúde. Fonte: MS

Prevenção

A prevenção da infecção por rotavírus pode ser feita por meio da vacinação e por meio de práticas de higiene e consumo adequado de alimentos, que inclui lavar sempre as mãos antes e depois de utilizar o banheiro, trocar fraldas, manipular alimentos, amamentar e tocar em animais. 

Para prevenir o patógeno também é necessário lavar e desinfetar superfícies e equipamentos, proteger área da cozinha de animais, guardar a água tratada no recipiente adequado, guardar lixo de forma adequada e manter o aleitamento materno.

Vacinação

O esquema de vacinação é a administração da vacina atenuada para rotavírus humano G1P1(8) em crianças menores de 6 meses. São dadas 2 doses por via oral, sendo a primeira aos 2 meses e a segunda aos 4 meses, com intervalo mínimo de 30 dias entre as doses.

Conclusão

A infecção por rotavírus é comum na infância, que leva a um quadro de diarreia aguda, potencialmente fatal se não tratado devidamente. Mais comum em crianças menores de 5 anos, o quadro típico é de diarreia aquosa, febre e vômitos repetidos.

O diagnóstico pode ser feito pelo método ELISA na análise das fezes do paciente e o tratamento é de prevenção e correção de desidratação. Para prevenção da doença, existe a vacina contra o rotavírus, dada em 2 doses via oral em crianças menores de 6 meses de idade.

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