Covid-19
Publicado em
18/3/20

Coronavírus: Estudo de 1099 casos

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Coronavírus: Estudo de 1099 casos

No início de dezembro de 2019, foi identificado o primeiro caso de pneumonia de origem desconhecida em Wuhan, a capital da cidade de Hubei, na China. O patógeno foi identificado como um vírus RNA, betacoronavírus, que foi posteriormente denominado (SARS-CoV-2), Síndrome Respiratória Aguda Grave - Coronavirus2.

A Organização Mundial de Saúde (WHO) declarou a infecção pelo Coronavírus uma emergência de saúde publica internacional. No dia 25 de fevereiro de 2020, um total de 81.109 casos confirmados laboratorialmente foram documentados no mundo.

Diante dessa capacidade de rápida disseminação, um estudo dos casos encontrados na China foi realizado para ajudar a identificar e definir as características clinicas da doença, bem como a estratificação de gravidade dos pacientes em todo mundo.

O estudo

Foram obtidos dados de pacientes com exames laboratoriais positivos para o Coronavírus, hospitalizados ou não, reportados à Comissão Nacional de Saúde chinesa entre 11 de dezembro de 2019 e 29 janeiro de 2020. Caso suspeitos ou não confirmados laboratorialmente segundo critérios da WHO não foram incluídos. Dentre as informações coletadas estavam: a história da exposição, sinais e sintomas clínicos, achados laboratoriais na admissão, exames de imagem (RX e TC de tórax) e todos outros exames que foram necessários durante o cuidado do paciente.

Desfechos primários

  • Admissão em unidade de terapia intensiva (UTI);
  • Uso de ventilação mecânica ou óbito.

Desfechos secundários

  • Taxa de mortalidade e o tempo decorrido entre o início dos sintomas e os desfechos primários;
  • O tempo de incubação foi definido como o intervalo de tempo entre a data do potencial contato/transmissão e a data dos primeiros sintomas.

Resultados

Dos 7736 pacientes com Covid-19 que foram hospitalizados, 1099 entraram no estudo e tiveram seus dados coletados. O período de incubação médio foi de 4 dias.

Febre esteve presente em 43,8% dos pacientes na admissão, porem 88,7% apresentaram esse sintoma durante a hospitalização. O segundo sintoma mais comum foi a tosse (67,8%). Náuseas ou vômitos (5%) e diarreia (3,8%) foram incomuns. Na população geral estudada, pelo menos 23,7% portavam alguma comorbidade associada (HAS ou DPOC).

Na admissão, 926 pacientes foram classificados como não-graves e 173 como casos graves da doença. Idade avançada e presença de comorbidades estavam mais associadas aos casos graves que aos não-graves (38,7% x 21%). Foram realizadas 975 TCs de Tórax na admissão, sendo evidenciadas anormalidades em 86,2% (opacidade em vidro fosco 56,4% e borramento irregular bilateral 51,8%). RX e TC de tórax foram normais em 17,9% dos pacientes com doença leve e em 2,9% dos pacientes graves. Linfocitopenia, definido como linfócitos

Sessenta e sete pacientes evoluíram para os desfechos primários, sendo 5% admitidos em UTI, 2,3% em ventilação mecânica e 1,4% foram a óbito. Entre todos os pacientes, o risco de desenvolver algum desfecho primário foi 3,6%, entretanto, nos pacientes diagnosticados com doença grave, o risco subiu para 20,6%.

Em relação ao tratamento, 58% recebeu antibiótico terapia e 35,8% Oseltamivir, dentre esses a maioria classificados como graves, os quais também foram tratados com corticoides sistêmicos. O tempo médio de hospitalização foi de 12 dias.

Conclusões do trabalho

Durante a fase inicial da infecção, o diagnóstico é um desafio, diante da diversidade de sinais, sintomas e achados de imagem que são inespecíficos, além da gravidade da apresentação bastante variável. O comprometimento das vias aéreas na admissão, como insuficiência respiratória, é associado a pior prognóstico, além de comorbidades como hipertensão e DPOC.

Pacientes afebris podem ser sub-diagnosticados se a definição de caso suspeito necessariamente englobar febre. Linfocitopenia, às vezes grave, também pode ajudar no diagnóstico. Exame de imagem de tórax normal, não exclui a doença. Neste estudo, a taxa de mortalidade foi mais baixa que outros estudos, 1,4%, porém temos que levar em consideração os vieses e os critérios de inclusão, além do número de pacientes incluídos com comorbidades que favoreçam desfechos ruins.

A taxa de mortalidade desse vírus aumenta se pensarmos nos pacientes que, por qualquer motivo, não recebam cuidados médicos de suporte iniciais.

Diante dessa pandemia, você está preparado para reconhecer um caso suspeito? E na prova da residência médica, preparado para acertar qualquer questão sobre Coronavírus?

FONTE:

  • W.Guan,Z, at.AL. Clinical Characteristics os Coronavirus Disease 2019 in China. N ENGL J MED, February 28,2020.