AMAF, 5 anos, chegou na emergência do hospital que você trabalha apresentando dor abdominal intensa na região periumbilical. A mãe refere que a filha teve náuseas, vômitos e tosse seca não produtiva. No exame físico, você nota uma grande distensão abdominal. Paciente febril, normocorada, hidratada, eupneica, acianótica. Você solicitou um hemograma que mostrou eosinofilia de 43%. Além disso, pediu um RX de abdome:

Qual a principal suspeita diagnóstica dessa paciente? Neste artigo, você vai entender a fisiopatologia dessa doença, tão comum no nosso meio, e como algo (relativamente) tão simples de ser evitado pode levar pacientes jovens para uma cirurgia de emergência. Não perca!!!
O que é a ascaridíase?
A ascaridíase é causada pela Ascaris lumbricoides, um verme nematelminto. Também pode ser classificada como geo-helminto, porque a contaminação se dá através do contato com a terra, pela ingestão de ovos na água e alimentos contaminados. É uma doença extremamente frequente em países em desenvolvimento (é a infecção por nematelminto mais comum do mundo!) e é quase inexistente em países já desenvolvidos. Estima-se que entre 800 milhões e 1,2 bilhões de pessoas ao redor do mundo tenham essa doença.

Nas infecções por qualquer tipo de verme, incluindo a Ascaris, o paciente normalmente vai ser assintomático ou oligossintomático. Os principais sintomas clínicos vão ser: distensão abdominal, dor abdominal inespecífica, vômitos, má absorção, desnutrição e pneumonite. Sim, pneumonite. Mas o que um verme que parasita o trato gastrointestinal tem a ver com uma inflamação nos pulmões?
As larvas da Ascaris, quando eclodem no trato gastrointestinal (TGI), atravessam as mucosas e penetram na circulação sanguínea. De lá, elas migram em direção aos pulmões, chegando até os alvéolos. Ali, podem causar hemorragias e infiltração de leucócitos, causando a inflamação local. Isso vai caracterizar a Síndrome de Leoffler, em que o paciente vai ter febre, tosse seca, dispneia, sibilos e eosinofilia acentuada. Ao pedir o RX de tórax do paciente com essa síndrome, ele provavelmente viria assim:

Diagnóstico
O diagnóstico definitivo para ascaridíase vai ser dado com exame de fezes ou com o achado das larvas filiformes no escarro da paciente. Ao analisar o hemograma e perceber uma eosinofilia acentuada, já temos que suspeitar que esteja ocorrendo uma infecção por parasitas. Além disso, o Raio-X pode ajudar com a suspeita diagnóstica, ao mostrar obstrução intestinal (como a paciente do caso), com o sinal do “miolo de pão”, que são condensações mais radiopacas dentro das alças intestinais, causadas pelos próprios vermes!
Conclusão
É importante lembrar que a melhor maneira de prevenir a ascaridíase, ademais dos cuidados epidemiológicos de saneamento básico e da educação em saúde, é a profilaxia com o albendazol. Uma dose única desse medicamento, com intervalos de 4, 6 ou 12 meses, vai prevenir não somente a ascaridíase, como também a ancilostomose e a enterobíase, doenças também bastante comuns na nossa realidade.
FONTES:
- Tratado de Pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria, 4ª edição, Barueri, SP: Manole,2017.
- (Loeffler) Syndrome
- Síndrome de Löffler